surto de toxoplasmose

Origem do surto da toxoplasmose dificilmente será descoberta, dizem especialistas

Thays Ceretta


Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Em abril, foi feita coleta de água na Corsan. Porém, autoridades em saúde apontam que exames são insuficientes e falta tecnologia

A demora para se encontrar a origem do surto de toxoplasmose em Santa Maria deixa a população apreensiva. Entre os motivos para essa dificuldade, estão a complexidade do caso e a falta de recursos para aprofundar a pesquisa. Desde abril, quando foi confirmada a doença na cidade, formou-se uma força-tarefa com representantes dos órgãos de saúde do Estado, município e governo federal, que atuam na investigação denominada busca ativa. Porém, as expectativas não são boas, e os próprios infectologistas e autoridades da área da saúde apontam que, dificilmente, a causa será identificada.

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A médica infectologista Jane Costa sustenta que a origem do maior surto do país, em números absolutos, não será descoberta. Segundo ela, precisariam ser coletadas muitas amostras para enviar para análise, e o Brasil é um país pobre em tecnologia. No país, somente o Laboratório de Saúde Pública e Zoonoses da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, é capaz de fazer essa análise.  

- Não vamos achar a fonte porque só tem um laboratório no Brasil que faz essa análise mais completa. Só a vazão de água da Corsan é de 800 mil litros por segundo. Então, quantas amostras seriam necessárias para se chegar a um resultado? Sem contar que Santa Maria tem 7 mil poços artesianos e, considerando que o oocisto (ovo do protozoário) fica no solo por 18 meses, pode contaminar a água de poço se ele não for bem tratado e estiver bem lacrado. Na verdade, isso realmente é um problema, porque a nossa realidade é muito grande, e os casos estão muito espalhados. E, aí, até que ponto a gente vai investir? - avalia Jane.

O delegado da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, Roberto Schorn, reforça que a equipe está trabalhando para que a causa seja descoberta ou para que a investigação chegue mais próxima de uma conclusão. Porém, esse resultado não é garantido.

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- Com o trabalho que vem sendo feito, a gente imagina que vai conseguir se aproximar do que pode ter sido a causa do surto. Mas, se vamos conseguir ou não, sinceramente, não tem como saber. Claro que a gente espera encontrar a fonte, por isso estamos trabalhando bastante. Nada é suficiente enquanto o surto persistir - ressaltou Schorn.  

A secretária municipal de Saúde, Liliane Mello, também compartilha dessa teoria.

- Eu acho difícil encontrar a fonte, porque, no Canadá, que teve um surto grande e parecido, levaram seis meses para descobrir a causa. E nem preciso comentar que eles têm dinheiro para o investimento em exame laboratorial. Imagina um investimento para se fazer isso. E, agora, um ministério (da Saúde) que está indo embora vai fazer? Eu não tenho condições de tirar dinheiro da cidade para encontrar a fonte. Então, o que a gente mais precisa manter são as medidas de prevenção e os cuidados - diz Liliane.

O superintendente da Vigilância em Saúde de Santa Maria, Alexandre Streb, reforça que a prefeitura não descarta nenhuma hipótese de contaminação, mesmo que os resultados das análises de água e alimento tenham dado negativos.

PREVENÇÃO
Ainda conforme Jane Costa, as medidas de prevenção, como lavar bem os alimentos, ferver a água para bebê-la e evitar o consumo de carne crua e malpassada, precisam ser seguidas até que o surto seja controlado ou até que os técnicos em saúde percebam que a epidemia diminuiu. Situação que ainda não pode ser considerada, já que casos de síndrome febril e toxoplasmose continuam surgindo na rede pública e privada.  

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INVESTIGAÇÃO 
Para tentar descobrir as causas da doença, foram coletadas amostras de água e de alimentos em vários pontos da cidade.  

Em abril, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) fez a coleta de oito amostras de água e enviou para a UEL. Todas deram negativo para a presença do Toxoplasma gondii. De acordo com a chefe da unidade local da Corsan, Andreia Zanini, a companhia agiu de forma transparente na conduta das ações e de forma integrada com as equipes de saúde do Estado e do município.

- As solicitações encaminhadas até o momento à Corsan estão sendo atendidas a fim de contribuir com a equipe envolvida na investigação desse surto na cidade. A companhia permanece à disposição para esclarecimentos quanto a seus procedimentos para garantir a qualidade da água tratada e distribuída em Santa Maria - salientou Andreia. 

SITUAÇÃO DAS AMOSTRAS 
Em relação ao surto de toxoplasmose de Santa Maria, todas as amostras de água recebidas e analisadas até o momento pelo Laboratório de Saúde Pública e Zoonoses da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, deram resultado negativo quanto à presença do DNA de Toxoplasma gondii. A ausência do DNA do protozoário não exclui a possibilidade da fonte de contaminação ser a água. Confira a situação: 

Coletas feitas pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) 

  • Dia 23 de abril - No lodo do decantador, na água tratada e na água que fica retida nos filtros da Estação de Tratamento de Água da Corsan (ETA), num total de oito amostras 
  • Em outras datas - 3 amostras de lodo do decantador da ETA, 1 amostra de água tratada da saída de tratamento da ETA, 5 amostras de água de reservatório de residências dos casos confirmados (uma delas é de água de poço), 1 amostra de água do processo de hidroponia de um fabricante de hortifrutigranjeiros, 1 amostra de água do açude de irrigação de produtor de hortifrutigranjeiros e 3 amostras de verduras de produtor de hortifrutigranjeiro
  • Resultado - Negativo

Coletas feitas pela Corsan  

  • Dia 26 de abril - Na Estação de Tratamento de Água (ETA), que fica na Vila Vitória, no Bairro Juscelino Kubitschek, na água bruta, tratada, que é usada para lavar os filtros e no lodo dos decantadores, num total de oito amostras de água 
  • Resultado - Negativo

PRINCIPAIS SINTOMAS

  • Dor de cabeça e garganta 
  • Febre
  • Ínguas (linfonodos aumentados, ou seja, gânglios espalhados pelo corpo)
  • Manchas pelo corpo: exantema máculo-papular (vermelhidão em forma de pequenas manchas e pápulas)
  • Confusão mental
  • Convulsões
  • Encefalite
  • Aumento do fígado e do baço
  • Moléstias pulmonares (pneumonite) e cardíacas (miocardite)
  • Dificuldade para enxergar que pode evoluir para cegueira
  • Problemas de audição
  • Lesões na retina (coriorretinite)

COMO PREVENIR

  • Ferver a água por, pelo menos, 1 minuto. Depois de fervida, é preciso deixar a água esfriar em recipiente fechado e guardá-la também fechada 
  • Lavar as mãos com água corrente e sabão ou detergente, antes e depois de manipular alimentos
  • Evitar tomar água não filtrada em qualquer ambiente
  • Não comer alimentos crus, frutas e vegetais produzidos no solo por jardinagem
  • Não consumir carnes cruas ou malcozidas, incluindo quibe cru e embutidos (linguiça, salame, copa e outros)
  • Congelar a carne a -12ºC por 48 horas
  • Evitar manuseio direto com solo, incluindo jardins, parques. Caso seja necessário, usar luvas e lavar bem as mãos após a atividade
  • Evitar o contato direto com fezes de animais
  • Após manusear carne crua, lavar bem as mãos e toda a superfície que entrou em contato com o alimento, inclusive os utensílios utilizados
  • Não consumir leite e seus derivados crus não pasteurizados A caixa de areia de gatos deve ser limpa diariamente, utilizando luvas e pá de lixo 
  • Alimentar animais com carne cozida ou ração, não permitindo que os mesmos façam a ingestão de animais caçados

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