Silenciosamente, o suicídio está avançando pelas faixas etárias e etnias da sociedade. De acordo com o material divulgado, ontem, pelo Ministério da Saúde, a taxa de mortes autoinfligidas cresceu entre idosos com mais de 70 anos, jovens – principalmente homens – e indígenas. Em dados gerais, anteriormente, o grupo jovem masculino já estava na maior porcentagem de vítimas no Brasil, mas, segundo os dados do Ministério da Saúde, as pessoas têm se matado cada vez mais jovens e cada vez mais velhos, aumentando a fatia da sociedade que é vítima desse grande mal.
O suicídio é uma questão de saúde pública e os dados coletados pelos setores deste departamento que indicam o tamanho do problema na região central do Rio Grande do Sul. De acordo com o acompanhamento de instituições e órgãos de Santa Maria, amparados em dados da vigilância da violência, pelo menos 23 pessoas se suicidaram na cidade de janeiro a agosto deste ano. O número pode ser ainda maior, porque muitas mortes ainda não são registradas como suicídio.
– Existe muito preconceito ainda. A família não quer ou existe alguma questão burocrática. Nos hospitais também acontece de uma pessoa chegar e ser internada com vida porque tentou se suicidar mas morrer de infecção, por exemplo, e ser registrada a morte por isto, mas, na verdade, a origem da morte é o suicídio – explicou a responsável pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), Virgínia Rossato.
Suicídio: como ajudar a reconstruir a vida de quem ficou
Em entrevista concedida ao Diário, a profissional de saúde ainda comentou que o núcleo têm trabalho para que a causa da morte seja identificada com a maior precisão possível e, segundo Virgínia, a conscientização tem aumentado ao longo dos anos. Desde 2011, a notificação de tentativas e óbitos por suicídio é obrigatória no país em até 24h.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, material do Ministério da Saúde que foi divulgado em alusão ao Setembro Amarelo, o número de suicídios de idosos com mais de 70 anos tornou-se alarmante nos últimos seis anos. Em nível nacional, nessa faixa etária foram registradas uma média de 8,9 mortes por 100 mil habitantes. A média nacional – entre todas as idades – é de 5,5 mortes para 100 mil habitantes. Para o Centro de Valorização da Vida (CVV) de Santa Maria, a confirmação já era esperada.
– Os dados não chegam a ser uma surpresa porque lidamos com estas pessoas todos os dias, mas, é muito preocupante porque o Brasil não é um dos países do mundo com maior número de suicídio, mas é um dos países onde o suicídio mais cresce – disse o fundador do CVV em Santa Maria, Jorge Brandão.

Profissionais buscam respostas para os altos índices
O relatório inédito do Ministério da Saúde vai orientar os governos estaduais e municipais na qualificação do atendimento da saúde mental, que vai ao encontro da meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que quer reduzir 10% de óbitos por suicídio até 2020. Para os profissionais da saúde mental, parte desse desafio está em entender e dar caminhos para que as pessoas procurem ajuda ou ajudem os parentes e amigos que estão passando por momentos de crise.
– Em Santa Maria, os casos de emergência, quando a pessoa está prestes a se matar, a família ou a própria pessoa deve procurar o atendimento da Unidade de Pronto Atendimento 24 horas (UPA) ou Pronto Atendimento (PA). Em casos de tendências suicidas a pessoa vai encontrar atendimento nas policlínicas da cidade – informou a psicóloga que trabalha na Secretaria de Saúde do município, Daniela Rodrigues Hoffmann.
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ATENÇÃO
Segundo a psicóloga, para prevenir o suicídio é importante que a família se mantenha atenta aos sinais da pessoas que estão em volta.
– Os sinais são muito subjetivos, mas, de um modo geral, as pessoas que estão pensando em cometer suicídio mudam em alguma coisa. Se era uma pessoa comunicativa, fica uma pessoa mais solitária, tem alterações de sono, de rotina ou até mesmo de agressividade – comentou Daniela.
Segundo o diagnóstico do Ministério da Saúde, 62% dos suicídios no Brasil são por enforcamento. Os homens continuam na frente do índice de morte, correspondendo a 79% do total de óbitos. Os solteiros, viúvos e divorciados foram os que mais morreram por suicídio, representando mais da metade dos casos. Já na comparação entre raça/cor, a maior incidência é na população indígena. A taxa de mortalidade entre os índios é quase três vezes maior do que o registrado entre os brancos e os negros.
Mais de 99% dos casos poderiam ser evitados, segundo o CVV
A taxa do suicídio entre jovens de 15 a 29 anos é de nove mortes por 100 mil habitantes no Brasil. Entre as mulheres, o índice é quatro vezes menor entre as mulheres. Para o fundador do CVV de Santa Maria, Jorge Brandão, existe uma relação entre a taxa alarmante de jovens que se matam e idosos, como mostrou o relatório do Ministério da Saúde.
– Tanto idosos quanto jovens estão em uma fase da vida que existe uma dificuldade grande de se expressar e de compreender a vida, ter um sentido real de viver. Muitos idosos ainda perderam a companheira ou o companheiro e tendem a se isolar. Estão à margem da sociedade, sem integração social – disse Brandão.
Na população indígena, a faixa etária de 10 a 19 anos concentra 44,8% dos óbitos. Na avaliação de Brandão, os indígenas, atualmente, têm vivido um choque de vida.
– Eles migram para os grandes centros, que têm tudo de bom e tudo de ruim. A maioria tem dificuldade de conseguir se adaptar e acaba sentindo que não pertence à sociedade, mas também não pertence mais à tribo de onde vieram. Existe o problema do alcoolismo também, muito presente nos casos de suicídio – declarou Brandão.
O alcoolismo está entre os fatores de risco para o suicídio, assim como os transtornos mentais, depressão, e esquizofrenia, além das condições sociais. Para os profissionais de saúde, 90% dos casos podem ser prevenidos com a ajuda de médicos e de amparo social.
GRUPO DE APOIO
O suicídio têm se mostrado uma questão delicada para a sociedade como um todo. Se para os profissionais de saúde é um desafio, na família e nas instituições é um assunto que causa muita dor. Tanto que, para os especialistas, os enlutados do suicídio – amigos e parentes de quem se suicidou – são chamados de sobreviventes.
Para atender a essas pessoas e aquelas que sobreviveram a tentativas de suicídio o CVV de Santa Maria vai abrir, no mês que vem, o Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio (GASS). De acordo com Jorge Brandão, o primeiro grupo deve reunir-se na primeira quinzena de outubro.

Onde buscar ajuda
Centro de Valorização da Vida (CVV)
O quê – O Centro de Valorização da Vida é um serviço de emergência que presta apoio emocional pelo telefone 188, 24 horas, de forma gratuita. Em Santa Maria, o CVV também oferta atendimento presencial, de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h, no posto. Pela internet, o centro oferece, ainda, a possibilidade de atendimento via chat, em que voluntários treinados interagem com internautas, por meio do site cvv.org.br
Onde – Anexo à Estação Rodoviária de Santa Maria
Informações – [email protected]
Espaço Nise da Silveira
O quê – O Espaço Nise da Silveira & Associação de Familiares, Amigos e Bipolares de Santa Maria (Afab), em parceria com núcleo de Vigilância Epidemiológico do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), presta apoio emocional a sobreviventes e familiares, sempre na segunda quinta-feira de cada mês
Onde – Prédio de Apoio da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Antigo Hospital Universitário (Rua Floriano Peixoto, 1.750)
Informações – (55) 3220-9238, [email protected] e husm.ufsm.br
Casos de emergência
UPA 24 HRS
Local: Rua Ary Lagranha Domingues, 188, Itararé
PA Patronato
Local Av. Jorn. Maurício Sirotski Sobrinho, 70 - Patronato, Santa Maria
Casos sintomáticos
Unidades Básicas de Saúde
Policlínica Wilson Aita
Local; Av. Pres. Vargas, 2355, Nossa Sra. de Fátima
Policlínica Medianeira
Local: R. Silva Jardim, 2030 - Nossa Sra. do Rosário