Com o tema Etnias do Gaúcho: Rio Grande terra de muitas terras, os Festejos Farroupilhas de Santa Maria também prestam homenagens a nomes que traduzem bem esse sentimento de manter viva a chama da tradição. O Patrono local das festividades é Renato Pivetta, que vive o tradicionalismo gaúcho há mais de 90 anos. Com menos idade, mas igual orgulho, Matheus Sachett, 23 anos, o 3º Peão Farroupilha do Estado, e Mateus Rodrigues, 17 anos, o 2º Guri Farroupilha, representam o CTG Sentinela da Querência no Rio Grande do Sul. Também tem espaço para legados que não se apagam jamais. O homenageado local deste ano, Alberi Pereira da Silva, morreu em abril, enquanto fazia o que mais amava: dar aula de danças tradicionais no CTG. Nesta edição da Revista MIX, contamos um pouco dessas histórias de orgulho e tradição. A primeira parte da reportagem fala sobre o homenageado póstumo, Alberi Pereira da Silva.
O 33° Entrevero Cultural de Peões do Estado, que ocorreu entre os dias 21 e 23 de abril, em Palmeira das Missões, consagrou dois nomes de Santa Maria como representantes da cultura e do campeirismo gaúcho. Matheus dos Santos Sachett e Mateus Cruz Rodrigues, ambos do CTG Sentinela da Querência, foram eleitos 3º Peão e 2º Guri Farroupilha do Estado, respectivamente. No Entrevero, cerca de 40 candidatos disputaram o título de peão, guri e piá farroupilha. Para ser escolhido, é preciso fazer uma prova escrita sobre a história do Rio Grande do Sul, tradicionalismo e folclore. Também passaram por avaliação artística em que tinham que cantar, tocar instrumentos, declamar ou dançar músicas gaúchas tradicionais. Além disso, participaram de provas campeiras, como encilhar e andar a cavalo, e provas de galpão, churrasco e chimarrão.
Matheus Sachett, à esquerda, 3º Peão Farroupilha do RS, e Mateus Rodrigues, 2º Guri Farroupilha do RS.
MATHEUS SACHETT E MATEUS RODRIGUES (DESTAQUES LOCAIS)
O santa-mariense Matheus Sacchett tem 23 anos e é acadêmico de Educação Física na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A caminhada tradicionalista dele começou por meio da invernada artística do CTG Sentinela da Querência. Após algum tempo, sentiu vontade de representar a entidade dentro do departamento cultural. Assim, chegou ao cargo de 2⁰ Peão Farroupilha da 13ª RT em 2017. Seguiu ligado ao meio cultural, decidindo, em 2019, mais uma vez, estar à frente como Peão Farroupilha, chegando esse ano ao cargo estadual. Para Sachett, ser o atual 3º Peão do Rio Grande do Sul, com certeza, é uma das conquistas mais gratificantes da caminhada tradicionalista:– Costumo dizer que quando um jovem tradicionalista alcança uma gestão estadual de prenda e peão, ele chega no ápice da representatividade da juventude tradicionalista.
CAMINHO CERTO
Quando soube que seria um dos destaques homenageados dos Festejos Farroupilhas de Santa Maria, Sachett teve o sentimento de estar no caminho certo. Para ele, a homenagem simboliza o reconhecimento de todo trabalho que vem fazendo enquanto tradicionalista.– Eu fico extremamente lisonjeado por estar nessa posição ao lado de tantos outros nomes que já foram homenageados – conta Matheus Sachett.Ele ressalta a importância da participação do jovem no movimento tradicionalista gaúcho. Sachett menciona, inclusive, que foi a partir de jovens que surgiu o movimento tradicionalista, organizado em 1947.– O principal papel do jovem tradicionalista é entender que a força do movimento vem dele. A juventude é a garantia da continuação do movimento, de fazer com que o tradicionalismo siga por mais longos anos.
O MATEUS SEM H
Companheiro de CTG, um outro Mateus é o atual 2º Guri Farroupilha do Rio Grande do Sul. Mateus Cruz Rodrigues, de 17 anos, está cursando o segundo ano do Ensino Médio e também começou no tradicionalismo bastante jovem, na invernada mirim do CTG. Atualmente na invernada adulta, ele está ansioso para dançar no Encontro de Artes e Tradição Gaúcha, o Enart. Para ele, é uma responsabilidade muito grande ser Guri Farroupilha, pois, além de representar todos os jovens tradicionalistas, Mateus tem a missão de trazer novas pessoas para o movimento.– Levo meu conhecimento e experiências para os jovens, para que, cada vez mais, eles sejam ativos no movimento fazendo com que o tradicionalismo continue vivo – diz Rodrigues.O santa-mariense, que representa a juventude no MTG, define como uma honra e uma baita alegria ser um dos homenageados nos Festejos Farroupilhas de Santa Maria em 2022.– Nunca imaginei que isso iria acontecer. Agradeço de coração a 13° RT pela homenagem. Espero continuar sempre representando e levando o nome da minha região para o resto do Estado – anseia.Mateus Rodrigues reforça que o jovem é o presente e o futuro do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Para ele, a juventude representa a força que luta para que as tradições não se percam e continuem vivas, renovando-se a cada momento.– É o jovem que vai continuar o que aprendemos com os mais velhos e mais experientes, podendo passar adiante para as novas gerações – finaliza.
RENATO PIVETTA (PATRONO LOCAL)
O patrono local dos Festejos Farroupilhas é o militar reformado Renato Pivetta, que cultiva a tradição há mais de 90 anos. A história dele é marcada por grandes contribuições tanto ao Brasil quanto ao movimento tradicionalista gaúcho. Na década de 1950, Renato integrava ao Exército Brasileiro, como sargento-enfermeiro. Após cumprir o tempo na instituição, ingressou na Brigada Militar. Nas horas vagas, Pivetta trabalhava na prefeitura de Porto Alegre, onde conheceu o então prefeito, Leonel Brizola. Quando este se elegeu governador, Pivetta se tornou segurança do Palácio Piratini e da casa do governador, aos 26 anos. Nessa época, também se formou em Direito pela PUC de Porto Alegre. Renato Pivetta participou de momentos históricos do país: na Campanha da Legalidade, em 1961, foi chamado a ajudar na segurança do Palácio. Durante a ditadura militar, foi preso e se exilou no Uruguai.Renato Pivetta participou de diversas cavalgadas, mas destaca as da Integração dos Distritos de Santa Maria, que tiveram início em 1999, quando era da secretaria da 13ª RT, cargo em que permaneceu por 9 anos. Participou também da condução da Chama Crioula em várias oportunidades e diferentes regiões tradicionalistas. Desde 2003, é membro da Ordem dos Cavaleiros do Rio Grande do Sul. Grande domador de cavalos, “Tio Pivetta” também foi homenageado por grupos de cavalgada do Estado por estar sempre divulgando a cultura gaúcha e ter ajudado a criar vários grupos e CTGS.“Secretário mais detalhista das cavalgadas ainda não encontramos, sempre anotando tudo dos locais visitados”, diz na homenagem.Na década de 1970, foi presidente do MTG do Rio Grande do Sul, e secretário na gestão de Vasco Mello Leiria, durante a criação da 2ª Zona Tradicionalista, (as zonas precederam a criação das atuais regiões tradicionalistas) o acompanhando em encontros regionais.– Sempre andei pilchado, e continuo até hoje, mesmo sozinho em casa. Até quando eu trabalhava em frigorífico, usava o avental branco de lapa por cima da pilcha. Nunca tirei o lenço do pescoço – conta Pivetta.É patrão do CTG Abas Largas há muito tempo e fica triste de não poder mais realizar eventos lá, pois falta verba para arrumar uma parede caída. Devido a problemas de saúde que foram se acumulando ao longo dos anos, irá entregar a patronagem ao capataz. Para Pivetta, um dos maiores orgulhos enquanto tradicionalista é ver os costumes gaúchos espalhados pelo mundo:
– Os nossos CTGs estão em mais de 28 países. O grupo de danças do CTG Ponche Verde, por exemplo, que eu ensinei a dançar, se apresentou no Japão recentemente. Queriam que eu acompanhasse, mas infelizmente não posso.
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