Hospital Regional, o gigante hospitalar que só opera com 40% dos leitos

Pâmela Rubin Matge

Hospital Regional, o gigante hospitalar que só opera com 40% dos leitos
Foto: Eduardo Ramos (Diário)

O mecânico Valsair Padilha, 62 anos, voltou para Júlio de Castilhos no dia 18 de agosto com duas certezas: estar bem atendido e ter de enfrentar mais uma longa espera. Naquele dia, ele havia realizado consultas cardiológicas e neurológicas por médicos do Hospital Regional. O tratamento veio por conta de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que prejudicou a visão e algumas funções motoras.

–  Volto com consultas agendadas até fevereiro de 2023. O cuidado foi excelente, e o hospital é bonito e enorme – diz o paciente.

De fato, o complexo hospitalar é enorme. São 20 mil m² de uma estrutura que custou R$ 70 milhões em recurso público. De 2003 até 2007, o local que abrigaria o empreendimento mudou três vezes até ser erguido, a partir de 2010, no atual endereço, no Bairro Pinheiro Machado. A obra foi paralisada diversas vezes e concluída em setembro de 2016. A inauguração, contudo, ocorreu dia 6 de julho de 2018. Começava, então, a história do hospital sem leitos, marcada por uma cerimônia repleta de representantes políticos.  A abertura foi  na véspera da eleição de 2018, com funcionamento de apenas um ambulatório para doenças crônicas.

ENFIM, OS  LEITOS

Apenas em 27 de abril de 2020, com o início da pandemia no Rio Grande do Sul, foi anunciada a abertura de 30 leitos clínicos e 10 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) voltados exclusivamente ao atendimento de pacientes com a Covid-19. A promessa do governo do Estado era o funcionamento pleno, com 198 leitos, para o fim de 2022, além do atendimento da alta complexidade nas áreas de neurologia, traumatologia e cardiologia. Hoje, estão disponíveis 80 leitos, isto é,  40 % do total. São 40 leitos clínicos, 20 cirúrgicos e 20 em UTI.  Até o momento, são atendidos casos de média complexidade, com oferta de 240 consultas e 40 cirurgias por mês. Além do ambulatório de atenção especializada em doenças crônicas, cardiologia e ambulatório cirúrgico, em maio, o hospital passou a oferecer consultas e procedimentos em traumato-ortopedia e, em julho, o atendimento nas especialidades de neurologia e neurocirurgia. O quantitativo busca reduzir a lista de espera do Estado, na qual aguardam cerca de 6 mil pessoas, sendo 3.8 mil em neurologia adulta, 1,7 mil em neurologia pediátrica e mais de 400 em neurocirurgia adulta.

– O hospital está abrindo seus leitos gradualmente, mantendo a qualidade de atendimento de excelência. Tudo está sendo feito com responsabilidade e visando a melhor atender os pacientes. Os atendimentos são conforme demanda e direcionamento do Estado – informou o diretor técnico do Hospital Regional, Vinicius Menegola, sem fixar datas para a abertura de novos leitos.

Ao longo de agosto, a reportagem tentou entrar no local, mas foi impedida pela assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a  qual alegou que, “hospitais são locais de trabalho que devem ser preservados”. Também informou que ,de acordo com a Lei Geral de Proteção dos Dados Pessoais (LGPD), não cabe ao gestor fornecer dados ou acesso a pacientes.

AGIR EM CRISE

No ápice da pandemia da Covid-19, um Comitê de Crise foi criado e inúmeras ações implementadas no Estado. Porém, o médico sanitarista Alcides da Silva Miranda ressalta que estar previamente preparado para agir em situações de crise tem de ser  responsabilidade e política central de governo para a gestão do Estado, a partir de 2023:

– Em Santa Maria, aconteceu o caso da tragédia da boate Kiss. Depois, todos enfrentamos a pandemia. É necessário aprender com os erros cometidos na condução governamental durante a crise da Covid, ocasião em que houve improvisações inefetivas com o custo de muitas mortes que seriam evitáveis. Urge o investimento em desenvolver estratégias e tecnologias para a gestão de crises futuras.

Veja algumas prioridades elencadas pelo especialista

Reativação e reordenação do processo de regionalização das redes de serviços de saúde; O RS possui um arranjo atual de 30 Regiões de Saúde, o que é incompatível e inapropriado para o perfil de necessidades e o fluxo de demandas por assistência entre os municípios. Quase 2/3 dos municípios gaúchos possui menos de 10mil habitantes e não tem capacidade de resolver todos os problemas de saúde em seu próprio território;

Incremento e implementação da atenção primária à saúde;Organização da rede de Vigilância em Saúde, principalmente em termos de apoio regional aos pequenos municípios;Implementação de estratégias governamentais para acompanhamento e reabilitação;Investimento em serviços de reabilitação e apoio ao autocuidado, inclusive com a remodelação e readequação de hospitais de pequeno porte para essa prioridade de cuidado

>> Confira todas as matérias desta reportagem especial

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

36% dos municípios da Região Central não têm hospitais Anterior

36% dos municípios da Região Central não têm hospitais

Reunião discute medidas de combate a poluição sonora em São Pedro do Sul Próximo

Reunião discute medidas de combate a poluição sonora em São Pedro do Sul

Geral