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PLURAL: os textos de Rosana Zucolo e Rony Cavalli

A banalidade do mal
Rosana Cabral Zucolo
Jornalista, professora nos cursos de Jornalismo e PP da UFN

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Durante a última campanha eleitoral para a presidência da República, houve uma forte manifestação internacional contra a candidatura do presidente eleito Jair Bolsonaro, sob o argumento da sua proximidade com o movimento neonazista. Isto soou anacrônico e exagerado para a mal informada população brasileira que via a ação de grupos de esquerda e/ou nem tomou conhecimento do fato. Pois bem, nos últimos dias, a divulgação da descoberta da antropóloga e pesquisadora da PUC de Campinas, Adriana Dias, de uma carta do então deputado federal Jair Bolsonaro, datada de 17 de dezembro de 2004, dirigida a neonazistas que mantinham o site extremista brasileiro-português Econac (retirado do ar em 2006), evidencia que a preocupação internacional tinha mais fundamento do que aparentava.

A antropóloga, que há 20 anos rastreia pela internet as atividades de grupos extremistas da ultradireita no Brasil, localizou o material por acaso entre antigos arquivos de sites guardados para análise. Segundo ela, além da carta foram encontrados banners com frases de efeito, fotos do então deputado (algumas de farda), saudações e felicitações por usuários neonazistas, constatando ainda, a presença de materiais de Bolsonaro no site Poder Branco, que defende a supremacia branca.

A carta, entre outras felicitações de final de ano carregadas de conotações ideologizadas, afirma que "Todo o retorno que tenho dos comunicados se transforma em estímulo ao meu trabalho. Vocês são a razão da existência do meu mandato", evidenciando a importância dada ao vínculo com estes grupos extremistas.

O episódio se segue e soma à repercussão negativa ocasionada pela visita ao Brasil da deputada alemã de ultradireita Beatrix Von Storch, neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler, Lutz Graf Schwerin von Krosigk, e uma das principais expoentes do polêmico partido nacionalista-conservador Alternativa para Alemanha (AfD). Conhecida por seu histórico xenófobo e anti-imigração - chamou imigrantes de "horda de estupradores" e defendeu que a polícia abrisse fogo contra mulheres e crianças que tentassem entrar no país, provocando manifestações de repúdio da comunidade internacional - a deputada foi recebida por Bolsonaro no último dia 22 de julho, durante uma hora, em visita fora da agenda presidencial. 

Entre as questões a serem colocadas, está a do silêncio do atual presidente da República sobre os seus vínculos com tais grupos extremistas. Certamente, se tais informações surgissem durante a campanha, parte do seu eleitorado funcional poderia ter debandado, uma vez que o nazismo continua a ser apontado como uma das maiores chagas da humanidade. Outra, lembrando aqui Hanna Arendt ao dizer sobre a banalidade do mal, é a de se pensar no consentimento a um tipo de racionalidade que se volta contra a própria civilidade. Um grau extremado de racionalização marcado pelo uso de técnicas, recursos jurídicos e relações de poder gera uma burocratização que mascara a incivilidade. 

Foi neste contexto que os alemães aceitaram a proposta do nazismo, ainda que essa solução fosse o extermínio do outro. E o nazismo fez o uso habilidoso do conceito do outro como aquele que te prejudica, que compete contigo, que quer o teu lugar. Ou seja, nesta ótica, o nazismo não foi uma exceção, uma monstruosidade histórica. O holocausto consistiu numa profunda técnica racional de extermínio. Cada um era responsável por uma parte do processo, do embarque nos trens à limpeza das cinzas dos fornos de cremação, e ninguém se via como um assassino. Apenas alguém que cumpria as leis do seu país. 

Pessoas normais psicologicamente condicionadas são capazes da maldade. Aconteceu. Parece estar acontecendo novamente. Aqui também!

A vertente dos meus valores
Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário

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Eu que vivo combatendo os privilégios, especialmente no serviço público, hoje peço uma espécie de licença poética aos leitores e ao próprio Diário para transgredir e cometer uma espécie de "nepotismo literário" e usar este espaço em proveito próprio.

Se tenho uma boa formação e uma boa profissão e, especialmente, uma boa capacidade de comunicação e, em razão disto, estou neste espaço onde, semanalmente, publico minha opinião, análise e críticas, sempre na intenção de contribuir com uma sociedade melhor e mais justa, não construí isto sozinho e sim tive o apoio incondicional da minha família.

Meu pai e minha mãe, especialmente em razão de suas humildes condições econômicas, não mediram sacrifícios e esforços para me dar estudo, sendo que sei que, muitas vezes, este esforço hercúleo que fizeram representou sacrificarem-se e passarem por privações.

Os valores e princípios que expresso semanalmente neste espaço, apesar de minha boa formação acadêmica, não foram forjados na academia e sim têm origem na educação familiar, nas lições e exemplos que tive dos meus pais.

Meu pai tirava o sustento da família de seu pequeno armazém, do qual não tinha feriado, domingo ou férias, pois, todo santo dia, abria seu estabelecimento comercial ao clarear do dia e só fechava quando o último freguês saía, o que, muitas vezes, acontecia já tarde da noite, pois também tinha serviço de bar.

Inúmeras vezes presenciei a preocupação do meu pai com os compromissos da semana seguinte que venceriam e que teria que pagar e, por isto, abria mais cedo ainda o armazém e fechava mais tarde, pois jamais admitia não cumprir um compromisso e eu sempre assisti ele cumprir a todos.

Homem sério e rígido na educação dos filhos, muitas vezes nos puniu com rigor e fez o que hoje, nestas impróprias intervenções estatais no seio familiar, seria acusado de maus tratos. Levei algumas broncas, castigos e, inclusive, surras de ficar com as pernas marcadas, cujos efeitos somente fui reconhecer mais tarde e que ajudaram a formar o que sou.

Uso esta coluna hoje para agradecer a Deus o pai que me deu e nesta semana difícil com a sua partida para o plano superior não poderia deixar de homenageá-lo e agradecer a ele também por ter sido o pai que foi aqui na terra e, certamente, continuará sendo e zelando por nós, hoje ao lado da minha mãe que, certamente, o recebera e ao lado do Criador.

Apesar da dor e o sentimento vazio com a sua partida meu Velho, quero tranquilizá-lo e reafirmar que cumpriu seu papel com maestria, construiu uma família sólida, organizada e com valores de dar orgulho e quero te prometer que viverá para sempre em mim não apenas no meu coração, mas também nas minhas atitudes e nas minhas ações e nos valores que me transmitiu e que procuro hoje transmitir a minha filha.

Quando fui convidado a ser articulista aqui neste espaço, não vim sozinho, pois trouxe comigo meu pai que está em mim e, a partir desta coluna, inobstante sua partida não será diferente, pois seus valores continuarão ecoando por intermédio de minhas expressões e estará mais vivo do que nunca.

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