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OPINIÃO: A Acampamento e os paradoxos do liberalismo

Giorgio Forgiarini

Já manifestei, aqui neste espaço, minha cética fascinação pelo ideário liberal. Vejo no liberalismo um das mais incríveis conjuntos de teorias filosóficas, morais, econômicas e políticas já concebidas, que oferece soluções ótimas para muitas das delicadas equações que permeiam o nem sempre harmônico convívio em sociedade. De fato, não se pode subestimar a grandeza do ideário liberal. 

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No entanto, já mencionei, aqui, também, o quanto sou cético quanto à aplicabilidade do liberalismo, principalmente por perceber o quanto seus pressupostos são costumeiramente deturpados, seja por desconhecimento quanto ao tema, seja por pura malícia. A excessiva ênfase ao individualismo pode ser tóxica à ideia de sociedade e à própria noção de liberalismo. Eis seu maior paradoxo.

O liberalismo pressupõe liberdade, sim, porém, mediante regras prévia e democraticamente definidas, a regrar condutas de maneira impessoal e universal. Desconsiderar essa premissa poderá nos conduzir a uma condição de anarquia, o que, de modo algum pode ser confundido com liberalismo. Em suma: não há jogo justo sem regras, tampouco sem alguém dotado de autoridade suficiente para impor sua aplicação. A existência de um Estado liberal depende, então, da intervenção pontual e decisiva do poder público para garantir harmonia e liberdade suficientes para o convívio social.

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Emblema disso é centro de Santa Maria. A Rua do Acampamento possui um dos metros quadrados mais caros da cidade. É área comercialmente nobre, o que se dá, não necessariamente pelos que ali estão instalados. A rua é valorizada porque é a mais antiga do município, liga o norte ao sul da cidade e serve de tronco para a maior parte das linhas de ônibus de Santa Maria, que chegam e partem de todos os lados da comuna. Desconheço outra rua que tenha tanta importância para sua cidade quanto tem a Acampamento para Santa Maria.

No entanto, mesmo importante e valorizada, a Acampamento é, sem dúvida, uma das ruas mais feias e poluídas da cidade. À sua volta, muito pouco de bonito ou aprazível. Predomina um amontoado de placas monstruosas, de cores berrantes e péssimo gosto, instaladas sem cuidado algum com a paisagem urbana, dedicadas única e tão somente a competir pela atenção dos que ali passam todos os dias.

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E, nesse contexto, cada vez mais a Rua do Acampamento se deteriora, assim como, aliás, a Rio Branco, a Bozano, a Floriano e tantas outras vias hoje desprovidas de charme, de beleza, ou de carisma. São vítimas de uma irracionalidade chancelada por um poder público leniente, que se omite em aplicar regras quanto à paisagem urbana que estão no Código de Posturas desde, pelo menos, o ano de 1995.

Em nome de uma suposta liberdade, nossas ruas se transformaram numa gigantesca anarquia visual. Perdemos a vaidade. Acostumamo-nos com a poluição e passamos a considerá-la normal. Não é. Não pode ser. Cumpra-se a lei. É só o que se pede. É só o que deve ser feito.

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