Flores em vida
Arnoldo MachadoPalestrante ativacional
Eu, esse escritor que lhes escreve, tem um doce encargo: realizar ofícios fúnebres. Uma tarefa nada fácil e, muitas vezes, árdua. E com não poucas histórias para contar, muitas delas seriam cômicas se não fossem trágicas. Histórias como reconciliação de casais, descobertas de paternidade, brigas e discussões diante do corpo sem vida, traições reveladas, “Pai-Nosso” esquecido na metade… e segue uma lista enorme de ‘causos’ de ofícios fúnebres.
Todavia, há algo em todos os ofícios que não beiram nem de perto o humor trágico: o lamento de arrependimento; o beijo não dado; o perdão não liberado; o sorriso trancado; o “eu te amo” não dito… enfim, as flores depois da vida.
Nestes momentos de dor e separação de almas, presenciamos um desfile de lindas palavras; tocantes homenagens; salmodiar de versos bíblicos… diante de ouvidos silenciosos e indiferentes, obstruídos pelo além. Tudo isso que deveriam ter sido dados em vida: Flores em vida.
E sempre a pergunta vem: “Por que fazemos isso só agora? Por que desperdiçamos tantos bons momentos por pequenas desavenças? Por que impedimos a felicidade de entrar em nossas histórias? Por que de tão poucas flores em vida para tantas flores depois da vida?”
Flores depois da vida não exalam perfumes, e por isso não cumprem seus propósito.
Flores em vida é o carinho do reconhecimento, é o afeto em palavras, é o amor concretizado em um abraço, é a direção dada em palavras bem-ditas.
Flores em vida rompem o silêncio da indiferença e colorem os famosos dias cinzentos.
Flores em vida trazem razão à vida. Simples assim!
Flores depois da vida em pouca razão de ser.
Eu, o escritor, já idealizei meu velório: Será muito bonito, muita música e muita festa. As pessoas vão rir ao lembrar de minhas histórias e misturarão com as lágrimas da saudade por não poderem mais ouvir minhas histórias bobas. Haverá muita gente. Muitos amigos. Muitos irmãos. Muitos familiares. E alguns poucos inimigos (mas eles estarão); e meu maior lamento serão as flores depois da vida. Minha maior tristeza (que ironicamente não sentirei) serão as palavras elogiosas, queridas e amáveis que não ouvi em vida. (Emoji de frustração).
Eu quero flores em vida. Depois, só quero que você, caso esteja em meu velório, só celebre e agradeça a Deus por eu ter existido. (Emoji de alegria).
E esse não é o desejo só meu, e sim de todos que já partiram, e pasmem: também é o desejo dos que não partiram! Para tanto, flores em vida, meu povo! Flores em vida! Beijos em vida. Abraços em vida. Perdões em vida. Restituições em vida. Cheiro e brilho de um flor em vida.
Apelo final: Não deixe para beijar/amar/apertar amanhã o que se pode fazer hoje… hoje mesmo após o término desse texto. O amanhã pode inexistir e levar com ele a oportunidade de presentear com flores vivas.
Faça-o hoje. Sem pensar muito. Sem vergonha alguma. Ofereça flores em vida e maximize dias nessa vida.Amem e amém!
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