O que mais ouço falar ultimamente é que estamos vivendo momentos de “polarização”. Eis uma bobagem gritante. Não há polarização. Aliás, eu queria muito que vivêssemos num país polarizado, onde houvesse uns de um lado e outros de outro. Vermelhos e azuis. Direita e Yin e Yang, esquerda e direita… De verdade, eu queria. Não que eu goste de polarizações, muito pelo contrário. Em regra, as considero forçosas, burras e, não raramente, indutoras de respostas extremadas para discussões pueris. Mas torno a dizer: eu preferiria que vivêssemos num pais polarizado.
Isso porque polarização pressupõe a existência de pelo menos dois polos distintos e opostos entre si. Polos, por sua vez, demandam a existência de referências minimamente claras, uma antagônica à outra. Num ambiente polarizado, pelo menos, poderíamos perceber de maneira mais ou menos clara quem está de um lado e quem está de outro.
Nosso país, no entanto, carece justamente de referências, sejam elas ideológicas ou políticas, que nos permitam identificar quem pertence a um polo ou a outro. A crescente hostilidade que se vê hoje decorre, não de polarização, mas, ao contrário, de um absurdo esvaziamento dos âmbitos político e ideológico.
A falta de referências mínimas faz com que os embates, ao invés de polarizados, sejam anarquizados, baseados na criação de inimigos imaginários, em ataques pessoais aleatórios (físicos ou morais) e na publicação de figurinhas divertidas nas redes sociais.
A suposta polarização, então, se dá entre um grupo que se sente autorizado a apedrejar quem quer que considere inimigos e outro formado por todo o resto que se vê, ou já se viu um dia, na possibilidade de vir a ser escolhido como o inimigo da vez e alvo de pedradas injustificadas.
Essa polarização é apenas aparente porque não há identidade ideológica entre os que estão de um lado ou de outro. Não existem no Brasil dois grupos antagônicos entre si, mas sim uma batalha campal propositalmente estimulada por quem deveria primar pela manutenção da ordem pública.
E no intuito de disseminar a desordem, sobram caneladas para todos os lados. Não é pequena a lista de inimigos inventados pelos que hoje estão de um lado: os professores, os estudantes, os servidores públicos, a imprensa, os ambientalistas, os governadores de Estados, a Anitta, o Joe Biden, o Mark Ruffalo, e mais uma infinidade de pessoas que viraram malditas simplesmente porque o governo assim os quis.O nome disso, senhores, não é polarização. O nome disso é paranoia, esquizofrenia, anarquia, incompetência, sei lá, qualquer coisa. Mas polarização não é. Ah, como eu queria que fosse só polarização.
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