Paulo Antônio LaudaCirurgião-dentista e ex-professor da UFSM
Com a graça de Deus tenho muitos amigos. Frequento diversos e heterogêneos grupos. E como sou um observador nato, passei a notar um comportamento humano muito interessante. Existem algumas pessoas que falam muito. Observem… Possuo alguns amigos, queridos e amáveis amigos, que ao chegar em um círculo de conversa já em segundos assumem o protagonismo e falam sem parar. Um assunto puxa outro e continuam falando e falando… daí algum interlocutor da prosa ousa introduzir algo complementar ou até diferente ao assunto, mas logo o falante surge com novo discurso. E o tempo de prosa não se acaba, não havendo tempo para que outras pessoas também participem.
O que me deixa entender é que elas estão desesperadas para falar, e acabam ouvindo muito pouco. Certa vez, eu e um amigo em uma prosa afiada que estávamos, discutíamos um determinado assunto do cotidiano, e quando eu conseguia introduzir minha opinião, percebia que ele ficava me olhando fixo, mas, provavelmente, pensando somente nas suas próximas frases, e sem dar atenção a nada que eu argumentava. Passados alguns segundos e, sem se dar por conta, voltava a falar novamente. O interessante é que coincidente com o assunto em pauta ou não, as opiniões dos outros pareciam não ser interpretadas. E mais, tenho a impressão que esse comportamento está ficando mais comum.
Será esta constatação real ou imaginária da minha parte? Às vezes, eu que também sou muito falante, tento me policiar baseado no fato que temos dois ouvidos e uma boca, e por uma lógica matemática, devemos ouvir duas vezes mais do que falamos. Com todos os meios de manifestar a expressão humana que surgiram no mundo moderno, ainda há essa extrema necessidade do homem em se fazer ser ouvido pelo mundo. Será que estamos nos sentindo mais solitários e precisamos extravasar quando possível? Dia destes, ouvi de um morador de uma pequena cidade da região que jamais mudaria para um grande centro urbano, porque lá todos correm muito e vivem mais solitários.
Será verdade? Ou talvez, estejamos muito mais egoístas e críticos com relação às opiniões alheias. Às vezes, é tão bom sentar num canto com um amigo e dialogar larga e calmamente nossas histórias. Ou numa outra hipótese que versa sobre nossa introspecção social e consequente diminuição destes momentos de convivência. Podemos dizer que falar e pensar são atos muito semelhantes, mas com a única diferença, que ao falar somos observados e avaliados por outra pessoa. Aquela pessoa que fala pouco, é provavelmente uma pessoa que pensa muito. Ela, realiza o pensamento, mas não o expressa (os grandes pensadores faziam assim).
Já àquelas que falam muito, provavelmente pensam enquanto falam. Daí se explica o fato de uma pessoa num simples exercício de meditação conseguir aquele momento íntimo e outra dizer que não consegue parar de pensar, e daí não se concentra para meditar. Ou ainda, como nos casos individuais daqueles que falam com facilidade num discurso de improviso, mas demandam de extrema dificuldade de seguir um script pré-elaborado. É um bom ponto para ser avaliado, e talvez melhor administrado, não acham?
Leia o texto de Silvana Maldaner