programa faz sentido

Vulnerabilidade é uma força ou uma fraqueza?

Você sabe lidar com os próprios erros e limitações? No último domingo, 20 de fevereiro, a jornalista Fabiana Sparremberger recebeu a psicóloga Suséli Santos, proprietária do Cognitá, Consultório de Psicologia. Inspiradas no livro "A coragem de ser imperfeito", de Brené Brown, elas falaram a respeito das dificuldades que as pessoas têm de assumir e vivenciar as próprias vulnerabilidades.

Fabiana - A expressão "a coragem de ser imperfeito" leva-nos à ousadia de sermos nós mesmos. Fazendo uma conexão com o que lemos no livro, como podemos conceituar vulnerabilidade?

Suséli - Em primeiro lugar, é importante dizer que a vulnerabilidade não é boa nem ruim. Ela está inserida dentro das nossas emoções universais: medo, raiva, alegria, tristeza. Embora a palavra traga a ideia de fragilidade, nem sempre trata-se de um sentimento negativo. A coragem de ser imperfeito significa que ela completa a lacuna entre fraqueza e desafios e as conquistas.

Fabiana - Um aspecto interessante neste contexto é o quanto damos ênfase à cultura da escassez. Por exemplo, no início do programa, já destaquei que não consegui ler todo o livro, mas poderia ter comentado o quanto eu já li dele em pouco tempo. Se li quase tudo, por que foquei no que eu não fiz, no que me faltou?

Suséli - O ser humano tem essa tendência em focar no que ainda não alcançou. "ah, eu não consigo estudar", "ah, eu não concluí toda a tarefa". Então, pergunto o quanto eles já alcançaram nesse processo para que percebam as conquistas.

Fabiana - Em outro exemplo, lembro do meu primeiro erro do jornalismo, quando troquei o nome de duas cidades. Já quanto à primeira reportagem de sucesso, as lembranças são mínimas?

Suséli - Isso ocorre porque a emoção investida no erro é maior. Essa é uma tendência comum. A frustração gerou um sentimento intenso na tua memória naquele momento.

Fabiana - Ficamos com a sensação de "dívida" com os outros quando não concluímos algo?

Suséli - Quando não paramos para elaborar nossos papéis como indivíduos sociais, tudo o que não realizamos é sinal de fraqueza. O segredo é entender que até mesmo o ato de concluir é uma vulnerabilidade.

Fabiana - Não ser vulnerável também é impedir a si mesmo de encontrar a felicidade...

Suséli - Sim, o amor é exemplo disso. Quem garante que, na procura de um relacionamento, seremos sempre correspondidos? Iremos nos decepcionar várias vezes nessa questão. Mesmo assim eu pergunto: quem vive sem o amor?

Fabiana - Mas ninguém quer correr riscos. Queremos controlar tudo. Só que, ao afastarmos o medo e a vergonha, afastamos, também, a alegria e a afetividade. Ao tentar afastar a vulnerabilidade, não iremos colher os frutos bons das tentativas. Seremos eternos fujões?

Suséli - A vulnerabilidade é como um berço para as emoções. Ao participar deste programa de TV, por exemplo, eu estava vulnerável. Isso não é comum para mim, até pensei em desistir. Mesmo assim, decidi me permitir vivenciar o que me dá medo.

Fabiana - É importante destacar que viver com ousadia não tem nada a ver com vitória ou fracasso, como a autora coloca. Há seis meses, eu também estava reticente em apresentar um programa de TV. Aos 25 anos de profissão, será que valeria a pena me arriscar em algo novo? Se tivesse desistido não estaria feliz como agora...

Suséli - Vulnerabilidade é justamente isso. Deixar escapar ou segurar as oportunidades.

Fabiana - Nem sempre a pessoa é corajosa porque enfrenta tudo "de frente". Na verdade, o que domina aqui é o medo do julgamento. Parece que ser resiliente se tornou uma obrigação, e não uma solução...

Suséli - A resiliência é um dos fatores que nos faz ultrapassar a vergonha, mas não adianta ser resiliente por fora e viver em sofrimento por dentro.

Fabiana - E como "olhar para dentro"? No fundo, temos medo, né?

Suséli - Todo mundo tem medo de olhar para dentro, isso é um aspecto a ser considerado também. Mesmo assim, é necessário buscar essa autoconexão.

Fabiana - Existem vários mitos em torno da vulnerabilidade, entre eles, relacioná-la ao conceito de expor a vida para os outros...

Suséli - Geralmente, as pessoas têm medo de apresentar a própria história, o que faz, a profissão e a maneira como trata os filhos, por exemplo. Por isso, a vulnerabilidade deve envolver reciprocidade e confiança. Ou seja, devemos compartilhar a vida com quem conquistou esse direito.

Fabiana - Falar das próprias imperfeições deixa a vida muito mais leve. Isso nos ajuda muito na vida pessoal. Afinal, todos somos seres imperfeitos...

Suséli - No início, parece que não há nada nosso para mostrar. Mas, ao nos entregarmos, aprendemos a gostar do que vemos em nós e ficamos mais fortes.

Fabiana - É bom lembrar que ninguém sabe qual é o parâmetro da perfeição, não é?

Suséli - Alguém tem o manual da perfeição? Qual é o parâmetro? Não existe. Aos olhos da vulnerabilidade, a perfeição humana é ser exatamente autêntico. Você só vai saber quem é quando enfrentar as suas vulnerabilidades. Isso fortalece o nosso lado humano. Precisamos enfrentar a nossa fragilidade como uma emoção positiva.

Fabiana - É como diz aquela expressão "mulheres fortes por serem fracas, e mulheres fracas por serem fortes"...

Suséli - Perfeito. Quantas coisas você já superou? Quantas emoções negativas precisou ultrapassar? Estamos sempre vulneráveis, tanto para situações boas quanto para as ruins. Devemos nos permitir ser vulneráveis.

Fabiana - Outro mito: "vulnerabilidade não é comigo, não para mim". Como se fosse possível driblar esse sentimento...

Suséli - Se você não vive esse sentimento, vive o que então? Com certeza, a ansiedade e o estresse. Ser sempre refém do julgamento das pessoas é não saber quem você é de verdade.

Fabiana - E quanto aqueles que se garantem sozinho? Esse é outro mito?

Suséli - E outro problema. É carregar o mundo nas costas. É achar que faz melhor que os outros. O resultado? Angústia na certa. O misto de errar a acertar significa permitir-se,independentemente do resultado.

Fabiana - Aqui entram, também, a comparação e a motivação?

Suséli - A comparação nos afasta de nós mesmos. Nosso foco passa a ser a quem declaramos mais importantes do que nós. Já a desmotivação está em todos os aspectos da nossa vida. Ao fazer algo sem motivação, a tendência é procrastinar, se acomodar.

Fabiana - Depois de tudo o que conversamos, pergunto: e agora? O que mesmo nos impede de viver a vulnerabilidade?

Suséli - Essa resposta vai depender do quanto as nossas emoções estão fortalecidas ou não.

Fabiana - Então, que cada um de nós aprenda a ouvir o próprio coração e a agradecer?

Suséli - Afinal, somos importantes, independentemente das nossas vulnerabilidades.

omingo, 20 de fevereiro, a jornalista Fabiana Sparremberger recebeu a psicóloga Suséli Santos, proprietária do Cognitá, Consultório de Psicologia. Inspiradas no livro "A coragem de ser imperfeito", de Brené Brown, elas falaram a respeito das dificuldades que as pessoas têm de assumir e vivenciar as próprias vulnerabilidades.

Fabiana - A expressão "a coragem de ser imperfeito" leva-nos à ousadia de sermos nós mesmos. Fazendo uma conexão com o que lemos no livro, como podemos conceituar vulnerabilidade?

Suséli - Em primeiro lugar, é importante dizer que a vulnerabilidade não é boa nem ruim. Ela está inserida dentro das nossas emoções universais: medo, raiva, alegria, tristeza. Embora a palavra traga a ideia de fragilidade, nem sempre trata-se de um sentimento negativo. A coragem de ser imperfeito significa que ela completa a lacuna entre fraqueza e desafios e as conquistas.

Fabiana - Um aspecto interessante neste contexto é o quanto damos ênfase à cultura da escassez. Por exemplo, no início do programa, já destaquei que não consegui ler todo o livro, mas poderia ter comentado o quanto eu já li dele em pouco tempo. Se li quase tudo, por que foquei no que eu não fiz, no que me faltou?

Suséli - O ser humano tem essa tendência em focar no que ainda não alcançou. "ah, eu não consigo estudar", "ah, eu não concluí toda a tarefa". Então, pergunto o quanto eles já alcançaram nesse processo para que percebam as conquistas.

Fabiana - Em outro exemplo, lembro do meu primeiro erro do jornalismo, quando troquei o nome de duas cidades. Já quanto à primeira reportagem de sucesso, as lembranças são mínimas?

Suséli - Isso ocorre porque a emoção investida no erro é maior. Essa é uma tendência comum. A frustração gerou um sentimento intenso na tua memória naquele momento.

Fabiana - Ficamos com a sensação de "dívida" com os outros quando não concluímos algo?

Suséli - Quando não paramos para elaborar nossos papéis como indivíduos sociais, tudo o que não realizamos é sinal de fraqueza. O segredo é entender que até mesmo o ato de concluir é uma vulnerabilidade.

Fabiana - Não ser vulnerável também é impedir a si mesmo de encontrar a felicidade...

Suséli - Sim, o amor é exemplo disso. Quem garante que, na procura de um relacionamento, seremos sempre correspondidos? Iremos nos decepcionar várias vezes nessa questão. Mesmo assim eu pergunto: quem vive sem o amor?

Fabiana - Mas ninguém quer correr riscos. Queremos controlar tudo. Só que, ao afastarmos o medo e a vergonha, afastamos, também, a alegria e a afetividade. Ao tentar afastar a vulnerabilidade, não iremos colher os frutos bons das tentativas. Seremos eternos fujões?

Suséli - A vulnerabilidade é como um berço para as emoções. Ao participar deste programa de TV, por exemplo, eu estava vulnerável. Isso não é comum para mim, até pensei em desistir. Mesmo assim, decidi me permitir vivenciar o que me dá medo.

Fabiana - É importante destacar que viver com ousadia não tem nada a ver com vitória ou fracasso, como a autora coloca. Há seis meses, eu também estava reticente em apresentar um programa de TV. Aos 25 anos de profissão, será que valeria a pena me arriscar em algo novo? Se tivesse desistido não estaria feliz como agora...

Suséli - Vulnerabilidade é justamente isso. Deixar escapar ou segurar as oportunidades.

Fabiana - Nem sempre a pessoa é corajosa porque enfrenta tudo "de frente". Na verdade, o que domina aqui é o medo do julgamento. Parece que ser resiliente se tornou uma obrigação, e não uma solução...

Suséli - A resiliência é um dos fatores que nos faz ultrapassar a vergonha, mas não adianta ser resiliente por fora e viver em sofrimento por dentro.

Fabiana - E como "olhar para dentro"? No fundo, temos medo, né?

Suséli - Todo mundo tem medo de olhar para dentro, isso é um aspecto a ser considerado também. Mesmo assim, é necessário buscar essa autoconexão.

Fabiana - Existem vários mitos em torno da vulnerabilidade, entre eles, relacioná-la ao conceito de expor a vida para os outros...

Suséli - Geralmente, as pessoas têm medo de apresentar a própria história, o que faz, a profissão e a maneira como trata os filhos, por exemplo. Por isso, a vulnerabilidade deve envolver reciprocidade e confiança. Ou seja, devemos compartilhar a vida com quem conquistou esse direito.

Fabiana - Falar das próprias imperfeições deixa a vida muito mais leve. Isso nos ajuda muito na vida pessoal. Afinal, todos somos seres imperfeitos...

Suséli - No início, parece que não há nada nosso para mostrar. Mas, ao nos entregarmos, aprendemos a gostar do que vemos em nós e ficamos mais fortes.

Fabiana - É bom lembrar que ninguém sabe qual é o parâmetro da perfeição, não é?

Suséli - Alguém tem o manual da perfeição? Qual é o parâmetro? Não existe. Aos olhos da vulnerabilidade, a perfeição humana é ser exatamente autêntico. Você só vai saber quem é quando enfrentar as suas vulnerabilidades. Isso fortalece o nosso lado humano. Precisamos enfrentar a nossa fragilidade como uma emoção positiva.

Fabiana - É como diz aquela expressão "mulheres fortes por serem fracas, e mulheres fracas por serem fortes"...

Suséli - Perfeito. Quantas coisas você já superou? Quantas emoções negativas precisou ultrapassar? Estamos sempre vulneráveis, tanto para situações boas quanto para as ruins. Devemos nos permitir ser vulneráveis.

Fabiana - Outro mito: "vulnerabilidade não é comigo, não para mim". Como se fosse possível driblar esse sentimento...

Suséli - Se você não vive esse sentimento, vive o que então? Com certeza, a ansiedade e o estresse. Ser sempre refém do julgamento das pessoas é não saber quem você é de verdade.

Fabiana - E quanto aqueles que se garantem sozinho? Esse é outro mito?

Suséli - E outro problema. É carregar o mundo nas costas. É achar que faz melhor que os outros. O resultado? Angústia na certa. O misto de errar a acertar significa permitir-se,independentemente do resultado.

Fabiana - Aqui entram, também, a comparação e a motivação?

Suséli - A comparação nos afasta de nós mesmos. Nosso foco passa a ser a quem declaramos mais importantes do que nós. Já a desmotivação está em todos os aspectos da nossa vida. Ao fazer algo sem motivação, a tendência é procrastinar, se acomodar.

Fabiana - Depois de tudo o que conversamos, pergunto: e agora? O que mesmo nos impede de viver a vulnerabilidade?

Suséli - Essa resposta vai depender do quanto as nossas emoções estão fortalecidas ou não.

Fabiana - Então, que cada um de nós aprenda a ouvir o próprio coração e a agradecer?

Suséli - Afinal, somos importantes, independentemente das nossas vulnerabilidades.

DEIXA FLUIR
O FAZ SENTIDO FOI ÀS REDES E PERGUNTOU:

Vulnerabilidade é:

  • Fraqueza - 60 votos
  • Medo - 34
  • Coragem - 21
  • Risco de exposição emocional - 160
  • 275 participações

Uma pessoa corajosa:

  • É também vulnerável - 68
  • É resistente o tempo todo - 27
  • Faz o que gosta e se realiza, sem se importar com julgamentos - 146
  • 241 participações

Para você, viver com ousadia é:

  • Fazer tudo o que é certo - 10
  • Fazer tudo o que me traz felicidade - 104
  • Enfrentar meus medos e inseguranças - 151
  • 265 participações

Perfeição é:

  • Estar atento a tudo - 31
  • Ser perfeccionista - 57
  • Errar e acertar - 78
  • Permitir-se - 87
  • 253 participações

Quando você passa vergonha, o que sente?

  • Fico tímido(a) - 69
  • Tenho vontade de sumir - 98
  • Nunca mais quero viver tal situação - 42
  • Me sinto humilhada(o) - 67
  • 276 participações

Para você, autoestima é...

  • Quando eu consigo ver que posso fazer algo sozinho - 143
  • Receber feedback de tudo o que faço - 33
  • Sinto quando sou elogiado com frequência - 40
  • 216 participações

Neste domingo, o Faz Sentido reapresenta o programa "Relacionamentos saudáveis e saúde mental". É às 11h, na rádio CDN e na TV Diário. Não perca!

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