Com o início das obras para construção de pedágios e melhorias em alguns trechos da RSC-287, em preparação para a duplicação dos 204 km entre Tabaí e Santa Maria, produtores de morango que comercializam as frutas às margens da rodovia, em Agudo, afirmam que estão sendo notificados para se retirarem do local. A reportagem esteve na manhã desta terça-feira no trecho da RSC-287, onde tradicionalmente se encontram muitos pontos de vendas de morangos às margens da estrada. Porém, encontrou tendas vazias e fechadas.
O produtor Alberto Zimmer, 57 anos, mantém estufas para a produção de morangos com a família em sua propriedade e comercializa há anos os produtos na beira da estrada. Segundo ele, funcionários da Rota Santa Maria, responsável pela concessão, abordaram comerciantes nos últimos dias, informando-os de que não poderiam mais manter seus pontos de vendas tão próximos às margens da rodovia. Caso voltassem a vender no local seriam notificados e, posteriormente, multados. – Sabemos de outras pessoas que também tiveram que retirar as tendas de vendas das margens da RSC-287. Isso é ruim, pois lá é nosso ponto tradicional, não temos outro lugar para vender. Estamos pensando em outras maneiras, distribuindo os morangos na cidade, sem poder ir pro nosso ponto – diz Alberto.
O agricultor se diz preocupado com a possibilidade de não poder mais voltar ao seu local tradicional de vendas:– O foco da produção será agora em setembro e outubro, já temos muitos morangos plantados em Agudo. Se não pudermos vender lá, vamos vender onde? É uma fonte de renda para as famílias do município, principalmente as que moram próximas ao asfalto.
Foto: Marcelo Oliveira
Já a agricultora Márcia Dumke, 41 anos, que produz e comercializa morangos há 17 anos em Agudo, concorda que alguns produtores devem sair das margens da RSC-287. Ela relata que nos últimos dias também foi alertada para retirar algumas placas da sua tenda que ficavam próximas à rodovia, mas entende o pedido. Há seis anos, Márcia também deslocou seu ponto de vendas para um pouco mais longe das margens da RSC-287. – Acredito que os comerciantes que estão muito próximos devem ir para outro lugar, principalmente por questões de segurança. A maioria está com a tenda muito próximo à rodovia, onde passam ciclistas, inclusive. Mas entendo que isso vai gerar um grande transtorno para eles agora – diz a agricultora.
Márcia considera que, quando finalizada, a duplicação da RSC-287 deve impactar significativamente as vendas dos produtores locais:– As pessoas não terão mais o acesso direto às tendas, como existe agora. Com a duplicação, terão muitas estradas secundárias, o que pode dificultar um pouco as nossas vendas.
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O QUE DIZEM A PREFEITURA E A ROTA
Segundo o prefeito de Agudo, Luís Henrique Kittel (PL), formalmente, o município ainda não foi notificado sobre essa necessidade da retirada dos comerciantes do local. Porém, no início do ano, a prefeitura recebeu uma correspondência da Sacyr, por meio da Rota Santa Maria, informando que, após o dia 30 de junho, haveriam algumas regras para esse comércio. Placas que estivessem em uma distância de menos de 35 metros da RSC-287 precisariam ser retiradas, devido às obras, bem como produtores de morango não poderiam mais ficar às margens da rodovia e teriam que respeitar os 35 metros de distância. Muitos dos produtores entraram em contato com a prefeitura e a Secretaria de Agricultura pedindo esclarecimentos.
— Entramos em contato com a Sacyr para tentar solucionar essa questão, até porque só teria obras nesse trecho específico daqui 20 anos, logo não há necessidade de impedir a comercialização no local agora. Vamos pedir que a Sacyr tenha sensibilidade, pois a venda de morango é tradicional e uma das principais fontes de renda de Agudo. A quarta maior receita que entra no município vem do morango — diz o prefeito.
Ainda conforme o prefeito, a maior produção de morangos ocorre na região sul do município, justamente onde passa a RSC-287. Como são 7 km para entrar, efetivamente, em Agudo, após o pórtico de entrada, se justificam as vendas na beira da estrada. Segundo o prefeito, mais de 60% da produção de morango do município é comercializada na RSC-287. Na última safra, foram colhidas 250 toneladas da fruta, que tem renda bruta de R$ 4,5 milhões aos cerca de 100 produtores agudenses
Procurada pela reportagem, a Rota Santa Maria falou que nada foi protocolado oficialmente, e que não possui poder para multar os comerciantes. Ainda, informou que está em contato com a prefeitura de Agudo para que um lugar próprio para a comercialização seja providenciado futuramente.
— O pedido tem objetivo principal de resguardar a concessionária e a segurança dos comerciantes. Não estamos restringindo a venda ou a produção, ela pode acontecer desde que seja feita com segurança, respeitando a distância permitida da faixa e do acostamento conforme as normas do Daer — explica Renato Bortoletti, diretor da Rota.
Bernardo Abbad, especial
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