reportagem especial

VÍDEO: São João do Polêsine tem apenas um candidato à prefeitura

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)
O prefeito Matione Sonego (MDB) é o único candidato em São João do Polêsine

Nas eleições municipais deste ano, 102 candidatos solicitaram registro de candidaturas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para disputar as prefeituras das 38 cidades da região (com exceção de Santa Maria). Entre os municípios, 14 partidos políticos participam do pleito. Até então, os números não surpreendem.

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Porém, uma cidade da Quarta Colônia de Imigração Italiana terá, neste ano, uma eleição inusitada. São João do Polêsine possui apenas um candidato ao Executivo, o atual prefeito, Matione Sonego (MDB), 48 anos. O político fez uma composição com o principal partido concorrente, o PP, que indicou o candidato à vice da chapa, Milvo Vizzoto, 64. O PSDB manifestou apoio à candidatura única, e as outras siglas da cidade, entre elas o PSD e o PSB, não entraram na disputa pela prefeitura.

A chapa abriu mão do horário eleitoral gratuito e já pensa nos próximos quatro anos de gestão. Para se eleger, Matione precisa da maioria absoluta, excluídos os votos brancos e nulos. Ou seja, com apenas um voto, ele irá se eleger. Esse voto pode ser o dele mesmo.

- É estranho. Estamos em plena época eleitoral e não iniciamos a campanha. Mandaremos imprimir uma quantidade menor de material gráfico. Nas rádios e redes sociais, vamos trabalhar de forma explicativa, para que elucidar o porquê a cidade tem apenas um candidato e incentivar as pessoas a irem votar mesmo assim, afinal, os vereadores também precisam ser prestigiados - explica o candidato, formado em Fisioterapia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

MOTIVAÇÃO 
Ex-secretário municipal de Saúde, Matione acredita que as dificuldades econômicas impostas pela pandemia podem ter desestimulado o surgimento de outros candidatos. Além disso, PP e MDB dominam a política polesinense. Nos últimos quatro anos, as duas siglas monopolizaram as nove cadeiras da Câmara de Vereadores. Quando os dois se unem, a concorrência desaparece.

- Como o PP teve, na maior parte do tempo, maioria no Legislativo, precisei manter uma boa relação com a oposição para poder aprovar os projetos da prefeitura. Da mesma forma, todos os projetos que eles sugeriram, colocamos em pauta. Então, o PP nos procurou para ter o vice na nossa chapa - lembra o prefeito.

O atual vice-prefeito, que também é do MDB, Paulo Pozzebon, abriu mão de concorrer neste ano para ver a experiência da chapa única se tornar realidade.

RIVALIDADE SEPULTADA, POR ENQUANTO... 
MDB e PP fazem, em São João do Polêsine, uma rivalidade ao estilo Gre-Nal. A população de origem italiana confere características conservadoras à política da cidade, que não elegeu sequer um vereador posicionado mais "à esquerda" em 2016, por exemplo.

Entretanto, Matione afirma que as novas gerações de políticos dos dois partidos são mais abertas ao diálogo e que a resistência entre as duas bandeiras não é a mesma do passado.

- O município é pequeno e os gastos com campanha são grandes. Na hora de administrar, é pior. O eleitorado fica dividido. Metade fica contra a prefeitura, é como Grêmio e Inter. Na Quarta Colônia, as pessoas têm as flâmulas dos partidos em casa - exemplifica.

PANDEMIA DETERMINANTE 
Para o vice, a pandemia foi um fator determinante para a coalizão. As dificuldades enfrentadas no período exigem união entre os maiores partidos, conforme ele.

- Hoje, ninguém mais governa sozinho. A pandemia torna a gestão mais complexa, e eu sempre levei fé que trabalhando junto é melhor. O Matione sempre ouviu a todos - comenta Milvo, que foi presidente da Câmara de Vereadores em 2019.

Além do turismo, boa parte da economia do município está firmada no agronegócio, com 2 mil hectares de arroz plantados anualmente. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Jacy Pozzatti, é favorável à chapa única.

- Assim não vão ocorrer os mesmos atritos de eleições anteriores. A população não fica dividida durante a gestão e os dilemas se resolvem mais facilmente - acredita Pozatti, que comanda a entidade há 16 anos.

A MESMA SITUAÇÃO EM MAIS DE UMA CENTENA DE CIDADES
A situação que parece atípica em São João do Polêsine, onde há 2,3 mil eleitores, é reprisada em mais de uma centena de municípios de todo o país. De acordo com levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), com base em dados do TSE, são 117 cidades de norte a sul do Brasil que estão conectadas a uma mesma realidade: um pleito com um nome só e, por tabela, já decidido.

A efeito de comparação, em 2016, esse número era de 97. Ou seja, um aumento da ordem de pouco mais de 17% em quatro anos. Ao retroceder um pouco mais no tempo, o número de municípios com uma candidatura só era de 106. No Rio Grande do Sul, Polêsine integra um grupo de 34 cidades onde o pleito está, ainda mesmo antes de começar, já decidido.  

SEM NOVIDADES
No entendimento de Paulo Kramer, cientista político e professor licenciado do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB), as candidaturas de um nome só devem ser observadas como um reflexo do que é a própria política: um ambiente onde, para a maioria da população, prevalece o desinteresse.  

O que, muitas vezes, impede o surgimento de novos nomes. Além dessa combinação, Kramer destaca que municípios menores costumam ser nichos previamente preenchidos pelas elites locais. O resultado, invariavelmente, não é dos melhores, pondera. Já que a política é feita com diálogo, embate e confronto de visões de governo e da própria política, sinaliza.

CANDIDATOS À PREFEITURA 

  • No Brasil - 19,1 mil
  • No Rio Grande do Sul - 1,3 mil
  • Na região (exceto Santa Maria) - 102

*Colaborou Rafael Favero

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