Artigo

OPINIÃO: Um caso, uma loira

Eros Roberto Grau

Circulo pelo tempo e de repente lá estou, no bar do Claridge, em São Paulo. 

Dick ao piano, cantando a canção daquela loira que é um frasco de perfume que evapora o aroma de uma pétala de flor; espuma fervilhante de champanhe, numa taça muito branca de cristal; meu sonho, meu poema! 

Foto: Elias

OPINIÃO: Um país em chamas

Lá estou, anos sessenta, com um bando de amigos. O Guerra repetindo a velha frase “enganei um bobo na casca de um ovo” ao trazer meu uisquezinho nacional e o Tião atrás do balcão de barman, a sorrir! 

O Zimbo Trio nascendo ali, sob o olhar do Dick Farney. Os três, Amilton Godói, Luís Chaves e o Rubinho, meu contemporâneo de faculdade. Depois a Claudette Soares, a sandália dela ficando furada de tanto sambar! Ensaiamos uma canção – o Antonio Carlos Foz e eu – que dizia que “o sorriso da Claudette me compromete!”. O Foz e o Luís Chaves já se foram, hão de estar lá no céu, sob a benção do Dick. 

Tenho agora nas mãos os originais do primeiro volume de um belo livro que a Mariangela Toledo Silva, sua sobrinha, escreveu sobre sua vida e obra. Logo há de ser editado e no seguinte talvez eu apareça ao seu lado, no nosso bar. Talvez. Por enquanto, me importa apenas lembrar o ser humano que está lá bem no alto, no Céu. 

OPINIÃO: A simplicidade que completa o conhecimento formal

Parece que foi ontem, agosto de 1987, quando o Dick se foi. Um sujeito discreto que começou a cantar/encantar em 1937, quando eu ainda não havia ainda nascido. Com Cyll Farney, seu irmão, e Edu da Gaita cantando a Canção da Índia, de Rimsky-Korsakov, antes da minha chegada por aqui. O Dick era quase vinte anos mais velho do que eu. 

Depois, no Cassino da Urca e no Copacabana Palace, até que em 1946 lá se foi, para os Estados Unidos, ternamente, onde terá interpretado a primeira versão de Tenderly! De volta à Terra da Santa Cruz a bossa nova cresce também pela sua voz. 

OPINIÃO: Viagem por meio da leitura

Parece que foi ontem, mas é como se fosse agora, ele e a Norma Benguell cantarolando Você e Vou por aí. Tempo bom! No final dos anos 70, quando o Comando Caça Comunistas a ameaçava, fui guarda-costas da Norminha em duas ou três idas para jantarmos no velho Gigetto. 

O Dick encontrou um novo amor no Leblon, a Tereza da praia, compartilhando-o com o Lúcio, Lúcio Alves! O tempo é maravilhoso. Permite que se passe do passado ao presente e ao futuro – quando certamente voltaremos a nos ver – e vice-versa. Naquele bar, pequenino – o bar do Claridge – o Dick encontrou a amizade e o amor. Discretamente, como sempre, forever. 

OPINIÃO: O clássico argumento de quem não tem argumento

Passo pela Nove de Julho, bem em frente de onde estivemos juntos  tantas vezes. Passamos hoje Tania e eu e cantarolo aquela velha canção para sempre: todos nós temos na vida um caso, uma loira... 

O Dick há de estar, lá de cima, sorrindo para nós. 

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