Artigo

OPINIÃO: Contemplação

Péricles Lamartine da Costa

 A opinião pública foi despida do parco poder bélico com o qual contava até pouco tempo atrás. Lembram de quando os governantes e congressistas atentavam para o grau de popularidade, ou impopularidade, desta ou daquela pretensa medida? Sim, não faz muito, a classe política sopesava as repercussões de suas atitudes, mesmo que vislumbrando eleições próximas.

Hoje, nem isso mais...Pelo contrário, o conluio entre Legislativo e Executivo, o afagar recíproco e as sustentações mútuas garantem a seus agentes pétrea estabilidade no poder, relegando à iniquidade o que pensamos e como vemos o que fazem e/ou o que deixam de fazer.

Ora, é por força dos pactos de gabinete, anteriores às vergonhas plenárias, que temos um presidente da República em quem jamais votamos para tanto! Pior, as mesmas asquerosas convenções ocultas sustentam um mandatário capaz das hediondas práticas em que foi flagrado. Um criminoso, um meliante, que naturalmente não possui, e nem quer possuir, a chancela da nação.

Deputados, senadores, presidência da República e seu séquito necessitam estar bem entre si, nada além. E estão...

De nós, povo, só necessitam legitimação episódica e periódica pelas urnas e, ainda assim, por meio de um sistema eleitoral completamente deturpado.

As responsabilidades, por exemplo, pela não investigação (nem refiro julgamento) de tudo o quanto foi feito pelo presidente, e que nós, eles, e o próprio presidente sabem que foi feito, serão diluídas no congresso. Ao cabo, a impunidade não terá nome, ou responsável, mas, em lugar disso, as tacanhas imputações de culpa ao ¿sistema¿ e à nossa ¿jovem democracia¿.

As urgências que afligem a população acelerarão o processo de esquecimento dos poucos nomes eventualmente salientados, pois o país precisa retomar a normalidade para atrair investimentos, voltar a crescer, gerar empregos e debelar a inflação, até mesmo pelas reformas que não mais podem esperar por debates. O presidente escapará de lombo liso.

Mas não de graça. A custo de muitos cargos e muitos bilhões distribuídos em convescote.

E os brasileiros, se forem às ruas (que é só o que lhes resta), só farão encarecer os votos parlamentares já adquiridos por valores promocionais anteriores a protestos.

Posso até imaginar, quase ver, alguns deputados torcendo por um levante popular, a justificar o aumento do preço por sua fidelidade...

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