Saúde mental de atingidos pelas chuvas exigirá atenção a longo prazo, dizem profissionais; veja os serviços disponíveis em Santa Maria

Saúde mental de atingidos pelas chuvas exigirá atenção a longo prazo, dizem profissionais; veja os serviços disponíveis em Santa Maria

Foto: Nathália Schneider (Diário/Arquivo)

As marcas deixadas pelo desastre climático que atingiu Santa Maria e outros 468 municípios gaúchos impôs a necessidade de desenvolver estratégias voltadas ao cuidado em saúde mental das vítimas. De forma rápida e inesperada, as pessoas passaram a ter de lidar com situações dolorosas como a perda de entes queridos e de suas moradias. 


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Em Santa Maria, as enxurradas e deslizamentos provocaram a morte de cinco pessoas e afetaram diretamente cerca de 12 mil santa-marienses. De acordo com dados da Secretaria de Desenvolvimento Social e da Defesa Civil do Município, 1,3 mil pessoas ficaram desalojadas e foram para casa de familiares e cerca de 50 pessoas foram acolhidas no abrigo instalado no Centro Desportivo Municipal (CDM).


Impactos psicológicos do desastre 

A coordenadora de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Santa Maria, Cláudia Melo, explica que a situação pode gerar diferentes reações em quem vivencia de perto o desastre: tristeza, angústia, ansiedade, raiva e falta de esperança são sentimentos comuns em um primeiro momento. Porém, por se tratar de um acontecimento extremo, as consequências tendem a se estender por um longo período de tempo e outros efeitos mais graves também podem aparecer. Uma delas é a ocorrência do transtorno do estresse pós-traumático, condição caracterizada pela dificuldade das pessoas se recuperarem após vivenciar ou testemunhar um acontecimento trágico. 


Para enfrentar os desafios, a comunidade pode encontrar na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Santa Maria ferramentas que ajudam a atravessar esse momento. 


Santa Maria Acolhe promove encontros em grupos e oficinasFoto: Caroline Souza (Diário)


O legado da Kiss para o cuidado em saúde mental

A cicatriz carregada por Santa Maria após o incêndio da boate Kiss, que matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridas, fez com que o município trabalhasse na criação de um serviço específico para o tratamento de traumas e luto. O esforço tornou a cidade mais preparada para o enfrentamento de tragédias como a vivenciada após as chuvas históricas


O grande legado na área da saúde mental foi a criação da Policlínica Santa Maria Acolhe, em 2013, que agora também está voltada ao atendimento das pessoas atingidas pela catástrofe. O serviço está inserido no Sistema Único de Saúde (SUS) e oferece assistência voltada a crise, situações de luto, traumas, ideação e tentativas de suicídio. 


– Quando ocorreu o desastre relacionado às chuvas, Santa Maria já tinha um serviço pronto para disponibilizar à comunidade. Isso permitiu que pudéssemos desenvolver ações mais rapidamente e com uma equipe preparada – afirma o psicanalista e coordenador do Santa Maria Acolhe, Volnei Dassoler. 


O tratamento é realizado a partir de uma equipe multiprofissional que inclui psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros e terapeutas ocupacionais. O espaço funciona na Rua Conrado Hoffmann, número 277, no Bairro Nossa Senhora de Lourdes. 


Policlínica Santa Maria Acolhe conta com equipe multiprofissional Foto: Caroline Souza (Diário)

É no Acolhe que a aposentada Sueli Pradebon Rossi, 68 anos, encontrou o acompanhamento necessário para o filho Bruno Henrique Pradebon Rossi, 32 anos. Ele é atendido mensalmente no espaço onde também são promovidas atividades complementares ao tratamento terapêutico, como encontros em grupos e oficinas.


– É muito bom, a gente tem gostado do acolhimento. Uma mãe se sente feliz vendo que o filho está fazendo o tratamento e está bem – relata Sueli.


Temporalidades da tragédia

O processo de enfrentamento da realidade após uma tragédia é singular para cada uma das pessoas afetadas e envolve diferentes fases. Por isso, Volnei destaca a importância do cuidado a longo prazo e o planejamento intersetorial entre áreas como saúde e habitação.


– O desastre tem diferentes temporalidades, o primeiro tempo é agudo, expondo a condição de desamparo relacionada a questões material, de moradia, de alimentação, de ameaça a vida física e simbólica. Por isso, o primeiro cuidado psicossocial é garantir segurança para as pessoas em diferentes níveis, como por exemplo, onde ela vai dormir, como vai se alimentar e a proximidade da sua rede afetiva – explica Volnei. 


Após o primeiro impacto, outros fatores consequentes do evento climático, como a necessidade de mudar de casa, por exemplo, podem seguir gerando sofrimento psíquico. Para que o paciente seja amparado, Cláudia afirma que é fundamental que o primeiro atendimento ocorra no primeiro nível da rede, que são as unidades básicas de saúde. 


– Neste primeiro momento, o ideal é que a pessoa receba o tratamento no próprio território, que ela seja assistida na unidade de saúde próxima a residência dela. Lá, as equipes vão identificar a necessidade do paciente e, se necessário, encaminhar para serviços mais especializados – diz Cláudia. 


Rede de Atenção Psicossocial de Santa Maria é composta por diferentes serviçosFoto: Caroline Souza (Diário)


Rede de cuidado

Além do cuidado específico no Santa Maria Acolhe, a Rede de Atenção Psicossocial também é composta por outros serviços que permitem atender o usuário de acordo com a necessidade. 


Casos leves a moderados são direcionados para a Policlínica de Saúde Mental, Erasmo Crossetti e ambulatório de saúde mental do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) encaminhados pela Atenção Primária em Saúde. O Ambulatório Transcender, destinado à comunidade LGBT+, está junto à Policlínica de Saúde Mental e o atendimento é por livre demanda. 


Para quadros psiquiátricos moderados a graves em crianças e adultos, o encaminhamento costuma ser feito para um dos quatro Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de Santa Maria. São eles: o Caps II Prado Veppo, Caps ad Caminhos do Sol, Caps i O Equilibrista e Caps ad Cia do Recomeço.


Atualmente, as Unidades Paulo Guedes, no Hospital Universitário de Santa Maria, e Madre Madalena, no Hospital Casa de Saúde, são referências no tratamento hospitalar de usuários de Santa Maria e região.


Investimento nos serviços 

Para ampliar e fortalecer os atendimentos em saúde mental neste momento de calamidade pública, Santa Maria foi contemplada com um repasse de R$ 240 mil do governo federal para a contratação de quatro novas equipes multiprofissionais que irão atuar na Atenção Primária em Saúde. 


De acordo com o superintendente de Atenção Básica da Secretaria de Saúde, Marlon Marinho, as equipes serão formadas por um psicólogo, um assistente social e um terapeuta ocupacional. 


– Ainda estamos no processo de formulação de como será o processo de trabalho dessas equipes. Nosso objetivo é fazer um levantamento das demandas das comunidades e vincular as equipes de forma mais direcionada às regiões afetadas – explica Marlon. 


Os profissionais serão contratados por meio de chamamento emergencial. A carga horária das novas equipes será de 60 horas semanais e o município tem o prazo de seis meses para utilizar os recursos. 


Veja onde buscar acolhimento:

Santa Maria Acolhe

- Atende a população em geral, vinculado a quadros traumáticos, de luto e do contexto de suicído, para maiores de 14 anos 

- Onde – Rua Conrado Hoffmann, 277, Bairro Nossa Senhora de Lourdes 

- Telefone – (55) 3174-1582

Policlínica Municipal de Saúde Mental

- No espaço, está localizado o Ambulatório Transcender, destinado à saúde da população LGBT+ 

- Endereço – Rua dos Andradas,1.397, sala 102, Bairro Centro 

- Telefone – (55) 3921-1094

Caps II Prado Veppo  

- Atende pessoas com transtornos mentais moderados a graves 

- Endereço – Avenida Fernando Ferrari, 1.684 

- Telefone – (55) 3174-1582

Caps Ad II Caminhos do Sol

- Atende pessoas com transtornos decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas

- Endereço – Rua Euclides da Cunha, 1695, Presidente João Goulart

- Telefone – (55) 3174-158

Caps Ad II Cia do Recomeço

- Atende pessoas com transtornos decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas

- Endereço – Rua General Neto, 579, Bairro Centro

- Telefone – (55) 3174-1582

Caps i - O Equilibrista 

- Atende crianças e adolescentes com transtornos mentais ou casos decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas 

- Endereço – Rua Conrado Hoffmann, 100, Bairro Nossa Senhora de Lourdes 

- Telefone – (55) 3174-1582

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