gastronomia

Sobre experiências extremas


Cada vez mais a produção e o consumo de cervejas especiais têm ganhado espaço 

Na coluna de hoje, escrevo para jogar um pouco de luz sobre algumas cervejas que no meu entendimento muitas vezes são mal entendidas e injustiçadas, as cervejas extremas. E até tenho uma teoria sobre o porquê isso acontece, pois, no meu entendimento, diria que elas têm sido avaliadas "fora de contexto".

Cervejas extremas não são criadas para serem apreciadas como uma cerveja qualquer. Elas requerem, vamos dizer assim, um ritual. Ou, para sermos mais práticos e menos poéticos, requerem preparação. Vou explicar: provei em 2011, em um bar de São Paulo a Samuel Adams Utopias. Haviam conseguido uma das caríssimas e raras garrafas produzidas em Boston, nos Estados Unidos. A dose foi de 75 ml, o valor, na época foi de R$ 75,00, mas valeu cada mililitro. Sem carbonatação, 27% de álcool, ela proporciona uma experiência ímpar, tanto que lembro dela com riqueza de detalhes até hoje. Muito parecida com um destilado, mas exclusivamente fermentada, ela contava com leveduras selecionadas e era envelhecida em barris de carvalho francês. Composta por um blend que inclui cervejas com até 16 anos de envelhecimento. O aroma era complexo, com notas de malte, caramelo, melado, licor de cacau, frutas secas, nozes, amadeirado, chocolate, baunilha, rum e álcool bem destacado. A textura lembrava licor. 


A UTOPIAS É RARA E NADA BARATA, MAS VALE CADA MILILITRO
Mas vamos ao que eu quero dizer com essa minha experiência. Se eu não soubesse do que se tratava, em primeiro lugar dificilmente pagaria o valor, e também não iria valorizar o momento da forma que o fiz. A experiência de experimentar uma cerveja artesanal em geral já requer uma predisposição de quem a bebe, as extremas, muito mais. Cervejas com essa graduação alcoólica e envelhecidas por tanto tempo, precisam ser celebradas.

O exemplo que usei acima é, com o perdão do trocadilho, extremo. Mesmo para as cervejas extremas, as cervejas barrel aged (envelhecidas em barris de madeira) estão cada vez mais fáceis de serem encontradas e o futuro, não tenho dúvidas, a elas pertence. 

DISPUTA EM TERRAS HERMANAS
Participei, junto com mais sete cervejeiros de Santa Maria, do Festival de Cervezas Extremas que aconteceu em Buenos Aires



Festival ocorreu em Buenos aires em maio e reuniu cerca de 250 torneiras de cervejas especiais), no mês de maio passado. Os hermanos organizaram, e muito bem, um evento com aproximadamente 250 torneiras, de mais de 15 países diferentes, focado em cervejas especiais.

Entre as cervejarias brasileiras estava a Heilige, de Santa Cruz do Sul, fazendo bonito com três produtos, envelhecidos dois anos em barris de madeira. Tripel em barril de chardonay, Barley Wine em barril de bourbon e Barley Wine em barril de vinho do porto. Também estavam a Bodebrown, Cozalinda, 3Cariocas, Dum, Dogma e Lohn. A Rare Barrel de Berkley - CA, levou as minhas fichas (literalmente), com sensacionais Wild Ales, entre elas a Blurred SB, uma golden sour, envelhecida em barris de carvalho e com mosto de vinho sauvignon blanc fazendo parte do blend. Aliás, guarde esta marca: Rare Barrel, pois se ainda não ouviu falar dela, e gosta de cerveja, provavelmente vai ouvir (eu diria muito!). Eles "só" produzem cervejas ácidas, envelhecidas em barris de madeira. 

Quem gosta de cervejas especiais ainda deve ouvir falar muito da marca Rare Barrel.

Os nomes das cervejas do festival normalmente envolviam: Wood, Imperial, Wine, Aged, Strong, Wild. Uma experiência sensorial muito distinta, na qual pudemos vivenciar o que muitas cervejarias estão apresentando neste segmento, e o que provavelmente irá invadir o mercado em alguns anos, concorrendo no segmento de bebidas premium. Cerveja extrema faz valer o já conhecido slogam do cervejeiro artesanal: Beba menos, beba melhor!

EM TEMPO - Como prometi na coluna anterior, aqui está o resultado do concurso para cervejeiros caseiros promovido pela Cerva Centro: Best of Show, Ouro para a NEIPA de Juliano Schwantes, Prata para a Imperial Stout de Humberto Pinheiro e Bronze para a IPA de Clairton Oliveira. Saúde!

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