cultura

Playlists X Homo Sapiens



Fui a uma festa comemorativa de intercambistas oriundos da Bolívia, Peru, Colômbia, Costa Rica, Finlândia e, claro, brasileiros...
...a faixa etária entre 18 e 22 anos em média;
a moçada dançava feliz, sedenta por socializar, namorar, fazer amizade;
a comida e bebida eram linguiça, cortes de frango, pão com alho, nada de verduras, catuaba, vodka, refrigerantes, cervejas, chope, tudo simples; 
todos comiam, bebiam e falavam mais de uma língua. 

Eu, mesmo meio bagual do interior, não estranhei tanto idioma, roupa, cor de cabelo, pele, tampouco os rostos diferentes, cada pessoa tinha "a cara do seu país". Mas, o que me espantava era a limitação das mensagens do estilo musical que predominou a atmosfera da festa durante as três horas que parei pra escutar.
Pensei: estamos acostumados a dançar as músicas sem nos darmos conta do teor das letras que assimilamos e reproduzimos, mesmo que sejam metáforas. 

Estou acostumado a sentar na fila do banco, esperar mais de uma hora, lamentando tal descaso em diálogo com aquela "véinha simpática e proseadora" que já nem acredita mais na mudança daquele lugar dizendo:
- É sempre assim, meu filho!

Estamos acostumados a dizer que político é tudo igual, que é melhor o voto nulo... significando nossa falta de envolvimento e provavelmente dando força ao mais burro! 

Estou acostumado a andar de bicicleta no lugar dos carros e me sentir culpado, ou no lugar dos pedestres e me sentir notavelmente invasivo.

Estamos acostumados a pensar que não é problema nosso, quando aquelas pessoinhas de olhos puxados nos racham o coração espichando um punhadinho de rugas infantis a pedir uma moeda.

Estou acostumado a silenciar quando alguma coisa me incomoda, só para não me incomodar.

Estamos acostumados a evitar a fadiga e não ir assistir ao vivo aquele artista que a gente gosta em um show na nossa cidade, só porque a gente já viu todos os clipes dele na internet e acha que sabe como vai ser o espetáculo.

Foto: Eduardo Rocha (Divulgação)
Espectadores do espetáculo "Por um Abraço" de Jairo Lambari Fernandes. 12 de Junho 2012, Theatro Treze de Maio

 Afinal, entre tanto ódio, gente sem noção, gente inteligente, gente espiritualizada, o que mais se vê nesse tribunal do novo milênio, em que os juízes têm usuário e senha, é que estamos de certa forma misturados, parecidos, como estamos nas ruas, nas compras, nos consultórios, no trabalho, entrando em consenso ou banindo coisas que nos desagradam.  

Minha sensação é de que já não estamos mais suportando pensamentos limitados ou atitudes invasivas, principalmente quando trata-se de espaço em comum, arte e entretenimento.

Tomara que também sejamos assim fortes e incisivos na hora de decidir quem serão os políticos que não deverão liderar as "paradas" lá em outubro, esse, sim, deve ser nosso maior dever e responsabilidade social. Quanto aos artistas que não queremos no streaming, é fácil decidir com apenas alguns clicks (ou não clicks); agora, é melhor já ir preparando o repertório para convencer a família e os amigos de fé para que o pior "artista" brasileiro de todos não desfile seus mandamentos no poder, caso contrário quem pagará o pato somos todos nós. 

(mas isso é tema para outra coluna...)

Já que meu lado Homo Sapiens cronista se despede, deixo aqui o pedido de que compartilhe comigo a tua playlist com dez músicas que te identifica como cidadão brasileiro.

Manda a playlist que retribuo com uma do meu gosto. ;)

endereço: [email protected]

Sempre fiquei curioso para saber o que escuta quem nos lê aqui. Vamo?


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