data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: 3ª Divisão de Exército (Divulgação)
O general Valério Stumpf Trindade assumiu o Comando Militar do Sul (CSM) em 30 de abril. De lá para cá, tem uma rotina intensa, principalmente em relação ao combate à Covid-19. O militar é o responsável por comandar 52 mil homens e mulheres, distribuídos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O CSM possui 75% dos carros blindados brasileiros e guarda 2,5 mil quilômetros de fronteira. Stumpf esteve em Santa Maria, em 24 de julho, para a cerimônia de posse do general Hertz Pires do Nascimento como comandante da 3ª Divisão de Exército (3ª DE). Em entrevista exclusiva ao Diário, ele descreve as ações da Operação Covid-19 e analisa a atuação do Exército Brasileiro (EB) no período da pandemia.
Diário - Como descreve a missão de assumir o Comando Militar do Sul (CMS)?
General Stumpf - É um privilégio muito grande. É a área do Brasil que tenho maior vivência. Tenho certeza que vamos contribuir para a continuação do trabalho em andamento. Foi um sentimento de orgulho, de honra, já que o CMS é a Elite do Combate Convencional. Temos 52 mil militares divididos nos três Estados do Sul. Temos 75% dos blindados brasileiros, mais de 2,5 mil quilômetros de fronteiras complexas e difíceis. É uma responsabilidade muito grande.
AM Centro decide manter modelo de Distanciamento Controlado do governo estadual
Diário - Quais são as principais ações do CMS durante a pandemia?
Stumpf - Quando a população precisa, o Exército está sempre presente. Desde o início da Operação Covid-19, em março, foi ativado, na área do CMS, o Comando Conjunto Sul (CCjSul), que reúne militares da Marinha, Exército e Força Aérea, coordenando diversas ações contra o novo coronavírus. A iniciativa envolve, diariamente, cerca de 7 mil militares nos três Estados da Região Sul, diretamente. Além de militares das três forças, há representantes da Defesa Civil Estadual, Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). O Comando Conjunto Sul empreendeu inúmeras ações em prol da sociedade, entre elas o transporte de mais de 9 mil toneladas de donativos, distribuição de mais de 14 mil cestas básicas, doação de mais de 8,5 mil refeições prontas. Cerca de 7 mil militares doaram sangue para a manutenção dos estoques dos hemocentros e hospitais da Região Sul, 262 barracas montadas em apoio a instituições de saúde, higienização de mais de 400 locais públicos de grande circulação de pessoas, além da participação em ações sanitárias preventivas em cerca de 150 postos. Militares do CMS atuaram em apoio à Companhia Rio-Grandense de Saneamento (Corsan), caso seja necessário. No período de estiagem no Rio Grande do Sul, Organizações Militares (OMs) do CMS transportaram e distribuíram mais de 6 milhões de litros de água potável. O CMS ainda enviou militares de saúde a Macapá. Estes capacitaram outros profissionais de saúde no combate ao coronavírus. Nosso efetivo também vai para Barra do Garças, no Mato Grosso, para apoiar comunidades indígenas de etnia Xavante.
Diário - Quais é o principal desafio do EB neste momento?
Stumpf - É concentrar forças para combater essa pandemia. Como militar e pensando na nossa função constitucional, é manter a tropa em prontidão constante e elevado nível de operacionalidade. Temos 52 mil militares no CMS e precisamos manter o efetivo pronto, disponível e em condições de trabalhar. Esse grande desafio demanda uma ação de comando de todos os níveis, do general mais antigo ao militar mais moderno. Precisamos manter um Exército coeso, comprometido e dedicado à missão constitucional.
Diário - O senhor foi assessor no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República de 1999 a 2003. Como avalia a presença de militares em cargos executivos do governo federal?
Stumpf - A ética, a moral e a verdade são ativos que os militares trazem, desde as instruções nos quartéis e nas escolas de formação. A presença de militares em cargos no Poder Executivo não é novidade no Brasil e em muitos países no exterior. Eles podem contribuir no desenvolvimento nacional tendo como base a formação e experiência em gestão adquiridas durante a carreira.
Participantes terão que usar máscara durante as provas do Enem 2020
Diário - Qual é a importância estratégica da 3ª Divisão de Exército (3ªDE), em Santa Maria, para as ações do CMS?
Stumpf - A 3ª Divisão de Exército é uma das mais importantes do Brasil. Tem responsabilidade sobre uma área correspondente a pouco menos da metade do Rio Grande do Sul, abrangendo 303 dos 497 municípios do Estado. Abriga 56 OMs subordinadas. Nesta abrangência, estão localizadas, também, 14 OMs Regionais, três estabelecimentos de ensino e três Núcleos de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR). A divisão possui grande capacidade dissuasória por ter a maior concentração de viaturas blindadas do Brasil.
Diário - Quais aspectos do CMS precisam ser otimizados e quais devem ser mantidos?
Stumpf - O Comando Militar do Sul é reconhecido como a "Elite do Combate Convencional" e assim deve seguir, sempre buscando o melhor preparo da tropa para cumprir diversos tipos de missão que podemos receber, a qualquer tempo e lugar.
Diário - Quanto às orientações de prevenção da Covid-19, acrescenta algo?
Stumpf - A população deve seguir as orientações dos órgãos e instituições competentes. Nós também seguimos os protocolos e tomamos os cuidados necessários para manter a tropa sadia e pronta para prestar todo o apoio à sociedade. Não cabe a mim avaliar as decisões do poder público. Como falei, estamos atentos para prestar apoio e ter a tropa pronta, caso seja necessário.
Diário - Como o CSM lida com os casos de coronavírus dentro do efetivo?
Stumpf - Somos integrantes da sociedade e um retrato de toda a população. No CMS, 115 militares estão contaminados pela Covid-19. Um número baixo, se comparado ao tamanho do nosso efetivo. Destes homens e mulheres, mais de sete mil estão empregados diaria e diretamente no combate à Covid-19. De qualquer forma, todos os cuidados são tomados e, felizmente, dentro das circunstâncias, os contaminados estão em casa, já que tiveram sintomas leves. Seguimos os protocolos nos acessos às organizações militares, desinfecção de calçados, higienizações em todos os quartéis, medição de temperatura e distanciamento físico. Isso diminuiu muito os níveis de contaminação na Força. Todo esse esforço e precauções são importantes para manter a saúde da tropa, inclusive com nenhum óbito por Covid-19 no efetivo empregado na missão.
Diário - O que irá priorizar à frente do CMS?
Stumpf - Manter o CMS sempre pronto para cumprir nossas missões constitucionais, com uma tropa adestrada, motivada e equipada. Continuar cuidando da segurança nos mais de 2,5 mil quilômetros de fronteiras terrestres na Região Sul. Cooperar com o desenvolvimento nacional, como na obra de duplicação da BR-116, entre Guaíba e Tapes, feita pelo Exército ou mesmo em situações de calamidade pública, como a realizada no Vale do Taquari. Ou seja, manter o CMS forte, presente e solidário.