"Toda vez que a gente passa por uma experiência assim, a gente revê prioridades", relata pastor Levi ao voltar de Israel para Santa Maria

Foto: Nathália Arantes (Diário)

Logo após a sua chegada em Santa Maria, Levi recebeu a reportagem do Diário para relatar o que viveu em Israel

Repensar a vida. É com essa reflexão que o pastor Levi Oliveira encerrou a entrevista de quase uma hora com a reportagem do Diário, quando relatou o que viu e viveu, na última semana, em Israel. Ele chegou ao Brasil ainda durante a madrugada de sábado, quando o avião KC-30 da Força Aérea Brasileira (FAB) aterrissou no Brasil com 207 brasileiros que pediram ajuda ao Itamaraty para a repatriação depois que Israel foi atacado pelo grupo extremista palestino Hamas, no dia 7 de outubro.


– É uma sensação de alívio. Dessas que sempre faz a gente repensar a vida, como em toda vez que a gente tem uma situação em que a vida entra em risco, como alguém que tem uma doença. Eu tive Covid, eu quase morri com o Covid. Eu 'bati na trave' e voltei, graças a Deus. Foi violento, (mas eu) consegui voltar com a bênção de Deus. Um amigo que estava no mesmo quarto que eu não teve a mesma sorte. Toda vez que a gente passa por uma experiência assim, a gente revê prioridades, a gente revê valores, e também o que que realmente vale a pena investir nosso tempo, dedicação e energia. A gente percebe que, às vezes, têm coisas que não valem a pena tomar a nossa atenção, e redireciona, valoriza mais pessoas do que coisas – avalia.


Dias de angústia

A contar de 2003, essa era a 24a viagem do pastor a Israel, onde costuma ministrar cursos bíblicos e levar peregrinos para conhecer diversos locais importantes para a fé cristã. Desta vez, Levi estava no país para participar de um evento e aproveitou a oportunidade para conduzir  um grupo reduzido de pessoas para a peregrinação. Ao chegar no dia 4 de outubro, a previsão era de retornar ao Brasil apenas no dia 20 deste mês. Porém, com os ataques do grupo Hamas desde o dia 7 de outubro, a programação teve que ser cancelada, assim como a peregrinação.


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Levi relembra que, por estar na região da Galileia, local mais afastado da Faixa de Gaza, ficou sabendo dos primeiros ataques ao ser contatado pela agência de viagens que costuma trabalhar em conjunto. A orientação era para que se mantivessem em segurança. Após irem para os apartamentos em que estavam hospedados, por volta  de 10 horas após o início do conflito, o grupo constatou pela televisão o que estava acontecendo no país.


– Foi horrível o que o Hamas fez, aquelas criaturas não têm alma. Ficamos o mais longe possível da zona de conflito, acompanhamos no  primeiro momento (o ataque) pela televisão e pelas mensagens trocadas com amigos israelenses, a gente ia se atualizando com eles. Muitos deles relataram estar ouvindo as bombas –  relembra.


Ainda na região da Galileia, no dia 11 de outubro foi a primeira vez que o pastor Levi ouviu o tocar das sirenes que alertavam os civis quanto aos ataques aéreos na região. Segundo ele, foi o momento em que a Região Norte, mais próxima ao Líbano, começou a ser bombardeada pelo Hamas. 


– Saiu todo mundo correndo, o prédio em que nós estávamos era mais antigo. Não tinha bunkers (abrigos públicos),  hoje é lei que qualquer prédio construído em Israel tenha na planta um bunker em cada unidade. Naquele momento, fomos juntos para onde estavam (indo) os moradores. Eles ficaram no corredor do segundo andar, onde acreditavam ser mesmo o lugar mais seguro.Mas é uma sensação horrível, uma sensação de impotência, sem saber se vai estourar ali ou não essa bomba. Cada dia que passava e intensificava o conflito, aí a primeira coisa que pensávamos era que tinha que ir embora. Depois da situação das sirenes ao nosso lado, nós ficamos todo tempo no apartamento. Eu só descia para ir no mercadinho na esquina, fazia as compras e voltava para o apartamento – conta.


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No mesmo dia em que o conflito começou, o governo brasileiro liberou um formulário para que os brasileiros solicitassem repatriamento. Levi relata que a angústia, por não saber quando o resgate aconteceria, tomou conta conforme os dias passavam. Quando os ataques começaram a se aproximar do local em que estava, o grupo decidiu retornar a Tel Aviv, capital de Israel, e aguardar no aeroporto pelo momento da repatriação. Eles chegaram ao local na última quinta-feira (12)  pela manhã. Horas mais tarde receberam uma ligação da Embaixada Brasileira avisando que eles estariam no voo de sexta-feira para retornar ao Brasil.


Repatriação

O voo da FAB aterrissou no aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, às 2h44min de sábado. Levi conta que, para além da sensação de alívio, a chegada ao Brasil com os repatriados cantando o hino nacional era uma forma de agradecer a equipe da força aérea que tem sido incansável no resgate de brasileiros em Israel.


–  O serviço da FAB foi sensacional. Não estavam ali servindo (durante o voo) os profissionais da área (aviação),  eram os militares que estavam servindo, era uma médica, uma outra era psicóloga. Não tinham como levar uma outra equipe, eles tinham que trabalhar nas duas frentes. Ficou todo mundo assim impactado com a atitude deles, o que eles fizeram é cansativo. Voo direto de 14 horas, mais 14 horas para retornar, chegar no Brasil, ficar 8 horas descansando e depois retornar, até terminar (a repatriação). Isso fez o povo cantar o hino nacional. Sentimos orgulho daqueles brasileiros trabalhando para o nosso cuidado. Foi muito especial  –  reconhece.


Após o retorno ao Brasil, a chegada em casa só aconteceu no início da noite deste sábado, quando por volta das 18 horas o pastor chegou ao Coração do Estado. Antes disso, ainda teve o voo em direção a Porto Alegre. Sem passagem comprada por indicação do governo brasileiro, ainda no Rio de Janeiro, os repatriados descobriram que uma empresa aérea estava disponibilizando o retorno para seus Estados como cortesia. Levi e outros 12 gaúchos chegaram ao Rio Grande do Sul por volta das 10h40min de sábado.


Apesar de acostumada com as viagens do pastor, que já fez trabalho missionário em mais de 30 países, a família de Levi não conteve a emoção com a sua chegada a Santa Maria. Apesar da angústia de quem estava acompanhando tudo do outro lado do oceano, ele sempre mantinha contato com a família para acalmar e demonstrar a prudência que tinha em cada movimento em Israel.


Expectativas

Questionado quanto ao sentimento do povo israelense sobre o conflito, o repatriado conta que a população acredita que o conflito mais direto deve durar cerca de dois meses. 

– Eu quero expressar a profunda admiração que eu tenho por essa nação (Israel), por aquele povo especial e sempre perseguido. O holocausto foi ontem. A gente olha para trás (e percebe que) foram movimentos de extermínio desse povo. Mas  eles têm uma raiz forte, é gente que  tem um fundamento sólido, é um povo que foi formado a partir da palavra de Deus. Essa é a essência deles. Gera uma forma de pensar. Então deixo registrado a minha admiração por eles e sigo na oração, porque agora eles vão precisar –  deseja.


Na expectativa de que a previsão dos dois meses se confirme, Levi já almeja retornar ao país que admira em 2024. Neste domingo (15), o pastor  já retoma suas atividades na Igreja Batista Nacional (IBN).


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