Saúde foi uma das palavras mais repetidas nos últimos três anos. E com diferentes sentidos e significados. Desejo de mais saúde para as pessoas e recuperação dos doentes, além de mais estrutura para atender os pacientes diante de uma pandemia avassaladora que chegou sem avisar e deixou um saldo de mais 600 mil mortos no país. Somente em Santa Maria, já são 966 óbitos, e 40.876 no Rio Grande do Sul.
Nessa longa travessia, muitos não conseguiram vencê-la, outros ficaram com sequelas física e mental. O sistema de saúde foi colocado à prova e também ficou debilitado. Os impactos e problemas, herança da Covid-19 tornam a área de saúde ainda mais desafiadora para os futuros governantes administrar em relação à eleição de 2018.
O cenário, agora, tem sido retomado após meses com falta de insumos, equipamentos, respiradores, vagas em UTI e disseminação de fake news, quando informação era usada em desserviço da vida. Recentemente, é a incidência da varíola do macaco (monkeypox) que preocupa autoridades sanitárias. Conforme o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS),o Rio Grande do Sul chegou a 98 casos.
ENFRENTAMENTO
Se novos leitos foram ativados em meio ao caos desenfreado da Covid-19, como o emblemático caso do Hospital Regional, que só passou a internar pacientes no ápice da pandemia, por outro lado, as sequelas desse período seguirão por tempo indeterminado. Esse talvez seja um dos maiores desafios da política nacional e dos políticos para administrar o Sistema Único de Saúde (SUS) e a rede particular e filantrópica de hospitais que esteve à beira do colapso, adoeceu a população, os profissionais e os gestores de saúde. A isso somam-se os antigos entraves que ficam na conta da burocracia, do orçamento enxuto e das disputas partidárias.
– Mesmo com perdas financeiras, no decorrer da crise pandêmica, o SUS “mostrou a sua cara”, assumiu rapidamente a tarefa e a responsabilidade de acesso e cuidado emergencial, o que salvou milhares de vidas. Não fosse a atuação do SUS, a letalidade pela Covid no Brasil teria sido bem pior. O RS obteve pior taxa de mortalidade por Covid, principalmente em 2021, quando comparado com a taxa nacional, assim como está no grupo dos Estados brasileiros com as piores taxas de incidência e mortalidade ao longo do período pandêmico. A gestão pública em saúde deve priorizar as necessidades sociais e demandas de cada região, que podem ser distintas e específicas – analisa o médico sanitarista e professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alcides da Silva Miranda.
REGIÃO CENTRAL
A menos de um mês do 1º turno das Eleições 2022, a materialização de um projeto milionário que passou por três gestões governamentais do Estado expõe um dos grandes gargalos da saúde da região. Inaugurado há quatro anos, e na véspera da eleição de 2018, o Hospital Regional ainda está longe do funcionamento pleno. São apenas 80 leitos, o que representa 40% da capacidade total.
Ocorre há longa data, que o que não é contemplado no Hospital Regional bate à porta do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), que atravessa problemas de superlotações históricas e recebe pacientes de outros 45 municípios, muitos que nem sequer contam com unidades hospitalares. Somente na região, 14 cidades carecem de cobertura hospitalar.
Neste ano, ainda veio à tona a crescente crise do IPE Saúde, que há anos mantinha tabela de serviços desatualizada e uma dívida volumosa com hospitais. Como consequência, convênios estão sendo revistos ou rompidos. Com cerca de 1 milhão de usuários, boa parte dos dissidentes do IPE tende a ser absorvidos pelo SUS.
TRAÇAR PRIORIDADES
Na esteira desse contexto sócio-econômico e político, o médico sanitarista menciona a importância de priorizar iniciativas para quem governar o Estado a partir de 2023. Um entre os 11 nomes que concorrem ao Piratini terão como medidas fundamentais, segundo o especialista, reordenar o processo de regionalização das redes de serviços de saúde e viabilizar o incremento e a implementação da atenção primária à saúde:
– O Rio Grande do Sul, notadamente a região de Santa Maria, possui significativa deficiência de cobertura e funcionalidade de serviços primários de atenção à saúde, o que dificulta o acesso das pessoas e eleva consideravelmente os custos porque muitos procedimentos mais caros como internações evitáveis e consultas especializadas poderiam ser evitados.
Outro ponto mencionado pelo médico é que além da demora e ineficácia para a disponibilização do serviço hospitalar, o agenciamento empresarial e a terceirização da gestão demonstram incompreensão para com as necessidades locais e garantias de gestão pública e autoridade sanitária.
– Necessitamos de gestões regionais Inter-federativas focadas na saúde pública e não de agenciamentos empresariais focados nos “mercados das doenças” – expõe o médico sanitarista, ao exemplificar o caso do Hospital Regional, que atende apenas algumas especialidades e cujo gestor é o Instituto de Cardiologia de Porto Alegre. (Colaborou Jaqueline Silveira)
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