Operação

Desarticulada organização que praticava suposta fraude em recursos da saúde na prefeitura de Canoas

José Mauro Batista

Fotos: Marjuliê Martini e Roberta Salinet (MPRS/ divulgação)
Líder do esquema, segundo investigação do MP, foi preso em um hotel de Porto Alegre

O Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a Promotoria de Justiça de Canoas e o Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul cumpriram, nessa quinta-feira, mandados de prisão preventivas contra quatro pessoas ligadas ao Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (Gamp). Dois agentes públicos da Secretaria Municipal de Saúde de Canoas foram afastados de suas funções pelo período de quatro meses. Segundo o Ministério Público (MP), o Gamp receberia mais de R$ 1 bilhão durante os cinco anos de contrato.

O QUE APONTAM AS INVESTIGAÇÕES

Algumas suspeitas de irregularidades: 

Gestão de Saúde

  • Em outubro de 2016, o Gamp teria assumido o gerenciamento de hospitais e unidades de saúde de Canoas por um prazo de 5 anos a um custo de R$ 16 milhões por mês, com direito a reajuste. Hoje, o valor pago ao Gamp, é de cerca de R$ 23 milhões por mês

Superfaturamento de remédios

  • Medicamentos e insumos para os dois hospitais teriam sido superfaturados, com variações de 20% a 17.000%, chegando, em alguns casos a valores superiores a R$ 500 mil. Apenas uma compra, no valor de R$ 1,2 milhão, se licitada, custaria R$ 441 mil

Desvio na saúde

  • Recursos para a saúde pública desviados da prefeitura de Canoas teriam como destino contas bancárias de pessoas ligadas ao Gamp. De dezembro de 2016 até agora, a prefeitura teria transferido R$ 426 milhões para o Gamp. A suspeita é que pelo menos R$ 40 milhões foram desviados  

Férias pagas pelo SUS

  • Valores superiores a R$ 486 mil foram gastos com passagens aéreas, hospedagens e reembolsos em favor de uma empresa de turismo. Um dos beneficiados seria um médico apontado como chefe do esquema

Vereadores de Santa Maria aprovam abertura de crédito de R$ 4,1 milhões de recursos para a saúde

O Gamp e outras 15 empresas tiveram decretada a suspensão da contratação com o poder público. Foram expedidos, ainda, 70 mandados de busca e apreensão para cumprimento em outros Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Pará. O MP aponta, entre as inúmeras irregularidades, o superfaturamento de medicamentos em até 17.000%, a utilização de laranjas e testas de ferro do chefe do esquema na direção do Gamp, a cooptação de agentes públicos, o desvio de dinheiro da saúde pública para os envolvidos na fraude e, até mesmo, o pagamento de viagens de férias com dinheiro público da saúde de Canoas.  

Na análise do MP, o Gamp se passava por entidade assistencial sem fins lucrativos, mas, na verdade, agiria como "uma típica organização criminosa voltada para a prática de inúmeros delitos, em especial peculato e lavagem de dinheiro, entre outras fraudes que esvaziaram os cofres públicos".

Secretário mais antigo da prefeitura de Santa Maria anuncia saída

Ao deferir os mandados, a Justiça destaca o fato de que o Gamp anunciou, no mês passado, o cancelamento de consultas eletivas e atendimentos e que apenas iria atender casos de urgência e emergência no Hospital de Pronto-Socorro de Canoas (HPS) e Hospital Universitário (HU), sob alegação de falta de repasses da prefeitura e do Estado.

As ações de ontem foram comandadas pelo coordenador do Gaeco Saúde, João Afonso Silva Beltrame, e pelos promotores de Canoas Marcelo Dossena Lopes dos Santos e João Paulo Fontoura de Medeiros.

Em nota publicada no site G1/RS, o Gamp disse que iria se manifestar formalmente assim que os advogados tivessem acesso à investigação. O grupo alega, ainda, ser vítima de perseguição política. A prefeitura de Canoas, conforme o G1/RS, disse que já havia denunciado a contratação e que "mensalmente tem discordado e bloqueado valores de despesas apresentadas pelo Gamp". (Com informações do MPRS)

Em nota, prefeitura diz que já vinha contestando contrato com empresa

Em nota, divulgada no seu site, a prefeitura de Canoas diz que "considera positiva a investigação do Ministério Público sobre os contratos firmados pelo município com o Gamp, em 2016".

Com sobra em caixa, Câmaras devolvem dinheiro

"A atual administração vem denunciando, antes mesmo de assumir o município, a contratação, realizada no final do governo anterior, pelas deficiências na formatação do edital, que foi conduzido pelo ex-secretário da Saúde Marcelo Bósio, preso nesta quinta-feira e que deixou a prefeitura de Canoas em dezembro de 2016. O assunto foi abordado pela gestão atual em diversas reuniões com o MP em Canoas", diz a nota.

A prefeitura afirma, ainda, que, "mensalmente tem discordado e bloqueado valores de despesas apresentadas pelo Gamp, onde haja inconsistência". Segundo a nota, a administração municipal discute um crédito alegado pelo Gamp de mais de R$ 100 milhões, fruto de inúmeras anotações registradas pela fiscalização. Por fim, a prefeitura afirma estar colaborando com a investigações. (Com informações do site da prefeitura de Canoas)

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Ex-ministro acusa Lula de acertar propina para filho Anterior

Ex-ministro acusa Lula de acertar propina para filho

Desarticulada organização que praticava suposta fraude em recursos da saúde na prefeitura de Canoas Próximo

Desarticulada organização que praticava suposta fraude em recursos da saúde na prefeitura de Canoas

Política