coronavírus

Médicos infectologistas divergem sobre fechamento de bares e restaurantes

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Na tsunami de informações, medidas e preocupações sobre o novo coronavírus, cresce o temor sobre que restrições devem ser tomadas pelas autoridades para tentar conter o avanço da pandemia. É uma decisão muito difícil que as autoridades de saúde e políticas estão tendo de tomar em Santa Maria, na região, Estado, Brasil e mundo. Para se ter uma ideia da dificuldade que é em acertar a mão, não sendo negligente nem alarmista, dois respeitados médicos infectologistas de Santa Maria ouvidos pelo Diário têm opiniões divergentes quanto ao fechamento de empresas. A médica Jane Costa defende que é preciso fechar agora bares, restaurantes, academias e igrejas. Já o médico Fábio Lopes Pedro acredita que ainda não é o momento de tomar medidas tão restritivas. 

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Essas opiniões diferentes são algo perfeitamente normal. Porém, ambos reforçam que é preciso manter cuidado redobrado e evitar circulação desnecessária pela cidade, principalmente de idosos e pessoas com imunidade baixa. Também afirmam que é inevitável: a pandemia vai chegar em Santa Maria e é preciso tentar reduzir o impacto dela, pois se as pessoas não se cuidarem, não haverá leitos de UTIs para todos que precisarem.

- As pessoas têm de se recolher. Não é hora de ir em shopping, de passear com os filhos, de tomar cervejinha com os amigos. Mas isso é cultural. Temos profissionais da saúde que voltaram da Europa e foram trabalhar, andaram pelo hospital inteiro. Isso é muito triste. Nós, em função de sermos latinos, vamos seguir o desastre da Itália, e vai ser muito pior do que na Itália, porque nós não temos o dinheiro que os italianos têm - afirmou Jane Costa.

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O QUE DIZEM

"Um médico estava de plantão na terça à noite e foi chamado para fazer atendimento às 20h na Unimed, e demorou um tempão para chegar porque estava todo mundo na rua. Fila na Bella Trento, todo mundo está se comportando como se fosse férias e período festivo. As pessoas não estão se resguardando. A China está tirando as máscaras e desmontando seu hospital de Lego. Nós vamos pagar muito caro porque as pessoas não fazem o que tem de fazer. Nós precisamos nos resguardar. A China e a Coreia são os cases de sucesso, mas nós não seguimos elas. Nós, em função de sermos latinos, vamos seguir o desastre da Itália, e vai ser muito pior do que na Itália, porque nós não temos o dinheiro que os italianos têm".

"Eu mandaria fechar bares, restaurantes, academias, igrejas e, principalmente as igrejas que têm contato e aperto. As evangélicas são piores (para transmissão) do que as católicas, porque têm mais contato. As pessoas podem rezar embaixo da árvore. As pessoas têm de se recolher. Não é hora de ir em shopping, de passear com os filhos, de tomar cervejinha com os amigos. Mas isso é cultural. Temos profissionais da saúde que voltaram da Europa e foram trabalhar, andaram pelo hospital inteiro. Isso é muito triste".

"Se as pessoas que voltaram da Europa não tivessem circulado desde o início, poderia ter reduzido muito no Brasil. Demoraram demais. Deveriam ter proibido a circulação desde o início. Não sei quantos vão se contaminar em Santa Maria. Quando as epidemias se resolvem? Quando se exaurem as pessoas suscetíveis. Muita gente vai se infectar, um percentual pequeno vai ter doença grave, de 12% a 15%. Desses, vai precisar de internação um percentual menor, e 5% vão precisar de UTI. Mas se pegar a região, numa expectativa extremamente otimista, se 1% precisar de UTI, vai dar 700 pessoas, e não vai ter UTI para todos".
Jane Costa, médica infectologista 

"Não tem uma fórmula mágica que possa te dizer quanto de reclusão (internação). A gente não tem capacidade para lidar com isso. Daqui a pouco, vamos ter de contabilizar pessoas internadas e pessoas mortas".

"O vírus vai passar por aqui, vai ter propagação, vai ter epidemia, vai durar 3 a 4 meses. Se trancar todo mundo em casa agora, isso não vai adiantar nada. Então, as medidas de contenção têm um limite. Se apertar demais, todo mundo vai ficar em casa, ninguém vai se expôr, ok. As pessoas vão ficar em casa por 4 meses, 6 meses? Passarão uma a duas semanas e as pessoas passarão para a sua vida cotidiana, passarão a abrir seus negócios, aí o vírus entra e aniquila. As contenções têm etapas, níveis. Nossa contenção já está bem boa, um pouco até zelosa depois para nosso nível de epidemia local. A gente não tem nenhum caso confirmado, então, tem de ter um pouco de calma. A gente vai ter de afundar mais? Vai, daqui a pouco vai ter de fechar mais coisas, mas ainda não é o momento apropriado. Tem de entender que é inevitável a entrada, a propagação e o adoecimento por causa do vírus. Essa entrada tem de ser lenta e gradual. Não adianta esvaziar a cidade e, depois, todo mundo voltar a trabalhar, pois a entrada vai ser rápida. Essa entrada tem de ser progressiva, lenta, mas não existe nenhuma possibilidade de o vírus não entrar e não causar mortes e danos". 

"Talvez num momento oportuno, no momento que tiver diagnóstico (de caso confirmado), a gente vai ter de repensar as medidas de fluxo da população, distanciamento e reclusão social. Agora não é hora de fechar as coisas. É preciso ter um pouco de calma, vamos com calma, passo a passo, avaliando. O importante é ter exames para fazer, e isso a gente está tendo um pouco de dificuldade" .
Fábio Lopes Pedro, médico infectologista 

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