Propósitos e flexibilidades: novo sentido do trabalho
Suséli SantosPsicóloga
Durante muito tempo, o trabalho foi visto como parte central e mais importante da vida das pessoas. Períodos ininterruptos de dedicação eram glamourizados e o “trabalhe enquanto eles dormem” era visto como um mérito e a melhor fórmula para ter sucesso e realização pessoal. Desta forma, com o início das novas gerações e o advento da tecnologia, esse cenário começou a ganhar novos conceitos e a alterar práticas de gestão de pessoas.
Entretanto, com a chegada da pandemia de Covid-19, essa mudança se intensificou. Embora a emergência sanitária provocasse grande crise econômica e insegurança sobre o futuro, permitiu aos profissionais a oportunidade de refletir mais sobre seus objetivos de vida e o lugar que o trabalho ocupa em sua jornada, salientando que a rotina de dedicação exaustiva à empresa precisava dar lugar à busca por mais flexibilidade, desenvolvimento e propósito.
Desta forma, as pesquisas e algumas companhias mostram que já estão desacelerando, revelando que o trabalho perdeu essa centralidade e as pessoas não querem apenas viver para trabalhar, querem mais do que isso, querem viver outras experiências, procurando um estilo de vida mais simples, com mais qualidade e equilíbrio.
Assim, como uma pesquisa da Gartner mostra que 91% dos líderes de recursos humanos estão preocupados com o turnover (número de colaborador que deixam o trabalho) num futuro bem próximo. Já no Brasil, os estudos revelam índices de turnover mais altos e, em alguns setores, observa-se um apagão de talentos. Além da reavaliação e da rejeição de retorno aos modelos tradicionais muitas pessoas estão pedindo demissão porque não aceitam mais trabalhos que levam ao esgotamento mental.
Visto que a prioridade é o Employee Value Proposition (EVP), ou proposta de valor ao colaborador, uma soma de recompensas e benefícios que uma instituição oferece para seus colaboradores, recebendo por parte deles um alto nível de performance e produtividade no ambiente laboral.
Segundo a neurocientista Ana Carolina Souza, as empresas tinham um desenho muito racional do trabalho, com um ambiente mais pragmático e de entrega. As questões emocionais não eram bem-vistas. “As necessidades mudaram e já não é possível separar os dois mundos: trabalho e sentimentos. As companhias e os líderes de RH precisam conectar as ações e o comportamento humano, focando em harmonia e integração do trabalho com a vida pessoal”. Isso quer dizer: focar não apenas nos benefícios básicos, e sim nos sentimentos que a empresa quer proporcionar às pessoas.
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