entrevista

'Acho prematuro chegar e dizer que já está decidido, que vai ser Bolsonaro x Lula', diz Mourão à CDN

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Após o desembarque do PRTB  e recém filiado ao Republicanos para lançar a candidatura ao Senado pelo Rio Grande do Sul, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, concedeu entrevista ao programa F5 da CDN, na manhã desta sexta-feira. Aos jornalistas Felipe Backes, Maurício Araujo, Pâmela Rubin Matge e Rodrigo Ricordi, Mourão falou sobre a situação econômica do país, o futuro político para o pleito deste ano, nomes que podem figurar como vice de Jair Bolsonaro (PL) e fatos recentes.  

Em tom solícito, e por vezes descontraído, sobretudo ao falar de futebol, o general respondeu a todas as perguntas, mas  abreviou comentários quando questionado da sua manifestação sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, desautorizada pelo presidente no mês passado.

Gaúcho, nascido em Porto Alegre, ingressou no Exército brasileiro em fevereiro de 1972, na Academia Militar das Agulhas Negras. Em 1975, foi declarado aspirante a oficial da arma de artilharia, graduando-se em Ciências Militares. Em mais de quatro décadas de serviços, cumpriu missão de paz em Angola, foi instrutor das Agulhas Negras e de assessor de Estado-maior nas regiões Sul, Centro-oeste e Amazônica, e no Gabinete do Comandante do Exército, em Brasília.

Após deixar a ativa, em fevereiro de 2018, filiou-se ao PRTB, iniciando assim sua carreira política. Nas eleições de outubro do mesmo ano, foi eleito vice-presidente da República na chapa do presidente Jair Bolsonaro, posto que ocupa desde o dia 1º de janeiro de 2019. Na última quarta-feira, filiou-se ao republicanos partido pelo qual disputará a única vaga de senador no Rio Grande do Sul. Em Santa Maria, cidade em que o general já afirmou ter consolidado amizades e relações profissionais, já esteve na campanha, na festa da Artilharia e demais compromissos pessoais.

Acompanhe alguns trechos da entrevista:

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CDN _  O anúncio de mais um reajuste dos combustíveis e do gás pegou os brasileiros de surpresa. Quais medidas o governo federal tem tomado para conter a alta dos preços ou para reduzir os valores?
Antônio Hamilton Martins Mourão_  Nós estamos enfrentando no mundo, como um todo, desde o começo da pandemia uma situação, vamos dizer assim, de desagregação da economia dos países. Todos os países passaram a enfrentar uma inflação crescente. Houve inicialmente, no começo da pandemia, uma redução na produção de petróleo. Quando as atividades começaram a retornar, essa produção não conseguiu acompanhar na mesma velocidade e, agora, foram itens extremamente elevados com essa guerra entre a Rússia e Ucrânia. Nos últimos dias, o mercado começou a se reequilibrar. Vamos lembrar que o barril de petróleo bateu 139 dólares, já caiu para 99/98 dólares. Então, consequentemente, vai ter uma realinhamento desses preços e nós teremos uma tendência para que haja uma redução. Em relação ao governo, este vem procurando soluções junto do Legislativo, seja operando alíquota de imposto seja zerando alguns impostos federais e há ainda a discussão sobre a criação de um fundo de estabilização cujos recursos seriam oriundos dos royalties e dos dividendos que a Petrobras paga ao governo federal. 

CDN _ No final de fevereiro, o senhor referiu que brasil não é neutro no conflito entre Rússia e Ucrânia e que não concordava com a invasão do território ucraniano. Em seguida, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou sua manifestação ao mencionar que "quem fala sobre esse assunto é o presidente. e o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro". Como o senhor recebeu essa manifestação?
Mourão _ O que acontece: eu na realidade, citei que o presidente não seria neutro né. Então, eu apenas fiz uma análise dos fatos históricos e deixei claro que a invasão que a Rússia procedeu sobre a Ucrânia era um ruptura do sistema internacional e abria um precedente perigoso. E que o país (Brasil) tinha que tomar posições a respeito do assunto e vem tomando. Se vocês olharem nossos votos nas Nações Unidas, nós votamos com a imensa maioria dos países condenando, vamos dizer assim, a forma como esse conflito está ocorrendo e reforçando os esforços para que se busque uma solução pacífica entre os dois países. Em relação ao que o presidente expressou, já conversei com ele e é um assunto que diz respeito apenas a nós dois.

CDN _ O senhor já manifestou a intenção em concorrer ao senado pelo RS. Como fica a articulação política a partir de agora? O senhor terá o apoio do presidente, e vice-versa? E no RS, temos dois pré-candidatos a governador alinhados ao presidente: o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni (será candidato pelo PL) e o senador Luis Carlos Heinze (PP). Quem o senhor irá apoiar?
Mourão _ Em primeiro lugar, quando eu informei ao presidente do meu pleito de concorrer ao senado no RS eu falei pra ele que contaria com o apoio dele e ele deixou isso bem claro para mim. Na quarta-feira, durante as minhas palavras na cerimônia de filiação ao Republicanos, eu também fui muito assertivo ao dizer que eu tinha chegado aqui como vice-presidente do presidente Bolsonaro e que iria apoiá-lo totalmente no seu projeto de reeleição por considerar que é o melhor para o país. Em relação às duas candidaturas existentes no nosso campo, o partido, o Republicanos, vem conversando com ambos os candidatos e estão buscando chegar a um lugar comum. A minha visão é uma divisão que está acontecendo no nosso campo e nós temos que buscar um entendimento de modo que a gente chegue com bastante força para eleger alguém comprometido com nossos valores.

Rádio CNN _ E o senhor optou por concorrer no RS, tendo a possibilidade no Rio de Janeiro...
Mourão _ É uma coisa muito clara, o Rio Grande do Sul é minha terra, eu me identifico plenamente com essa terra, apesar de ter vivido parte da minha vida plenamente no Rio de Janeiro. Mas vivi grande parte da minha vida aqui  onde tenho parentes, onde tenho uma quantidade imensa de amizades e eu considero então que representar o Estado do RS no senado federal para mim seria uma honra. É uma eleição mais complicada pelo peso dos candidatos que irão se apresentar, mas eleição é isso aí, a gente tem que buscar conquistar a admiração e o respeito do eleitor e ser bem sucedido no projeto.

CDN _ E quais os planos para os próximos meses?
Mourão _ Por enquanto, nós vamos iniciar uma pré-campanha acompanhando todos os ditames da legislação eleitoral. Permaneço como vice-presidente da república porque pela nossa legislação eu não preciso me descompatibilizar, apenas tem uma registração severa que não posso assumir a presidência em nenhum momento. Então, todas as vezes que o presidente Bolsonaro viajar para o exterior eu tenho que fazer o mesmo. Não só eu como também o deputado Arthur Lira que é candidato a reeleição como deputado e, consequentemente, também não pode assumir a presidência. Óbvio que vou fazer agenda, amanhã (sábado) mesmo vou a Bagé. Na semana que vem, na quinta, devo estar em Santa Maria, tenho um encontro com empresários santa-marienses ( sobre a forma como eu vejo as soluções necessárias para a gente resolver problemas que temos no Rio Grande do Sul que são muito similares a problemas do resto do país) ,e a noite, é a troca de comando da 3ª Divisão do Exército.

CDN _ E quais são os problemas e quais suas propostas?
Mourão _ Uma coisa clara é a questão econômica financeira do estado que é uma questão fiscal e que temos que auxiliar o governo estadual a buscar um equilíbrio das contas, a questão da infraestrutura, buscar recursos necessários para os projetos de infra, vemos muito claro a questão da duplicação da 290, é algo que tem que avançar porque é um artéria importantíssima do nosso estado, o apoio ao nosso agronegócio, a questão da estiagem, da seca, que temos que buscar soluções permanentes, é um fenômeno que vai continuar ocorrendo e nós não podemos ficar sujeitos a ficar sendo surpreendidos todo ano, e termos quedas na nossa safra, outros assuntos como a questão educacional, tem bastante coisa pra gente trabalhar. 

CDN _ As Eleições, em 2018, tiveram cenário polarizado, e esse ano, novamente...
Mourão _ Até o presente momento as duas candidaturas que estão realmente empolgando a população de acordo com as pesquisas que vem sendo publicadas é a do presidente Bolsonaro e do ex-presidente Lula. Existem outros candidatos naquilo que se convencionou chamar de terceira via, mas realmente eles não tem passado de 9 ou 10%, como o ex-ministro doutor  Sergio Moro, o Ciro Gomes, e outros com resultados muito pequenos. Ainda tem um largo período pela frente, pode ser que daqui pra lá o rumo desses candidatos, temos aí até a possibilidade do nosso governador atual o Eduardo Leite se apresente também a presidência. Então, eu acho muito prematuro você chegar e dizer que já está decidido que vai ser Bolsonaro versus Lula. 

CDN _ Quem o senhor indicaria como candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro?
Mourão _
Essa é uma questão que diz mais respeito ao presidente Jair Bolsonaro, eu estou concorrendo ao Senado porque ele deixou claro que gostaria de contar com outra pessoa nesse projeto de reeleição. Hoje eu vejo que já existe uma busca em haver um candidato no mesmo perfil que eu tenho, alguém do meio militar, mas também os apoiadores do campo político do presidente também estão buscando que ele escolha alguém da política e principalmente talvez uma mulher que seria importante face ao grande número de eleitoras que nós temos aqui no Brasil e, consequentemente, melhorando a proposta e a forma de chegar a essas eleitorais. Se falava muito no nome da ministra da Agricultura Tereza Cristina, seria realmente uma pessoa fantástica para acompanhar o presidente. Mas o que eu sei é que ela vai concorrer ao senado pelo Estado do Mato Grosso do Sul. Mas o presidente até agora não anunciou e não vai anunciar seu vice. Dia 26 ele vai anunciar sua pré-candidatura, mas o nome do vice acho que leva dois ou três meses para ser definido. 

CDN _ O Brasil começa a dar um passo adiante no enfrentamento à pandemia com a liberação do uso de máscaras em locais abertos. muitos estados já liberaram a máscara inclusive em locais fechados. como o senhor avalia o momento da pandemia no Brasil e o papel do governo nesse enfrentamento?
Mourão _ Essa questão da pandemia, a partir do momento que chegaram as vacinas nós já atingimos uma faixa de 80% da população vacinada e outro percentual bem grande com a terceira doce, como é o meu caso, por exemplo, e isso passou a dar uma segurança maior porque as pessoas mesmo se contaminando como foi o caso da Omicron, diminui o número de casos graves e de óbitos. E começou a entrada numa volta lenta para normalidade . o governo ao longo desse período procurou agir em três vertentes: a da saúde, fornecendo pessoal, material, cursos para que a rede de saúde pública pudesse atender a população, a compra das vacinas; vertente econômica abrindo linhas de crédito para que as empresas conseguissem manter suas operações, além disso também fez o pagamento de parcelas de funcionários para que não houvesse demissões em massa; e na área social nós tivemos o Auxílio Emergencial que foi pago em 2020 e 2021, o governo buscou mitigar os efeitos da pandemia, foi uma expansão fiscal muito grande, foram praticamente 800 bilhões de reais em 2020, mas conseguimos voltar ao nível normal já no ano passado.

CDN _ E polarização também existe no futebol aqui no Rio Grande do Sul. Amanhã (sábado) teremos Gre-Nal. Nesta polarização, o senhor é azul ou vermelho?

Mourão _ Eu sou torcedor do Aimoré de São Leopoldo ou Guarany de Bagé (risos)...

 (Colaborou Leandra Cruber)

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