Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Nos últimos três meses, Santa Maria registrou chuvas abaixo da média histórica. A expectativa era que chovesse 450 milímetros em dezembro, janeiro e fevereiro. O cenário, contudo, foi diferente. O município teve apenas 230 milímetros de chuvas neste último trimestre, ou seja, 51% da precipitação prevista para o período.
O déficit hídrico em dezembro foi o mais crítico entre os três meses. A previsão era que chovesse 160 mm, mas o registro apontou apenas 53 mm. Já em janeiro, as estimativas também indicavam 160 mm, mas as precipitações chegaram somente a 68 mm. Em fevereiro, a situação melhorou: dos 130 mm previstos, o acumulado em Santa Maria foi de 109 mm.
Veja os acumulados e os déficits de cada mês
Dezembro de 2022
- Esperado: 160 mm
- Registrado: 53 mm
- Déficit: 107 mm
Janeiro de 2023
- Esperado: 160 mm
- Registrado: 68 mm
- Déficit: 92 mm
Fevereiro de 2023
- Esperado: 130 mm
- Registrado: 109 mm
- Déficit: 21 mm
Os dados são da estação meteorológica local do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), localizada no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O cálculo da previsão é feito com base na média histórica de 1991 a 2020.
Conforme Murilo Lopes, meteorologista da UFSM, a falta de chuvas pode ser explicada pelo prolongamento atípico do fenômeno La Niña.
– A estiagem que estamos vivenciando, com essas precipitações insuficientes, decorre do fenômeno La Niña, que está perdurando há bastante tempo no Oceano Pacífico. Esse fenômeno é resultado do resfriamento das águas na área equatorial. Isso modifica o padrão de ventos na América do Sul e acaba vindo menos umidade para o Rio Grande do Sul, de maneira que, quando chove, as precipitações são irregulares e em pouca quantidade – relata Murilo.
Além dos acumulados baixos, a estiagem ainda provocou, nos últimos meses, uma elevação das temperaturas, que acabaram ficando acima da média geral. O predomínio do sol associado ao tempo seco favoreceu o aquecimento da superfície e, consequentemente, o aumento das temperaturas. Nesse período, Santa Maria e a Região Central, por exemplo, tiveram dias em que os termômetros marcavam temperaturas próximas aos 40°C.
Em comparação ao período de seca registrado no verão entre o final de 2021 e 2022, o especialista comenta que, neste ano, há um agravamento da situação desde, pelo menos, julho de 2022:
– A diferença principal (entre a estiagem deste ano e do ano passado) é que nós viemos de uma primavera bastante seca. Desde julho viemos com chuvas abaixo do normal, porém, na primavera, que é quando a gente registra no Rio Grande do Sul os maiores acumulados do ano, tivemos muita falta de chuvas. Por isso, tivemos um agravamento (da seca) em muitas localidades considerando a seca deste ano com relação a do ano passado.
O consenso é que nos últimos três anos, a estiagem castigou, principalmente, a agricultura e a pecuária.
– As lavouras dentro do ciclo das culturas cultiváveis precisam de precipitações em momentos específicos. Muitas vezes a chuva não está vindo ou vem em quantidades insuficientes para a planta produzir na capacidade plena. Esse é um dos principais impactos, que do ponto de vista econômico, tem bastante peso – detalha Murilo.
Na pecuária, os animais são afetados pela falta de água e as pastagens ficam secas em função da perda de umidade do solo. Além disso, a população que vive no interior também sofreu com a falta de água potável.
Expectativas para março
Como foi possível observar nos dados dos últimos três meses, os acumulados de chuvas vem aumentando gradativamente. Agora, a boa notícia é que, a partir deste mês, a seca começa a dar uma trégua. Segundo o meteorologista Murilo, em março, a previsão é de início da normalização das chuvas. Os acumulados ainda podem ficar abaixo do esperado (140 mm) ou próximos desta média. Entre abril e maio, deve acontecer o enfraquecimento do fenômeno La Niña e, com isso, um retorno da umidade com mais intensidade para Santa Maria e região.