Era uma vez uma menina que muito brincava, muito corria, muito saltitava, muito pulava e muito fazia estripulias. Ela queria ficar o tempo inteiro em movimento. Essa menina desafiava as leis da gravidade e insistia em ficar de ponta cabeça pendurada em árvores. O mundo parecia ter mais sentido quando ela mudava o ângulo ao ver e sentir as coisas.
A menina estava quase sempre com roxos nas pernas de tanto fazer suas belas artes e, que artes. Seu semblante tinha a alegria das crianças livres e artistas, por artistar seus modos de brincar. A menina acreditava na magia dos possíveis e dos impossíveis, acreditava nos sonhos e acreditava na sua imaginação. Tudo à sua volta tinha cor e poderia se transformar num piscar de olhos ou num estalar de dedos.
A menina, considerada por muitos, agitada e inqieta, na verdade era muito esperta e observadora, porque via na sua liberdade do ato de brincar com seu corpo, uma forma de expressar o que sentia e, ela sentia muito. A menina estava sempre feliz mas se entristecia com as coisas más e com as pessoas grosseiras. A menina era sonhadora e criava um mundo mágico em seu imaginário. Ela não conseguia ficar muito tempo parada e, buscava nas expressões artísticas e nos esportes, falar sobre seus sentimentos.
A menina foi crescendo e percebendo que seu corpo falava muito mais em suas expressões. Assim, passou a criar possibilidades de dialogar com o mundo a partir do livre movimentar-se E, ela conseguiu. Hoje, a menina já adulta, é compreendida e expressa seus sentimentos dançando e interpretando. Quantas crianças crescem sendo mal interpretadas por seus mestres por desconhecerem a vida e a quantidade de informações que acompanham o movimento corporal e a inquietude sobre cadeiras e mesas escolares destas crianças?
O normal de uma criança é o movimento espontâneo que interpreta o mundo e expressa o que compreende de diferentes jeitos em suas expressões corporais. Quando deixaremos de pedir para as crianças ficarem quietinhas no equívoco ao pensar que a quietude do corpo está associada ao aprendizado e a atenção para se obter êxito? Se quisermos robotizar o ensino e vidas, que continuemos agindo assim, mas se quisermos uma sociedade com cidadãos ativos e autônomos em seus jeitos de agir, pensar e decidir, que permitamos a liberdade de expressão.
A criança aprende sobre o mundo e expressa o que sente, a partir do que é espontâneo: o movimento corporal. Disciplina e organização são fundamentais no processo do aprendizado escolar, mas a subjetividade e o respeito às individualidades e os diferentes modos de aprendizado, são fundamentais para trabalharmos um ensino de excelência em que todos os sentidos no aprendizado, são bem vindos e valorizados. Aprendia e aprendo na observação dos movimentos, nas palavras em corpos movimentados que expressavam suas oralidades.
Quando assim não fui permitida, o aprendizado ficou deficitário e apenas obtive notas numéricas que me quantificaram sem me qualificar. Hoje, estando docente, avalio o processo e os diferentes modos que o aprendizado ocorre, nomeando assim como projetos de vida. O que se faz com o que se aprende? Você aprende ou apenas decora para cumprir um protocolo de troca de ano ou semestre? O que você faz com o que aprende? Retém? Repensar o ensino parando de tentar encontrar diagnósticos para aqueles que não aprendem nos modos formais de ensinar, é o que se deseja no processo de escolarização. Se somos indivíduos, somos seres diferentes por natureza e, sendo diferentes, também aprendemos de diversas formas num tempo e espaço individuais.
Feliz o professor que consegue compreender as diferenças em sala de aula construindo saberes de forma participativa agregando os mais diversos modos do ato de aprender. Em minha inquietude, aprendi a aprender num tempo e espaço subjetivos. Desejava apenas expressar pelo corpo o que aprendia e, muito aprendi: minha maior potência é meu corpo que, aliados às minhas experiências e vivências formativas e informativas, hoje expressam em movimentos de uma escrita que me permito dançar e interpretar.
Permitam o espaço do corpo como o principal espaço didático para o aprendizado. No caderno ficarão os rabiscos, no corpo ficará a memória do movimento que os conteúdos promoverem de um jeito criativo. Como fazer isso? Cada professor precisa acreditar em sua imaginação e no potencial criativo que há em si e em seus alunos.
Amo a docência e acredito na educação que torna o ser humano cada vez melhor em suas competências.