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Após sete meses da inauguração, serviços prestados pelo Hospital Regional são menos do que os prometidos

Dandara Flores Aranguiz

Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Projetado para desafogar a fila de espera do SUS na região, hospital funciona apenas com um ambulatório de doenças crônicas

Sete meses já se passaram desde a abertura do Hospital Regional Centro, em Santa Maria, mas o que foi planejado para ser a saída dos municípios da Região Central para desafogar a fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS) está bem próximo de se tornar mais um elefante branco. O que se vê é uma estrutura cercada de mistérios e discursos esvaziados de informações e recheados de incertezas. São 20 mil metros quadrados que custaram aos cofres públicos cerca de R$ 70 milhões até ficar pronto, funcionando apenas com um ambulatório, o de Doenças Crônicas (voltado a diabéticos e hipertensos).

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Em novembro de 2018, um mês depois de os gaúchos elegerem o novo representante do Estado, a assessoria do então governador eleito Eduardo Leite já havia pontuado que, apesar de considerar a "importância estratégica do Regional", não poderia garantir o cronograma de abertura estipulado pelo governo de José Ivo Sartori, ao falar sobre as perspectivas de abertura do segundo ambulatório, o de reabilitação, previsto para começar a funcionar em até 90 dias após a abertura do complexo.

Dessa vez, questionada sobre as tratativas para renovação do contrato com o Instituto de Cardiologia (que administra o Regional), prazos e cronograma, a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, afirmou que "o Estado não tem condições orçamentárias e financeiras para assumir um serviço desta magnitude e tão necessário para a região", necessitando do apoio do governo federal (leia abaixo a nota na íntegra). A Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirma, ainda, que essa é a pauta número um das negociações com o Ministério da Saúde nos próximos dias.

Citado pelos políticos mais de uma vez como um intermediador do assunto em Brasília, o secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis - ex-secretário estadual de Saúde nos três primeiros anos do governo Sartori e que esteve diretamente envolvido nas negociações para abertura do hospital à época -, não quis falar sobre o assunto, alegando que a orientação da pasta é que, nos primeiros meses de governo, somente o ministro tem autorização para dar entrevistas.

O QUE DIZ O GOVERNO DO ESTADO

"Há mais de oito anos, se criou, em Santa Maria, a possibilidade de se ter um hospital regional, que até hoje não está funcionando. O governo Eduardo Leite assumiu o Estado há pouco mais de um mês. Já estou ciente da questão do hospital de Santa Maria. Tenho conversado com a região, com o prefeito, com o gestor que mantém lá, hoje, um atendimento ambulatorial. Para se transformar na assistência hospitalar para qual aquele prédio foi construído, temos alguns desafios grandes. E esses desafios não serão resolvidos ou vencidos se não tivermos a parceria do governo federal. O hospital só vai funcionar se tiver o correspondente financiamento do governo federal para compra de equipamento e custeio dos serviços novos que lá serão instalados. Temos de ver com o Ministério da Saúde como se equipa este hospital, que tem um custo muito elevado, e como se custeia este hospital, uma vez que o Estado não tem condições orçamentárias e financeiras para assumir um serviço desta magnitude e tão necessário para a região. Essa é a pauta número um que teremos com o governo federal nos próximos dias."

Arita Bergmann, secretária estadual de Saúde

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O QUE DIZ O MINISTÉRIO DA SAÚDE

"O Ministério da Saúde informa que, assim que o hospital tiver condições de funcionamento, avaliará a solicitação de aumento de Teto MAC para o Estado, o que possibilitará recursos federais para financiamento dos serviços."

SEM ACESSO

Mesmo sendo um hospital público, a equipe do Diário não conseguiu ter acesso ao Regional durante a produção desta reportagem. A assessoria de comunicação do Instituto de Cardiologia, que cuida da agenda do diretor-executivo do hospital, Elvis Prestes, informou que ele estava em férias e que não teria atendimento à imprensa até o seu retorno. O Diário também solicitou um novo balanço, com os números dos atendimentos feitos durante os sete meses, mas, até a noite desta sexta-feira, eles não haviam sido repassados.

Durante dois dias (das 9h às 11h de quinta e das 10h às 12h de sexta-feira), o Diário foi até a frente do hospital para tentar falar com os pacientes atendidos no ambulatório, porém, apenas um deles parou para conversar sobre o serviço prestado. O aposentado Vitório Salvador Carvalho Sturza, 66 anos, veio pela terceira vez de São Vicente do Sul para consultar no ambulatório. Depois de sofrer um infarto em 2009, ele foi encaminhado para monitorar o coração.

- Sempre fui bem atendido, faço exames, tem bastante médico. Caminhei por ali, é grande, né? Dizem que vão fazer até cirurgia, então, vai ser bom - disse o paciente.

NOS BASTIDORES, PRESSÃO POLÍTICA

As discussões e tratativas para a busca de verbas e de resolução do problema também permeiam os bastidores do meio político. O novo secretário de Saúde municipal, o médico Francisco Harrisson, diz que a ideia é unir esforços de prefeitos e secretários que fazem parte da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS) para exercer pressão junto aos governos estadual e federal para que, pelo menos, 50% da capacidade máxima do Hospital Regional esteja em funcionamento até o final de 2019.

- Queremos que o hospital comece a funcionar o mais rápido possível, a todo vapor. Essa pressão vai ser feita, com toda certeza e com toda força. Não vamos poupar esforços, pois é a única saída. O trabalho está longe do que a gente precisa e não satisfaz, ainda, as necessidades dos municípios da região, que têm um déficit em leitos do SUS - completa.

O prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom (PSDB), acredita numa sinalização positiva de garantia dos investimentos necessários para a abertura dos primeiros leitos no Regional e afirma que o assunto está na pauta do governo e é prioridade absoluta. Desde o início do ano, ele já participou de encontros na capital gaúcha e em Brasília para discutir o tema.

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O prefeito de Restinga Sêca e presidente da Associação de Municípios da Região Centro (AM-Centro), Paulo Salerno (MDB), destaca que a pressão é constante, inclusive, na cobrança das etapas previstas no plano de trabalho.

- Num primeiro momento, estamos na tentativa de construção conjunta pelo não enfrentamento. Vamos tentar esgotar as tentativas administrativas e políticas para, depois, partir para outro lado - disse Salerno.

O vice-presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Valdeci Oliveira (PT), disse que tem uma reunião, no dia 19 de fevereiro, com a Secretaria Estadual de Saúde para ouvir a proposta do novo governo.

- Temos contratos assinados que não foram cumpridos, e temos que ver o planejamento, o calendário, para que a gente possa dizer para a população quando o hospital vai funcionar, de fato - comenta.

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