A estratégia da defesa dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira durante o júri da Kiss será responsabilizar os agentes públicos pela tragédia que matou 242 pessoas em 2013, é o que indicam os advogados. Os defensores dos réus mostram confiança na absolvição de Luciano Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos e anunciam uma luta contra o "sistema" durante o julgamento.
- A gente vai conseguir provar sim que o Marcelo e o Luciano são inocentes. Não temos intenção de acusar ninguém, salvo os agentes públicos - afirmou Tatiana Borsa, que defende Marcelo, em uma transmissão ao vivo pelo Instagram realizada na noite de domingo.
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Também participaram a advogada Camila Kersch, da equipe de defesa de Marcelo, e Gustavo Nagelstein, que representa Luciano. Nagelstein defende a tese de uma cadeia de responsabilidades, com o ex-prefeito de Santa Maria Cezar Schirmer, os bombeiros e os secretários de município da época como principais responsáveis, seguidos do Ministério Público e dos proprietários da boate.
- Lá embaixo, entram nossos clientes, em quarto lugar. Se o primeiro e o segundo lugar tivessem agido com eficiência, não estaríamos hoje aqui - afirma.
Os advogados também afirmaram que a estratégia de defesa dos integrantes da banda não busca culpar os outros dois réus, Elissandro Callegaro Spohr (Kiko) e Mauro Londero Hoffmann (sócios da boate), pela tragédia.
CRÍTICAS AO MINISTÉRIO PÚBLICO
A defesa dos réus criticou a conduta adotada pelo Ministério Público durante o processo. Para os advogados, mais pessoas deveriam ter sido denunciadas pelo MP.
- Tudo se encaminha para termos um espetáculo de vingança, e não um julgamento com ampla defesa, com o contraditório, com os direitos que a gente busca para a Justiça - disse Nagelstein.
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Para o advogado, Luciano e Marcelo seriam bodes expiatórios, vítimas de um sistema que busca culpar o elo mais fraco da cadeia. O desaforamento do júri para Porto Alegre, a redução do tempo para debates e a proibição de uma demonstração pirotécnica aos jurados seriam indícios da privação de uma ampla defesa dos réus.
- Se a gente conseguir apontar esses erros do sistema, por consequência, vamos conseguir mostrar que nossos clientes são tão vítimas quanto as pessoas que morreram lá - disse o advogado.
AÇÃO DA AVTSM CRITICADA
No último sábado, quando a tragédia completou 106 meses, 242 cruzes de madeira foram fixadas próximas ao Viaduto Evandro Behr, no centro da cidade. A intervenção foi criticada pela advogada de Marcelo de Jesus dos Santos.
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- Colocaram cruzes no Centro de Santa Maria. Aquilo me chocou tanto, não precisa fazer isso. Eu respeito a família, mas para que pisar na dor? Fazer com essa dor floresça tanto? É uma coisa que dói na gente também, ver aquelas cruzes no centro de Santa Maria - disse Tatiana Borsa.