data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
Jovem diz que insultos e preconceito e ela e às colegas são rotineiros
Aline Marafiga da Silva sequer conseguiu ir à manifestação organizada pelos colegas que pediam mais respeito e providências em relação à violência presenciada no centro da cidade na tarde de quarta-feira. Aline foi agredida com socos por um homem de 62 anos enquanto executava seu trabalho como monitora de estacionamento rotativo na Rua Astrogildo de Azevedo após ter feito uma notificação de multa no valor de R$ 15. No local, ele assinou um termo circunstanciado na presença da Brigada Militar (BM) sem ser conduzido à delegacia de polícia. Funcionária da empresa Rek Parking, esse é o primeiro emprego formal da jovem de 21 anos. Ela diz que está bem fisicamente, mas o sono foi interrompido na última noite, não consegue esquecer do que aconteceu e se sente com medo. Ela também denuncia que agressão e preconceito fazem parte da rotina dela e das colegas. Ao Diário, Vinícius Macedo, coordenador regional da empresa, repudiou e fato e disse que espera que a situação seja cumprida no rigor da lei. Contou também que o desrespeito às colaboradoras da Rek Parking "é algo que vem atrapalhando bastante, inclusive no momento das contratações que a empresa vem fazendo. Cada vez mais está parecendo ser um trabalho de risco, sendo que na teoria não era para ser, em hipótese nenhuma" Para ele, a agressão reflete a falta de paciência e ignorância por parte de muitos usuários.
Acompanhe a entrevista com Aline.
Diário de Santa Maria - Como tu estás e que providências pretende tomar depois do que aconteceu?
Aline Marafiga da Silva - É tudo recente, mas vou fazer o que for para tentar mudar isso (agressões diversas) no nosso dia a dia. Hoje fui liberada, estou bem fisicamente, mas psicologicamente não. Passei a noite e também acordei um pouco nervosa. Me sinto com medo. Medo de sair de casa, medo que aconteça de novo. Não sei como vou trabalhar. Estou recebendo todo apoio da empresa e recebi mensagens, ligações. Agradeço a todas as pessoas pelo apoio e àquelas que estiveram comigo na hora, me ajudaram com um copo d'água, com uma ligação para polícia.
Diário - Foi o funcionário de um estacionamento que chegou primeiro ao local e te ajudou?
Aline - Sim, se não fosse ele, acho que o homem continuaria me batendo. Ele errou a placa do carro na hora de digitá-la no aplicativo. Quando ele chegou e viu o papel, fui explicar a situação e ele disse 'agora vamos resolver' e me deu dois socos no pescoço. Eu caí e pedi socorro. Ele deu um terceiro soco e o rapaz chegou. Eu não fiz nada de errado, só estava prestando meu serviço. Ele que colocou o número da própria placa errada no aplicativo e, para mim, não constava no sistema. Fiz uma notificação, eu não ganho nada mais com isso. Essa foi a pior situação que passei em que me pergunto: a que ponto chega o ser humano? É muito machismo, é muita ofensa.Já cheguei a receber ameaça de que iria tomar uma tunda, mas nunca imaginei que um dia iria acontecer uma agressão de fato
Diário - Tu falas em machismo. Estamos na iminência no mês que celebra a mulher...
Aline - Sim. a maioria dos xingamentos são deles. Mas também existem mulheres machistas, que nos tratam muito mal e o que pior. Será que, ontem, se fosse um colega homem no meu lugar, ele ia agredir do mesmo jeito? Sem falar que não tem um dia em que eu ou minhas colegas não somos ofendidas. Nos chamam de vagabundas, dizem que estamos roubando, desfilando pela rua. A gente só está ali porque precisa trabalhar.
Diário - E tu moras em Itaara e vens todos os dias de ônibus para o centro de Santa Maria?
Aline - Sim. Sou natural de Itaara. É difícil arrumar trabalho lá, e não é toda empresa que aceita pagar passagem para funcionário. Meu primeiro emprego é esse na Rek Parking, eles me deram a primeira oportunidade. Tenho 21 anos, trabalho de segunda a sábado, venho de ônibus e também curso um técnico de Administração e Contabilidade três vezes por semana, à noite. É horrível o que já ouvi me dizerem: "porque não estuda para não estar aí"? Falam como se não fosse um trabalho digno. Estudo, sim, para melhorar, pois estou recém começando. É a primeira vez que tenho a carteira assinada. Mesmo que seja cansativo, pois trabalhamos na rua, mas não tem chuva ou tempo ruim que seja pior do que a maneira que algumas pessoas nos tratam.
Diário - Hoje, algumas colegas da Rek Parking fizeram uma manifestação pedindo respeito e Justiça
Aline - Agradeço a elas, achei tão bonito o que fizeram, mas eu não consegui ir. Estou meio em choque, parece. Espero que isso sirva de apelo. Não dá para deixar assim, de acontecer e deu. Espero posicionamento de todo mundo. Não é justo. Só quero que isso se repita comigo nem com nenhuma outra. É uma humilhação muito grande
O QUE DIZ A REK PARKING
Por meio de nota, a empresa se manifestou sobre o ocorrido. Leia na íntegra:
"A concessionária de serviço público da Zona Azul do Município de Santa Maria, RS, REK PARKING, vem a público informar e esclarecer a respeito do infeliz evento ocorrido na tarde de 04/03/2020, em que resultou em agressões físicas e verbais por parte de um usuário da Zona Azul à monitora que estava em serviço na Rua Astrogildo de Azevedo. Consideramos a conduta extremamente agressiva e desnecessária e nada justifica a postura adotada pelo usuário ao ofender a integridade física e moral da monitora que tem o poder delegado pelo Município para realizar o serviço de monitoramento do espaço público. A empresa concessionária repudia e não tolera hostilidade em todo seu ambiente de trabalho e informa que já estão sendo tomadas as providências preventivas no sentido de evitar possíveis ocorrências dessa natureza. Assim como passará a intensificar a identificação através dos veículos, daqueles usuários da Zona Azul que eventualmente ameaçarem, ofenderem ou utilizarem a força para intimidar as monitoras da Zona Azul que estão a serviço do Município de Santa Maria. De mesma forma, serão tomadas todas as medidas administrativas e judiciais possíveis. Esclarecemos ainda que a funcionária está sendo auxiliada pela empresa em todos os sentidos e não mediremos esforços para resguardar todos os seus direitos."