Política

Governo Sartori foi marcado por atrasos de salários, conclusão da Faixa Velha, abertura do Regional e reforço na segurança

Eduardo Tesch

Fotos: Gabriel Haesbaert (Diário)

Aos 70 anos, no dia 1º de janeiro deste ano, José Ivo Sartori (MDB) deixou o Palácio Piratini e deu lugar a Eduardo Leite (PSDB). Após quatro anos à frente do Estado, o "gringo" de Caxias do Sul deixou um legado para a Região Central constituído por pontos positivos e negativos. Fazem parte da herança o parcelamento dos salários dos servidores, os sucessivos atrasos de repasses para a área da saúde, a abertura do Hospital Regional Centro, a conclusão da Faixa Velha de Camobi, a recuperação de estradas da região e reforço na segurança.

- Procuramos fazer o melhor de tudo, afinal Santa Maria é o centro do Rio Grande do Sul, nós procuramos dar atenção em todas as coisas e fizemos aquilo que pudemos. Tenho certeza que em todas as regiões do Rio Grande do Sul procuramos fazer o melhor, mas sempre teve compreensão, ajuda, respeito e admiração das pessoas sabendo que quem mora no seu lugar sempre quer o melhor para o seu lugar - afirmou Sartori, ao ser questionado pelo Diário sobre o legado à região, durante a inauguração do viaduto da Faixa Velha, em dezembro.

Morador é detido enquanto tapava buraco em rua de Santa Maria

Ao assumir em 2014, o emedebista encontrou um Estado com graves dificuldades financeiras. Naquele ano, a dívida acumulada do Rio Grande do Sul já chegava na casa dos R$ 64,7 bilhões. Com as contas no vermelho, o governo tomou uma das escolhas mais impopulares que um gestor público pode fazer: parcelar o salário dos servidores. A medida só atingiu funcionários do Executivo, já que por lei o Estado é obrigado a repassar um valor mensal para que o Legislativo e Judiciário se mantenham, o chamado duodécimo. O primeiro parcelamento ocorreu em julho de 2015, depois o Estado voltou a pagar em dia. Porém, de fevereiro de 2016 até agora, a Secretaria da Fazenda não consegue quitar a folha no dia previsto: são 35 meses com o pagamento incerto.

E os atrasos não ficaram restritos aos servidores. Durante os quatro anos, foram sucessivas as faltas de repasses para diversos hospitais no Estado. No final de 2017, a Casa de Saúde de Santa Maria chegou a suspender o serviço de obstetrícia, que realiza cerca de 100 partos todos os meses, por falta de pagamento aos médicos. Hoje, há cerca de 50 médicos do hospital que estão com os salários atrasados desde julho.

Por outro lado, houve um reforço expressivo na segurança. Dados divulgados pela Secretaria de Segurança na semana passada, mostram que, pela primeira vez, em sete anos houve redução no número de homicídios em Santa Maria, caindo de 70 em 2017 para 57 em 2018, uma queda de 20%.

Outro ponto positivo para a cidade foi o contrato firmado com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), em 2018, para a prestação dos serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto. Foi um dos maiores contratos já assinados pelo Estado prevendo o investimento de R$ 544,5 milhões e repasses de R$ 360 milhões ao município para saneamento.

Na área de segurança, a região acabou recebendo reforço, com 21 novas viaturas, 315 coletes a prova de bala e 100 novas armas para a Brigada Militar na Região Central. Na Polícia Civil, a região recebeu 37 novas viaturas, 11 coletes a prova de bala e 44 novas armas. Já o Corpo de Bombeiros ganhou 9 veículos.

35 MESES DE SALÁRIOS ATRASADOS


Com mais de 300 mil matrículas, a folha do funcionalismo bate na casa dos R$ 1,2 bilhão mensais. Sem arrecadar o suficiente, o Estado começou a parcelar os salários. Os atrasos começaram em julho de 2015, sob greve e fortes críticas dos sindicatos que representam as principais categorias. Desde fevereiro de 2016, os servidores não sabem nem o dia nem quanto entrará na conta. Desde setembro de 2017, o Estado adota uma nova forma nos atrasos: ao invés de quitar pequenas quantias a todos os servidores, os vencimentos menores são pagos integralmente antes do que os maiores.

- Eu me sinto totalmente desvalorizada. Temos contas para pagar, elas não param, porém tu acabas entrando no vermelho porque o dinheiro não chega no dia. Isso vira uma bola de neve, o que acaba prejudicando, além de nós, a economia da cidade e também do Estado - salienta a aposentada Maria Lilian Vinadé, 68 anos, que esteve dentro de sala de aula por 25 anos como professora de História.

DUPLICAÇÃO DA FAIXA VELHA FOI CONCLUÍDA


Depois de mais cinco anos de obras, enfim, os santa-marienses viram a duplicação concluída. No dia 11 de dezembro, o governador José Ivo Sartori (MDB), inaugurou o viaduto da Avenida Osvaldo Cruz, na ERS-509, a Faixa Velha de Camobi, o que marcou a liberação dos 4,3 km de rodovia duplicada ao custo de R$ 40 milhões para o Estado.

A duplicação completa da Faixa Velha facilitou a vida de quem estava acostumado a enfrentar longos congestionamentos na rodovia, principalmente no início da manhã e final de tarde. Porém, o atraso na obra, que estava prevista para ser concluída em 2015, também gerou prejuízos.

- Melhorou muito depois da duplicação. Facilitou a nossa vida, ficou muito mais rápido para andar. Porém, tivemos bastantes dificuldades ao longo da obra. Perdemos clientes e tive que fechar uma loja que recém tinha inaugurado - salienta o dono da K3 Car, Marcelo Vargas.

A população cobra pela instalação de um sistema de iluminação no viaduto, mas esta competência é do município. 

REGIONAL ABRE COM SÓ UM AMBULATÓRIO

Após mais de 10 anos entre o projeto e a conclusão das obras, em 2016, foi aberto parcialmente, em julho de 2018, o Hospital Regional Centro, em Santa Maria, sob gestão do Instituto de Cardiologia do Estado. Só um ambulatório está funcionando, de segunda a sexta-feira, com pacientes encaminhados pela 4ª Coordenadoria Regional de Educação.

Com cerca de 100 funcionários atuando, entre contratados e terceirizados, o hospital atende pessoas com hipertensão e diabetes de mais de 30 cidades da região.

- O atendimento é ótimo. Como moro em Santiago, preciso vir para cá para ser atendido, já que lá não tem cardiologista pelo SUS. Aqui está muito bom, tudo novinho. Parece até um hospital particular, me impressionei com a qualidade - afirma o aposentado José Lavarda, 66 anos.

Por enquanto, não existe uma perspectiva do hospital ampliar os atendimentos.

PAGAMENTOS A HOSPITAIS ATRASAM

Não foram só os servidores que sofreram com a crise nas contas públicas do Rio Grande do Sul. O atraso de repasses para os hospitais conveniados com o Estado se tornou rotina ao longo dos quatro anos da gestão de Sartori (MDB). Na Região Central, hospitais de Agudo, Cacequi, Cruz Alta e Santa Maria sofreram - e muito - com a escassez de recursos. A Casa de Saúde foi um dos hospitais mais prejudicados. O setor de obstetrícia, que realiza cerca de 100 partos por mês de pacientes de mais de 30 cidades da região, ficou fechada de novembro de 2017 a março de 2018, o que causou uma superlotação no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), que precisou absorver a demanda.

- A Casa de Saúde fez todo o esforço para manter as portas abertas, prestando serviço à comunidade. Mesmo com os atrasos, nós temos a tarefa de manter o hospital aberto e funcionando. Esperamos que em 2019 possamos ter um futuro diferente - almeja o administrador da Casa de Saúde, Rogério Carvalho. 

*Colaboraram Naiôn Curcino e Camila Gonçalves 

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