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Desde que o julgamento começou, na quarta-feira, algumas característas do juiz Orlando Faccini Neto, que preside o júri, são observadas por quem acompanha o trabalho. Pedido de empatia com as vítimas e apelos para que todos mantenham a calma nos momentos de mais tensão já ficaram marcados nos primeiros dias do julgamento que promete ser o maior da história do Judiciário gaúcho. 

Músico nas horas de lazer - o magistrado costuma publicar registros tocando violão em rede social - ele já demonstrou, sutilmente, um pouco do gosto musical. Em um dos momentos, descreve uma das fotos juntadas no processo pelos cartazes de banda que aparecem no vídeo "tem quadros dos Beatles, dos Rolling Stones", disse o juiz, ao contextualizar o retrato. Em outro momento, quando o engenheiro Miguel Pedroso era ouvido sobre o uso de materiais adequados para isolamento acústico, comentou "se fosse um show de João Gilberto..." referindo-se a um dos expoentes da Bossa Nova, conhecido por ser muito exigente com a qualidade musical em seus shows. Nos bastidores da MPB, dizem que no começo da carreira, João Gilberto ensaiava violão em um banheiro, para ouvir melhor o som que produzia, uma espécie de estúdio improvisado. 

Aparentemente, o magistrado também é conhecedor de literatura. Em dado momento do trabalho, ao pedir que as defesas evitassem discussões de pontos secundários e perguntas repetitivas nos depoimentos, citou um trecho de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. O trecho citado foi "cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta"

"Em 20 anos de júri, é a primeira vez que tenho de parar"
Na manhã de sexta-feira, quando Daniel Rodrigues da Silva, proprietário de uma loja de fogos em Santa Maria, era ouvido no tribunal, o trabalhou precisou ser interrompido. Jean Severo, um dos advogados de Luciano Bonilha Leão, frustrou-se com a resposta da testemunha a um de seus colegas e gritou. Flávio Silva, presidente da AVTSM que acompanhava o júri da plateia, acabou respondendo a Jean e logo deixou o plenário, aconselhado por outros familiares. Foi então que o juiz pediu intervalo de 10 minutos e pediu que todos tentem manter a calma. "Em 20 anos de júri, é a primeira vez que tenho de parar", comentou. ""Não é o último caso da carreira de cada um de nós, então vamos com calma", continuou em seguida. 

Essa manifestação não foi a primeira e nem a segunda em que o juiz pede calma e evita discussões. Ao longo dos três dias de julgamento, interrompeu advogados de defesa e também os integrantes da acusação diversas vezes, a maioria pedindo calma. Mas manteve-se firme quando foi contrariado em alguns momentos. Após o primeiro depoimento do julgamento, quando Kátia XXX foi ouvida, mudou a postura: pediu que os advogados exercessem a empatia com as vítimas que passam pelo tribunal e, desde então, interrompe quando defesa ou acusação fazem perguntas repetidas ou desnecessárias. Essa postura é visível na maioria dos comentários. Quando os debates ficam mais incisivos entre as defesas ou defesa e acusação, o juiz sempre acaba interrompendo, pedindo calma e voltando ao "foco" do júri. 

Nem só música ou literatura são referenciadas em alguns comentários do juiz. Gastronomia também pautou alguns comentários, algumas vezes, dotados de sarcasmo ou bom humor. No segundo dia, quando propos que as partes discutissem sobre manter o trabalho ou fazer intervalo para o jantar, foi questionado sobre o período proposto, de 40 minutos, por Jader Marques, da defesa de Elissandro Spohr, que considerou o intervalo insuficiente em função do tempo de deslocamento. " A minha janta está ali na sala gelada. Faça sua comida e traga". O advogado ainda questionou se teria espaço para isso, e o juiz acabou lhe oferecendo a própria refeição, comentário que surpreendeu a quem ouviu. 

No segundo dia de júri, outro comentário gastronômico ficou marcado nos bastidores. Depois de Jean reclamar do tempo de defesa nos debates (cada réu conta com o tempo de 37 minutos na primeira etapa de sustentação oral de argumentos) e comparar o período com "tempo de fazer miojo" por duas vezes, o juiz, devolveu ao interromper a sessão para o intervalo. "Vamos parar por 40 minutos de almoço já que, segundo o doutor, é o tempo de preparar uma miojo". 

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