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OPINIÃO: Deus não torce, não joga e, tampouco, fiscaliza 

Jader Hoffmeister

Quanto tempo ainda será necessário para que se entenda que certas coisas não se coadunam? Quanto tempo ainda será necessário para que se entenda que para as coisas acontecerem desta ou daquela forma, o resultado da ação será por conta do emprego do nosso menor ou maior esforço? Quanto tempo ainda será necessário para que pessoas de todos os graus de instrução em pleno século XXI entendam que religião não forma uma mistura homogênea com, talvez, a maior das paixões humanas, o futebol? Quanto tempo ainda será necessário para que entenda que os santos de todas as categorias, os orixás e as nossas senhoras de todas as denominações não interferem em ações que tenham como culminância a vitória de uns em detrimento da derrota de outros?  

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Pois, quem assiste futebol percebe que, talvez, nenhuma outra classe de profissionais misture tanto a sua profissão com coisas de religião. Tem jogador que a cada chute que desfere para o gol, se benze uma, duas ou até três vezes. Outros, quando fazem um gol, levantam os braços e os polegares para o céu em agradecimento, como se Deus, que está em toda a parte e não só no céu, o tivesse ajudado e abençoado no lance que culminou com o gol. 

Ora, se isso for verdade, então Deus privilegiou o atacante que fez o gol, em detrimento do goleiro que levou o gol, também Seu filho, permitindo que uns saiam vitoriosos e outros derrotados ou, uns escolhidos e outros relegados. Não tem sentido, não tem coerência, não tem lógica. Se fosse assim, seria um deus parcial, o que é inconcebível em se tratando de Deus. Esse tipo de pensamento se coaduna perfeitamente quando o confundimos com aquele velhinho de barbas brancas e cara de mal humorado do Velho Testamento, e não o Deus de amor trazido por Jesus. 

Talvez você imagine que sou contra o jogador ou qualquer pessoa que acredita que Deus interfere nas nossas ações cotidianas olhando com bons olhos para uns e fazendo vistas grossas para outros. Claro que não sou contra a fé das pessoas. Tenho minhas restrições, isto sim, aos formadores de opinião de todas as religiões que não só permitem que se confunda esse tipo de coisa, como não se preocupam em esclarecer aos seus “fiéis” que religião e futebol não são misturáveis homogeneamente quanto ao resultado de uma partida.

Mas, como os espertos habitam todos os segmentos da sociedade, inclusive nas religiões, estando sempre dispostos a encher seus bolsos de dinheiro e a cabeça dos crentes com crenças incompatíveis, explorando a ingenuidade das pessoas, nada melhor do que deixar que essa confusão perdure até sabe-se lá quando. Por tudo isso, é de se perguntar até quando vamos imaginar Deus não só interessado em futebol, mas torcendo e protegendo este ou aquele jogador deste ou daquele time nas tardes de domingo? Pelo andar da carruagem, demorará ainda muito tempo para que se aceite a ideia de que Deus não torce, não joga e, tampouco, fiscaliza. 


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