Especialista explica por que o juro do país não pode cair de 10,5% para 6% ao ano no país

Especialista explica por que o juro do país não pode cair de 10,5% para 6% ao ano no país

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Com quase 20 anos de experiência no mercado financeiro, Filipe Portella, um dos sócios fundadores da Corretora Monte Bravo, iniciada em 2010 em Santa Maria, mas que tem hoje mais de 30 mil clientes e R$ 40 bilhões em ativos administrados, alerta para o temor de o Brasil entrar em crise econômica nos próximos anos se houver uma mudança no Banco Central que acabe cedendo a pressões do governo.

​​​​​​+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia

Quanto à polêmica da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, tão criticada pelo presidente Lula, Portella defende a atuação atual do Banco Central e explica o motivo. Ele lembra que o governo federal se financia emitindo títulos do Tesouro, pegando dinheiro emprestado do mercado e pagando por isso. Em uma conta arredondada, a União arrecada aproximadamente R$ 2,5 trilhões por ano, mas pega mais R$ 2,5 trilhões emprestados para bancar os gastos de mais de R$ 5 trilhões. Ou seja, paga muito valor em juros para bancos, fundos de pensão e demais investidores, que compram títulos do Tesouro (ou seja, emprestam ao governo). 

Segundo a Associação dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil, de 2018 a 2020, os juros de dívida ficaram em média em R$ 353 bilhões por ano. Em 2021, por exemplo, quando a Selic começou a subir, o Brasil pagou de juros para rolar a dívida um total R$ 448 bilhões. Já em 2022, com o juro a 13,75%, o gasto do país para bancar esses empréstimos chegou a R$ 586 bilhões. Claro que uma das vantagens da Selic baixar seria pagar menos para pegar dinheiro emprestado do mercado.

– O governo não deveria, mas ele sempre acaba gastando mais do que arrecada. Uns mais do que os outros, mas acabam gastando muito dinheiro. Esse gasto do governo acaba gerando a inflação. A inflação cresce não é porque uma empresa resolveu subir o preço do seu produto, tem muito mais a ver com o quanto de dinheiro que gasta o governo, pois coloca esse dinheiro na população e gera inflação por demanda. Mais consumo, mais inflação. O ciclo econômico tem várias coisas que impactam – lembra Portella.

A partir disso, então, eu perguntei a ele se o Brasil poderia baixar o juro dos atuais 10,5% para 6% por ano por meio de um canetaço, enquanto o dos EUA está com taxa de 5% ao ano – lembrando que no passado, os norte-americanos tinham juros de 0,25% ao ano, mas eles também tiveram de subir para frear a inflação alta nos EUA.

– Essa diferença de juro dos Estados Unidos e do Brasil não pode ser tão pequena porque isso impacta diretamente no preço do dólar. Vamos supor que o Brasil tenha juro de 7%, e os EUA, de 5%, o dólar vai sair desse R$ 5,60 que está hoje e vai ir para R$ 6, R$ 7, R$ 8, porque essa compensação vai acontecer. Não tem como a gente pagar juro como o dos EUA, que é um país muito mais seguro do que o Brasil no mundo. Vai ter de desvalorizar a moeda no Brasil, daí gera inflação. Com a inflação, diminui o desenvolvimento do nosso país, e daí diminui emprego. Na economia, as coisas vão acontecendo em cadeia. Às vezes, a gente esquece e pensa isoladamente algumas coisas – declarou. 

E Filipe Portella explica:

– Você vai emprestar o teu dinheiro para alguém que sabe que vai te pagar (caso do título do governo dos EUA), ou tu vais emprestar para alguém que talvez te pague. Se vai emprestar para alguém que talvez te pague, que é o caso do Brasil, tu tem de cobrar um juro maior pelo risco maior. O juro do Brasil tem de ser sempre bem maior do que o juro dos EUA. A diferença está pequena. Por isso que o dólar tava R$ 4,70 e subiu para R$ 5,30, e agora subiu um pouco mais pelo risco fiscal. Os últimos leilões que o Banco Central fez dos títulos do Tesouro para rolar a dívida de hoje e jogar para a frente, ele teve dificuldade de vender os títulos, porque os juros estavam pequenos no comparativo com o resto do mundo.

Portella lembra que o Brasil não pode repetir os erros do passado.

– No passado, isso já aconteceu. No governo da Dilma, a gente teve uma queda dos juros de forma forçada um pouco antes da eleição, e isso gerou no ano seguinte uma inflação de 12%, porque baixou o juro mais do que deveria. Ao baixar o juro, coloca mais dinheiro no mercado e, daí, tu geras inflação. Com isso, para controlar a inflação, tu tens de subir o juro para 15%, 16% ao ano para conter a inflação. Então, o efeito rebote disso é muito ruim. Primeiro porque ninguém quer pagar mais caro, muita gente viveu o período de inflação descontrolada e não quer voltar a ter isso. Para controlar inflação, tu tens de subiu muito o juro. E agora, na atual gestão do Banco Central, que teve mudança na lei para ter autonomia e independência, o que foi muito bom, pela primeira vez na história o Banco Central, que foi na eleição Lula/Bolsonaro, o Banco Central subiu o juro de 2% para 14% em ano eleitoral. Para mostrar que autonomia e independência do Banco Central é muito importante – disse Portella.

O presidente Lula, depois de meses fazendo duras críticas ao Banco Central e pedindo a redução da Selic, voltou atrás nas queixas e, na quinta, baixou o tom do discurso. O governo anunciou cortes de despesas, justamente para acalmar o mercado e tentar baixar o dólar. Já deu algum resultado.

Leia também

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Recuperação da BR-158 começa na semana que vem, promete Dnit; veja o que será feito Anterior

Recuperação da BR-158 começa na semana que vem, promete Dnit; veja o que será feito

Vencedor de desafio tem recorde de 138,95 sacas de soja por hectare Próximo

Vencedor de desafio tem recorde de 138,95 sacas de soja por hectare

Deni Zolin