13 anos depois

Os relatos de quem participou da missão de paz no Haiti

 

 Santa Maria - RS - BRASIL 01/11/2017 Militares participam de formatura  após Brasil encerrar participação na missão de paz da ONU no HaitiCases:  Na sequênciaPaulo Romário Carvalho, 46 anos (negro) - Sub-tenenteCristian Willian Ortiz Pregardier, 23 anos (mais jovem) - SoldadoLuciléia de Oliveira Vicente, 35 anos - 3º sargento - Téc. de EnfermagemCarlos Alexandre Geovanini - Tenente-coronel
Militares brasileiros ficaram conhecidos como "capacetes azuis", durante a MinustahFoto: Lucas Amorelli / New CO DSM

Quando saiu de Santa Maria, com apenas 20 anos de idade, em novembro de 2014, o soldado Cristian Willian Ortiz Pregardier tinha como convicção cumprir com êxito o trabalho incumbido aos militares brasileiros que, desde 2004, faziam parte da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah). Na manhã desta quarta-feira, no pátio de formaturas do 29º Batalhão de Infantaria Blindado (29º BIB), Pregardier, junto com outros 65 militares, participaram da solenidade que homenageou e formalizou o fim da missão dos popularizados "capacetes azuis". O relato da experiência que o soldado viveu por seis meses e cinco dias transcendeu protocolos que visavam manter a ordem e a segurança do país caribenho:

– Eu voltei melhor do que fui. Me apresentei como voluntário, fiz treinamento, e saímos preparados. Mas não esperava ir tão cedo no início da minha carreira militar. Fazíamos o patrulhamento e víamos muita coisa. Coisas que hoje fazem a gente agradecer pelo que temos. Aquele povo sofrido ensinou a importância que há em ajudar os outros.

Santa Maria - RS - BRASIL 01/11/2017 Militares participam de formatura  após Brasil encerrar participação na missão de paz da ONU no HaitiCases:  Cristian Willian Ortiz Pregardier, 23 anos (mais jovem) - Soldado
Cristian Willian tinha apenas 20 anos quando participou da operação, em 2014Foto: Lucas Amorelli / New CO DSM

Em meio a furacões, terremotos e cenários de extrema violência e miséria, de 2004 a 2017, foram  30,5 mil militares do Exército Brasileiro que contribuíram para a manutenção do ambiente no país, cooperaram com as atividades de assistência humanitária e de fortalecimento das instituições nacionais. Alguns, não voltaram para casa: 18 perderam a vida.

TJ nega indenização a professor suspeito de assediar alunos em Santa Maria

Da 3ª Divisão Encouraçada (3ª DE), foram enviados três contingentes de tropas com homens e mulheres. Cerca de 500 militares de junho a dezembro de 2007; outros 130 de janeiro a setembro de 2010; e, por último, pelo menos 480 de novembro de 2014 a maio de 2015.

EXPERIÊNCIAS
Em Santa Maria, o impacto da missão é vista com orgulho e remete à relação amistosa junto dos haitianos, além do legado pessoal e profissional.Veja alguns depoimentos:

Santa Maria - RS - BRASIL 01/11/2017 Militares participam de formatura  após Brasil encerrar participação na missão de paz da ONU no HaitiCases:  Na sequênciaLuciléia de Oliveira Vicente, 35 anos - 3º sargento - Téc. de Enfermagem
3º sargento Luciléia de Oliveira Vicente,Foto: Lucas Amorelli / New CO DSM

O país é repleto de lixo, esgoto a céu aberto e a fome extrema, que é o que mais impacta. Pessoas e animais comendo os mesmos alimentos. Havia muitos casos de cólera. Fomos para cuidarmos da saúde dos nossos militares, mas, às vezes, nos permitiam fazer trabalhos voluntários nos orfanatos. Aquela gente é carente de tudo: de infraestrutura e  de afeto. A gente vai e entrega o coração. Sou técnica e agora curso enfermagem. Desde que vim de lá, me voltei à assistência social saúde primária.
3º sargento Luciléia de Oliveira Vicente, 35 anos

Santa Maria - RS - BRASIL 01/11/2017 Militares participam de formatura  após Brasil encerrar participação na missão de paz da ONU no HaitiCases:  Na sequênciaCarlos Alexandre Geovanini - Tenente-coronel
Tenente-coronel Carlos Alexandre Geovanini,Foto: Lucas Amorelli / New CO DSM

– A empatia é o que nos fez (Exército Brasileiro) diferentes dos demais países. Passei um Natal e um Ano Ano Novo lá, em que diversos sentimentos se misturavam. Viramos uns irmãos dos outros na tropa, e muito reconhecidos pelos haitianos. Foi minha maior realização pessoal e profissional. Quando voltei fui fazer o mestrado em Relações Internacionais. Voltei com essa necessidade de entender melhor o mundo.
Tenente-coronel
Carlos Alexandre Geovanini, 43 anos

Santa Maria - RS - BRASIL 01/11/2017 Militares participam de formatura  após Brasil encerrar participação na missão de paz da ONU no HaitiCases:  Paulo Romário Carvalho, 46 anos (negro) - Sub-tenente
Subtenente Paulo Romário CarvalhoFoto: Lucas Amorelli / New CO DSM

– Uma missão de paz gera uma expectativa em qualquer militar, pois somos preparados para isso. Ao chegarmos lá, vimos uma cultura diferente da nossa e tínhamos que respeitar, aprendermos o hino deles, por exemplo. Em outros caso, presenciávamos a falta de estrutura: mulheres fazendo partos dentro das viaturas. Mas, poder ajudar outro país é o principal legado do Exército e a mim, propiciou muito amadurecimento.
Subtenente Paulo Romário Carvalho, 46 anos

FIM DAS AÇÕES?
Ao longo desses 13 anos somam-se mudanças e ações significativas no contexto do Haiti – o país mais pobre das Américas. Mas, ainda que os  ministérios da Defesa e das Relações Exteriores tenham entendido que o país está estabilizado e retirarem os militares brasileiros, a fragilidade das políticas sociais e precariedade persistem e são comprovadas pelos baixíssimos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Os haitianos, porém, promoveram eleições democráticas e reassumiram o controle da segurança pública, sobretudo, pela Polícia Nacional Haitiana (PNH).

Justiça Militar da União quer ampliar competência 

A especulação, agora, é que governo brasileiro envie tropas para participar da Minusca, missão de paz da ONU na República Centro-Africana, assolada por uma guerra civil e com população em condições de vulnerabilidade social. Se confirmada a participação do Exército, a previsão do Ministério da Defesa é que, em 2018, aproximadamente 800 soldados sejam enviados.

MINUSTAH
Missão de paz da ONU no Haiti foi criada em junho de 2004
– O efetivo total foi de 30,5 mil militares de 21 nações em todo o período da missão
– Com atribuições, as tropas da ONU deveriam tirar o Haiti do caos e estabilizar o país
– A permanência da Minustah no Hati deveria durar poucos meses. Mas, a missão teve de ser prolongada diversas vezes
– Apesar de ter sido criada para estabelecer a ordem e a segurança, os chamados "capacetes azuis" da ONU também envolveram-se com a distribuição de alimentos, atendimento médico e obras de infraestrutura

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

VÍDEO: confira as dicas de filosofia para o Enem 2017

Próximo

TJ nega indenização a professor suspeito de assediar alunos em Santa Maria

Geral