Dia do Empreendedorismo Feminino: três mulheres que buscaram a independência financeira na abertura do próprio negócio

Dia do Empreendedorismo Feminino: três mulheres que buscaram a independência financeira na abertura do próprio negócio


Empreender significa a ação de decidir realizar algo e pôr em execução. Um verbo que tem sido usado com mais frequência a cada dia que passa, principalmente por quem deseja sair do emprego formal e abrir o seu próprio negócio.


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Desde 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o 19 de novembro como o Dia do Empreendedorismo Feminino. O objetivo é conscientizar a população sobre os obstáculos enfrentados por mulheres que lideram empreendimentos, geram empregos, promovem desenvolvimento econômico e transformação social.


Essa data envolve não somente os desafios que é começar do zero em busca de abrir sua própria empresa, mas também o lugar que as mulheres ocupam dentro deste espaço. Por isso, o Diário conta o relato de três empreendedoras de Santa Maria e região. De nichos diferentes, cada uma viu no verbo “empreender” uma maneira de transformar o que se gosta em uma fonte de renda.


Gisele transformou sua paixão por moda e artesanato em negócio

Foto: Nathália Schneider (Diário)


Gisele Ribas tem 53 anos, é esposa, mãe, avó e proprietária da Gisele Moda & Arte, loja voltada para o público feminino. Por quase 10 anos, os carros que ficavam na garagem da casa da família, em Camobi, deram lugar a um espaço voltado para vender acessórios, bolsas e artesanatos. Com o passar do tempo e a pedido das clientes, passou a vender roupas também.


O artesanato é uma de suas paixões, desde os objetos feitos manualmente para decorar a casa, o ambiente de trabalho, até os holísticos. 


– Iniciei a prática do artesanato na infância, por influência da minha mãe. Nunca mais parei, é praticamente uma terapia – afirma.


Tornar essa paixão em renda iniciou após a maternidade, segundo ela. Jovem, casada, com três filhos, longe da família, morava fora do Estado e queria ter o seu próprio dinheiro.


No dia 1º de julho de 2023, Gisele resolveu dar um passo adiante na sua empresa: tirar a loja de casa e levá-la ao bairro vizinho, São José:


– É a realização de um sonho, eu sempre quis trazer a loja para esse bairro, porque eu gosto daqui. Queria mais espaço, mais público, mais visibilidade. As pessoas ficaram receosas de irem até a minha casa, sentia que havia uma resistência e isso melhorou. Eu já era feliz, mas agora estou mais feliz ainda.


Foto: Nathália Schneider (Diário)


Mas nem tudo são flores. Algumas coisas que eram consideradas tranquilas por ter a loja em casa se tornaram um desafio no novo local. Gisele trabalha sozinha: viaja para comprar produtos, faz o financeiro e administrativo, arruma a loja, realiza o atendimento e as vendas. Além disso, é ela quem produz os artesanatos no ateliê que fica junto a loja. 


Mesmo com a formação em marketing, ela confessa que é difícil perder a timidez e aparecer nas redes sociais, para aumentar a visibilidade da loja.


– Empreender não é fácil. É dedicação, esforço, é reinventar. É pegar a timidez que eu tenho para aparecer, botar no chinelo e encarar – conta.


Sua loja cria um clima aconchegante para receber quem chega. Logo na entrada, é possível sentir o cheiro do aromatizador e ouvir uma música. Ela conta que tudo é estratégia, faz parte da mensagem que ela quer passar:


– Eu não defendo o consumo desenfreado. Não é vender por vender, e sim tornar a mulher feliz com aquilo que ela está fazendo. As vezes, a cliente chega aqui precisando de algo e não é a compra que vai resolver isso. Ela precisa de uma dica, desabafar, uma música ou um cheirinho para acalmar e drenar... é um cuidado especial.


Foto: Nathália Schneider (Diário)


Questionada sobre os desafios enfrentados como empreendedora, ela reforça a sua forma de encarar isso.


– Eu, como empresa, defendo a parceria. Meus parceiros, fornecedores de produtos, são daqui de Santa Maria. Se alguém chega aqui e não encontra o que procura, encaminho para as outras lojas do bairro. Para mim, empreender é parceria e não rivalidade. Tem espaço para todo mundo – finaliza.


Sue Hellen encontrou nas velas aromáticas a sua fonte de renda

Foto: Arquivo Pessoal


Sue Hellen da Silva Ubinski tem 28 anos, é mãe de duas crianças e dona do Ateliê Tempo, com a produção artesanal de velas aromáticas, em Itaara.


A empresa é recente, tem cerca de 1 ano e 3 meses de existência. Formada em psicologia, Sue atuou por seis meses, mas decidiu que aquele não era o seu caminho. E qual era, então? Foi após o nascimento de sua filha mais nova, que tem 1 ano e 8 meses, que ela encontrou a resposta:


– Comecei a comprar velas para usar no banho, no fim do dia. Era o único momento que eu tinha sozinha, para cuidar de mim. Eu sentia, com dois filhos pequenos, que o tempo corria rápido demais ao mesmo tempo em que se arrastava. Isso se tornou uma questão para mim, e como eu gostava muito de escrever, vi que poderia agregar à marca essa característica mais "poética" fazendo considerações sobre o tempo.


Não somente aproveitar o tempo com os seus filhos, ela também queria crescer como mulher e empreendedora. Por isso, a Tempo fica em sua casa.


– Tem os dois lados nesta questão. O bom é que eu consigo acompanhar o crescimento dos meus filhos de perto. Não é toda mulher que pode fazer isso, pois precisa sair de casa todos os dias para ir trabalhar. Mas também tem um outro lado, onde eu sinto culpa, pois preciso organizar o trabalho com as tarefas de casa também.


Sue Hellen trabalha sozinha no ateliê. Ela mesma produz as velas aromáticas, pensa nas embalagens, contata clientes e claro, realiza as vendas.


Foto: Arquivo Pessoal


– Para quem trabalha com artesanato, produz o próprio produto, exige muitos processos. Faço tudo do inicio ao fim. É trabalhoso. 


E esse trabalho se intensificou nesta reta final de ano, segundo ela. São mais encomendas para Natal e Ano Novo em relação ao ano passado e isso exige mais tempo dedicado ao trabalho. Porém, ela vê isso como positivo, pois significa que seus produtos estão chegando a um público maior.


Sobre os desafios do empreendedorismo, ela afirma que os primeiros meses foram mais difíceis. Abrir um CNPJ, documentação e tudo o que envolve uma empresa foram os maiores desafios para ela:


– Precisei estudar muito e ainda estou estudando. Eu gosto do trabalho manual, mas não entendia nada de financeiro, administrativo ou vendas. Abrir o seu próprio negócio envolve muita coisa. O networking nesse ramo também é fundamental.


Questionada se esses desafios valeram a pena, ela é enfática:


– Eu estou realizada. É disso que eu gosto. Tenho muito a crescer, evoluir, quero chegar a lugares mais altos.


Lisiane deixou o mundo da corretagem para investir no ramo das semijoias

Foto: Nathália Schneider (Diário)


Lisiane Mikalauscas tem 49 anos, é esposa e mãe de duas meninas e um menino. É proprietária da Bendita, loja de semijoias, e sócia da Benta, especializada em sapatos femininos, em parceria com sua filha.


Corretora de imóveis, ela decidiu que queria ter uma segunda fonte de renda e apostou nas semijoias para isso, ao ver algumas colegas realizando esse tipo de revenda:


– Comprei uma maleta e passei a revender. Recebia as pessoas em casa mesmo.


Cerca de um ano depois, ela precisou escolher entre uma dessas ocupações. Foi então que ela optou por "dar um tempo" na corretagem e se dedicar por alguns meses somente para as semijoias, para ver como seria. Esse tempo dura até hoje, pois ela nunca mais voltou para a imobiliária. 


Foto: Nathália Schneider (Diário)


Atendendo as pessoas na varanda da sua casa, ela sentiu que havia um receio por parte das pessoas para irem até sua residência. Foi aí que ela decidiu ter um lugar próprio para a Bendita. Seu primeiro espaço comercial foi um showroom, focado para revendedoras, no centro da cidade, porém a procura de clientes era tanta que ela resolveu abrir uma primeira loja, também no centro. 


Atualmente, a Bendita está em fase de crescimento: uma segunda loja foi aberta em um centro comercial no centro da cidade, conta com cerca de 100 revendedoras por todo o Estado e a Benta segue pelo mesmo caminho também. Lisiane comenta que já recebeu propostas para franquias ou levar a loja para outras cidades, mas por enquanto prefere focar sua energia aqui.


Lisiane confessa que tinha bastante insegurança no começo dessa trajetória:


– No começo foi bastante complicado. Eu era pequena e havia muitas lojas desse nicho em Santa Maria, não sabia como poderia fazer concorrência com elas e crescer.


Questionada sobre todos os desafios enfrentados como empreendedora, ela afirma que se sente realizada e não deseja parar por aqui:


Foto: Nathália Schneider (Diário)


– Empreender é um vício. Depois que começa não quer mais parar. As pessoas me falam algo e eu já estou pensando em uma estratégia lá na frente. Não pretendo parar por aqui, sei que as lojas podem crescer ainda mais.

 

Cenário do empreendedorismo

De acordo com dados divulgados no dia 4 de outubro pela pesquisa “Estatísticas dos Cadastros de Microempreendedores Individuais”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil, em 2023, possui mais de 13 milhões de microempreendedores individuais (Meis), uma das categorias de trabalhadores autônomos, segundo dados de 2021, sendo que mais da metade deles (53%) foi aberta nos últimos três anos. Em 2019, antes da pandemia, eram 9,2 milhões.


De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílios (PNAD Continua) do IBGE do primeiro trimestre de 2023, a Região Sul do Brasil possui mais de 4 milhões de empreendedores. Desse total, cerca de 32% são de mulheres empreendedoras, que trabalham em sua maioria, sozinhas, com uma carga semanal de trabalho de 44 horas.


Atualmente, Santa Maria ocupa a 36º posição no ranking geral do Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) 2023. A pesquisa é realizada anualmente pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), de Brasília e leva em conta sete fatores para realizar o ranking: ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso capital, inovação, capital humano e cultura empreendedora. No quesito capital humano, a cidade ficou na terceira colocação.


As primeiras colocações ficaram com São Paulo (SP), Florianópolis (SC) e Joinville (SC). Na mesma pesquisa de 2022, Santa Maria estava na 19º posição.


Segundo o Painel de Mapa de Empresas, do Governo Federal, Santa Maria tem 32.600 empresas ativas. Desse total, cerca de 20.600 possuem a natureza de Empresário Individual (EI), que é a pessoa física que exerce profissionalmente uma atividade econômica, organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, sem a participação de qualquer sócio. É uma categoria diferente do Microempreendedor Individual (MEI).

Pelo menos 4.028 empresas deste porte foram abertas nos primeiros 11 meses de 2023 em Santa Maria, nas categorias de microempresa ou empresa de pequeno porte. Para saber quantas dessas empresas são comandadas por mulheres, a reportagem entrou em contato com Secretaria de Licenciamento e Desburocratização (Seld) e também com o Sebrae, porém ambos informaram não ter dados sobre essa distinção.


Suporte às empreendedoras em Santa Maria

Sala do Empreendedor: Em setembro deste ano, esse local foi inaugurado, sendo uma parceria da prefeitura de Santa Maria com o Sebrae. Dessa forma, o caminho para abrir o seu próprio CNPJ se torna menos burocrático. 


Entre os serviços que são oferecidos na Sala do Empreendedor estão: orientação sobre a abertura e formalização de empresas; assessoria para o desenvolvimento de planos de negócios; acesso a linhas de crédito e financiamento; capacitação e treinamento para empreendedores; e divulgação de oportunidades de negócios. O espaço funciona na sede da Secretaria de Licenciamento e Desburocratização (Rua André Marques, nº 820, 10º andar), com atendimento presencial de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 13h30min.


Sebrae: o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) atende desde o empreendedor que pretende abrir seu primeiro negócio até pequenas empresas que já estão consolidadas e buscam um novo posicionamento no mercado. A unidade de Santa Maria está localizada na Rua Olavo Bilac, nº 270, Bairro Nossa Sra. de Fátima. 


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