
Foto: Eduardo Ramos (Arquivo/Diário)
Com a chegada do mês de setembro, duas datas ganham destaque no calendário do mês no Estado — o Dia da Independência e o Dia do Gaúcho. Além dos tradicionais desfiles, as festividades também partilham de um símbolo parecido: o fogo.
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O Fogo Simbólico da Pátria e a Chama Crioula permeiam o imaginário do mês de setembro por meio da representação simbólica do fogo como elemento de cultura e tradição. Apesar de há décadas o elemento já estar consolidado nas festividades que comemoram a independência do Brasil e a os festejos farroupilhas, é comum que a origem dessa prática gere algumas dúvidas.
Diferente do que se pode imaginar, o Fogo Simbólico da Pátria (FSP) surge antes da Chama Crioula, em 1938, inspirado por uma outra chama famosa: a Tocha Olímpica. A ideia de acolher o fogo como símbolo da Pátria chega ao Rio Grande do Sul após uma delegação desportiva do Estado estar presente nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. A edição do evento desportivo, que ocorreu durante o período da Alemanha nazista, foi a primeira a empregar a corrida com a tocha. Cerca de 3 mil atletas realizaram o carregamento da tocha durante a rota, partindo do local onde se realizavam as antigas Olimpíadas em Olympia, na Grécia.

De volta ao Rio Grande do Sul, o jornalista Túlio de Rose, impressionado pela emoção que a Corrida de Revezamento da Chama Olímpica causou ao público do estádio, visualiza uma necessidade de repetir o feito no Brasil, como símbolo de reafirmação da unidade nacional. Para isso se concretizar, Túlio contou com o apoio do núcleo regional da Liga da Defesa Nacional (LDN).
No dia 31 de agosto de 1938, a 1ª Corrida do Fogo Simbólico da Pátria sai de Viamão às 21h, chegando às 0h do dia 1° de setembro, na Pira da Pátria, localizada no Parque Farroupilha em Porto Alegre. Esse percurso de 26km foi realizado por diferentes atletas, chamados de mensageiros do Fogo Simbólico, que revezaram a condução da chama.
Liga da Defesa Nacional
Tendo como um de seus membros o escritor Olavo Bilac, a Liga da Defesa Nacional surge com o objetivo principal, de acordo com o estatuto de 1916, de “congregar os sentimentos patrióticos dos brasileiros de todas as classes”, difundindo “a educação cívica, o amor à justiça e o culto do patriotismo”.
Passados 85 anos, no dia 22 de agosto de 2023 ocorreu a 86ª Corrida do Fogo Simbólico da Pátria, conduzida por equipes da Liga da Defesa Nacional que percorreram cerca de 330 municípios do Estado para distribuir a centelha do fogo em uma recepção que ocorreu na sede do 29º Batalhão de Infantaria Blindado (BIB), no Bairro Boi Morto. O vice-presidente da LDN, Cláudio Scherer, comentou sobre a tradição mantida através dos anos:
— Esse foi o grande objetivo (da criação da CFS), levar a essência do patriotismo através da simbologia do fogo. E essa simbologia se mantém ao longo desses anos, independentemente de qualquer bandeira política e de qualquer ideologia partidária. Nós levamos sempre através da Liga o civismo, incentivando o patriotismo — explica Scherer.
Chama Crioula
A Chama Crioula, expressão simbólica das comemorações do 20 de Setembro, origina-se de uma centelha do Fogo da Pátria. No dia 7 de setembro de 1947, no apagar da chama simbólica da Pátria, João Carlos Paixão Côrtes, Fernando Machado Vieira e Cyro Dutra retiraram uma centelha dessa e, assim, acenderam o primeiro candeeiro crioulo, que origina a Chama Crioula que é distribuída entre os municípios gaúchos durante os festejos farroupilhas.

A retirada da centelha já havia sido acordada com a LDN. De acordo o com Movimento Tradicionalista Gaúcho, Paixão Cortês subiu em uma escada com o archote improvisado, feito de cabo de vassoura, envolto por estopa embebida em querosene, presa por arames, e acendeu solenemente aquela que seria eternizada na história como a primeira Chama Crioula.
Sede da 13ª Região Tradicionalista (13ª RT), Santa Maria recebeu no dia 1º de setembro a Chama Crioula. A distribuição da centelha para as instituições tradicionalistas que compõem a 13ª RT ocorrerá no dia 13 de setembro.

O coordenador da 13ª, Luiz Marcos Pozzobon Junior, destaca a importância da tradição da Chama Crioula como simbologia para manter acesa a cultura e a tradição.
— A Chama Crioula é o que aquece os nossos corações, e é o que nos ajuda a incentivar e fomentar para os nossos filhos essa tradição. Essa tradição vem desde os meus bisavós, avós, pais e netos, e a gente vem cada vez mais proliferando e levando pra frente essa cultura e essa tradição, que é o acendimento da chama. E a gente pode ver, por onde a gente passa com a chama, uma certa curiosidade da criançada, uma certa curiosidade dos adultos e dos idosos — aponta Junior.