Filhos da Violência

Série mostra a situação de crianças vítimas de violência

Lizie Antonello e Marilice Daronco

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Dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República revelam que 15 crianças são vítimas de violência no Brasil a cada hora. Isso significa que, enquanto você joga uma partida de futebol, 21 crianças podem se transformar em vítimas. Enquanto é exibido um capítulo de novela, pelo menos seis crianças sofrem algum tipo de agressão. Nas oito horas em que você está no trabalho, 120 crianças podem ser estupradas, torturadas ou castigadas fisicamente.

Em Santa Maria, 254 crianças e adolescentes _ entre 0 e 17 anos _ vítimas de violência receberam atendimento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social este ano. Ou seja, a cada um dia e meio, pelo menos uma criança ou um adolescente sofre violência. E 39% são casos de estupro.

O número parece alto, mas os especialistas acreditam que ele seja ainda maior, afinal, esses são apenas os casos em que alguém teve coragem de fazer a denúncia. É consenso que há casos que jamais serão descobertos, e agressores que nunca serão punidos. Isso porque o trabalho da rede de proteção _ que tem a difícil missão de proteger as vítimas e tentar punir os responsáveis _ enfrenta dificuldade de falta de estrutura e de lidar com famílias que, muitas vezes, protegem os agressores ou abusadores.

Em Santa Maria e região, ao longo de 2014, pelo menos nove casos de violência contra crianças ganharam repercussão. Isso sem contar a morte do santa-mariense Bernardo Boldrini, 11 anos, que tem entre os principais suspeitos o pai e a madrasta do menino. São histórias que envolvem pais que maltrataram os filhos, de crianças abusadas por vizinhos ou de vítimas de negligência, mas que, de forma geral, vão trazer um impacto para a vida de quem está só começando e já tem que aprender a superar e enfrentar uma inimiga tão forte: a violência.

Para incentivar a discussão e a busca de soluções para o fim desse tipo de violência, o "Diário" publica a série "Filhos da violência", em cinco reportagens a partir desta terça-feira.

Segundo o psicólogo André Assunção, de Santa Maria, nos últimos oito anos, houve um aumento significativo e gradual de pessoas que chegam ao consultório com histórico de abuso cometido por pessoas muito próximas:

_ Geralmente, as pessoas, já adultas, chegam com quadro de depressão ou ansiedade aguda. Trabalhando a história pregressa dela se chega ao ponto em que houve o abuso, ou na infância ou na adolescência.

Ainda há um longo caminho até que se possa dizer que as nossas crianças estão protegidas. Até lá, impera a necessidade de lutarmos todos os dias em favor dos direitos daqueles que, na maioria das vezes, não sabem ou não conseguem buscar ajuda sozinhos, daqueles cujo silêncio pode esconder a dor de uma infância perdida. São os filhos da violência.

Em muitos casos, o agressor está dentro de casa

Quem vê o sorriso doce e o olhar arteiro da menininha não imagina tamanha violência que ela já sofreu nos seus apenas 2 anos de vida. Apesar da dor física e da pressão psicológica a que foi submetida por cerca de seis meses, entre fevereiro e agosto deste ano, em Santa Maria, bastaram alguns minutos no colo da mãe, de 31 anos, durante o início de uma conversa, na última quinta-feira, para ela deixar a timidez de lado e se soltar. A partir daí, foram só sorrisos, frases na linguagem própria das crianças e que só os pais entendem, além de muita brincadeira. Mas essa descontração faz parte de uma realidade bem diferente daquela a que a pequena estava submetida meses atrás.

Sem ter onde morar nem como sustentar a si e as três filhas, em fevereiro deste ano a mãe entregou a caçula ao pai das meninas, que passou a morar com outra mulher. À época, a pequena tinha 1 ano e 2 meses. Passado algum tempo, a madrasta e o pai da criança passaram a impedir que a mãe biológica a visitasse.

Segundo a mãe, foram várias as tentativas sem sucesso. Até que, em 29 de agosto, a mãe foi surpreendida pelas palav"

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