Muitas razões levam as pessoas para os lugares. E Santa Maria não foge à regra. Uns vieram para estudar, outros para acompanhar os filhos ou os netos nos afazeres, alguns por trabalho, pela localização, tem os que vieram por curiosidade, os que estão fazendo a vontade dos familiares, os que chegaram para tratamento de saúde e o usam como pretexto para não voltar, os que encontraram o grande amor, casaram e se fixaram. Enfim, é quase impossível enumerar as considerações usadas pelas pessoas para justificar sua vinda e permanência na cidade. O fato é que, por um motivo, uma história, um sonho, uma expectativa, uma realização, um evento concreto ou abstrato, pelo sol ou pela lua se prenderam ao coração do Rio Grande e dizem: adotei Santa Maria.
Certo dia, marquei um encontro no calçadão, com uns avós que moram aqui há pelo menos 25 anos, para falarmos sobre morar em Santa Maria. Depois de contarem como vieram para cá, perguntei sobre a adaptação na cidade e todos foram unânimes em afirmar que nos primeiros tempos foi difícil, uma luta até para descobrir o mercado, a padaria, o açougue, a fruteira, para alguns as pessoas daqui parecem ter medo de informar. Com o tempo, se acostumaram com o jeito dos santa-marienses. Uma das avós me disse: acho que eles reagem assim porque nesta cidade tem muita gente que vem e vai, mas a maioria dos que conheço veio e ficou, acabou buscando um motivo para se enraizar.
Depois falamos sobre a estrutura das suas famílias, o trabalho, a aposentadoria, esmiuçamos as atividades extra-casa, mas a ênfase pairou sobre os netos que moram nessa cidade bem como as estratégias usadas para ficar o maior tempo possível interagindo com eles, principalmente com os que são filhos das noras, porque com os netos filhos das filhas, segundo elas, é mais tranquilo.
Algumas avós contaram que neste tempo residindo aqui acabaram sozinhas, quer por separação, viuvez ou porque os filhos tomaram seu rumo. Muitas histórias foram tragicômicas, tiveram as só trágicas e as só cômicas. Na maioria dos casos, os familiares insistiram para que voltassem para sua terra, como foi o caso de uma goiana que o pai insistiu dizendo: minha filha, volta para Goiás, aqui é tua terra. Ela lembra bem da resposta que deu a seu pai e repetiu para nós: Goiás até pode ser a minha terra, mas Santa Maria é o meu lugar.
Neste instante, fomos interrompidos pela sua neta, uma belezura de cinco anos, que nos observava. Preocupada, me olhou e levantou a seguinte questão para sua avó: vó, se tu tivesses ido para Goiás, eu teria nascido? Nos olhamos surpresos, sem resposta. Não falamos mais, despedimo-nos, cada um para seu lado e no meu ouvido retumbava a expressão que dominou aquele papo: adotei Santa Maria! Ia pensando: quantos se sentem assim? E você, leitor, está neste time?