Quem me acompanha sabe que, de tempo em tempo, eu passo por aqui. E sabe, ainda, que minhas colunas têm sido um verdadeiro desabafo. Falar de tecnologia é e sempre será, ao menos quando eu levanto o papo, discutir sobre comunicação, direta ou indiretamente que seja. E, uma das maiores dificuldades da área de comunicação das empresas parece ser mensurar resultados tangíveis das ações, inclusive do ponto de vista financeiro. Por isso, recorrem à TI e segmentos correlatos, ao dito sempre novo marketing digital, suas fórmulas, panorama de visualizações etc.
Fato é que efetivamente demonstrar o valor em termos monetários tem sido uma preocupação para os comunicadores. Eu ando decepcionada com muito discurso afeto a visualizações e pouco relacionado à conversão, a resultado, à visibilidade e legitimidade. Defendo que a confiança (aquela que é gerada também pelas atividades de comunicação e pela coerência entre discurso e prática quando a empresa se comporta da forma como se espera e anuncia) possui valor econômico porque tem valor moral. Mas tem sido tão complexo falar sobre isso ou conseguir fornecedores e parceiros que tenham esse sentimento e postura! Que entendam que comunicação de resultado e artesanal não é renunciar à evolução e às tendências que a tecnologia implica. É entender que a tecnologia não vai dar conta do recado sozinha.
O marketing digital, por exemplo, está quase ganhando meu ranço. Ou melhor, não ele, longe disso, mas ditos profissionais gabaritados, sem ser, que esquecem que ele também demanda vida. Não tem ninguém com perfil, página em rede social, que não seja atacado por suas maravilhosas fórmulas, aquelas que prometem te fazer sair do absoluto Zero e atingir um faturamento de 7 dígitos em 7 dias. Não estou dizendo que isso não ocorra nunca, que seja impossível. Estou sugerindo tomar cuidado, filtrar a informação, conhecer a fonte. Têm excelentes profissionais construindo história e, de fato, gerando experiências e resultado. Mas também tem aquele que vende cursos e guias sobre como ganhar o primeiro milhão sem nunca ter ganho. Cuidado, repito.
E esse cuidado, sugestão a você, pessoa física, que sonha e clama por mudança, também é válido para você, gestor de uma organização, seja qual for o ramo. O marketing digital, o tráfego pago e toda série de termos em inglês (a maioria desnecessários por já existirem termos para tanto em português) que empurram como solução podem ser parte de uma estratégia, mas não a estratégia. Não são e nem nunca serão a solução para todos os problemas. E, não, eu não sou uma profissional sênior avessa ao novo mundo. Apenas acredito que contra fatos não há argumentos. Fórmulas são perseguidas pela humanidade a séculos.
Na idade média, por exemplo, os Alquimistas buscavam criar a Pedra Filosofal, que nada mais era que um objeto capaz de transformar qualquer metal em ouro. E, como se não bastasse, também poderia produzir o elixir da vida, uma substância mágica que prolongaria a vida. Quem a possuísse iria ter uma longa vida para desfrutar de riqueza infinita. Seria perfeito, não? Infelizmente os alquimistas não conseguiram o seu objetivo, (pelo menos até hoje não vi nenhuma prova social dizendo o contrário), mas esse desejo de se resolver as coisas com uma pílula e fórmulas mágicas não sai da nossa cabeça.
A verdade é que eu não vou ficar magra sem dieta e nem você vai vender tudo que precisa sem inspiração e transpiração, fruto de trabalho duro. Não jogue a responsabilidade pelo seu sucesso ou pelo seu fracasso ao tráfego, dizendo que possivelmente não delimitaram o perfil ideal. Também não contrate somente um profissional da área e ache que sozinho ele dá conta da estratégia. Questione, antes de culpar a tecnologia e a comunicação, se o que comunica é compatível à realidade. O quê estampa em seus cards e afins é real? É ou tem diferencial ou é mais do mesmo? A pessoa que adquire aquilo que você vende encontra – fielmente – o que promete? Ou melhor, se surpreende positivamente?
Esses dias comprei uma experiência que se vendia como a melhor do mercado e foi a pior que já consumi. É preciso que, antes de buscar fórmulas para reverberação e alcance do público, se concentre no feijão com arroz, em fazer o básico bem-feito. Muito bem-feito, aliás. Você precisa de um card, de um patrocínio e de uma segmentação de público para tudo? Como está o olho no olho? O atendimento? Já se perguntou sobre a qualidade de fato daquilo que oferece? E sobre o bem-estar de quem está na ponta? Está oferecendo recurso, estrutura, motivação para que as pessoas sejam agentes de venda ou crê, erroneamente, que cumprir obrigação é política de bem-estar funcional?
Suas campanhas não estão performando bem? Seu site está com baixo tráfego? As vendas estão estagnadas? Bom, essas são algumas, dentre as várias dores de cabeça que as empresas possuem quando estão investindo no digital. No entanto, muitas delas não são causadas por erros de marketing. Mas por conteúdo. E não pense que pelo conteúdo da campanha tão somente, mas pelo seu conteúdo enquanto negócio. Pela (in)capacidade de estratégia de quem conduz, de quem faz o velho e bom briefing. De quem tem que articular, se relacionar, aparar as arestas. Tecnologia é meio e não fim. Não sei quantas vezes eu precisei repetir isso aqui. Olhe para sua organização e para as pessoas que fazem a organização. Identifique qual foi o momento em que tudo começou a degringolar, busque essa energia vital novamente e depois, só depois, reverbere seu produto. Sucesso em marketing digital – e em todo resto – vem do que fazemos e somos de fato. Nenhum post vai te sustentar, afinal. Verdade, transparência, reunião de pessoas pegando junto, motivadas e incentivadas, isso vai.