Conheça Andrea Schwertner Charão, uma das homenageadas do 1º Prêmio Ana Primavesi

Foto: Gabriel de David (Diário)

É possível fazer a diferença na sala de aula, no laboratório ou na rua. Basta fazer o que se ama. Na primeira edição, o Prêmio Ana Primavesi irá homenagear 10 profissionais de Santa Maria e região que têm se destacado nessas áreas. 

A cerimônia de premiação está marcada para o dia 31 de julho, no Theatro Treze de Maio. Nesta reportagem, conheça a história da pesquisadora e professora da UFSM Andrea Schwertner Charão, uma das premiadas desta edição.

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Família

Andre Schwertner Charão nasceu no dia 20 de julho de 1971 em Santa Maria. No Bairro Itararé, cresceu ao lado dos pais e do irmão, guardando lembranças de uma infância divertida e com muitas curiosidades:

Tive uma infância e adolescência cheia de coisas bacanas. Eu me lembro que estudava formiguinhas na época. Olhava, observava as formiguinhas, mas não passei a minha infância só fazendo isso. Ela foi bem variada. Ainda adolescente, eu me interessei por alguns cursos, que me ajudaram a estar aqui agora.

Entre as inspirações de Andrea, está o próprio pai: o engenheiro mecânico e professor universitário Clândio Charão. Neste contexto, é possível afirmar que a dedicação e o amor às áreas de pesquisa, ensino e extensão são hereditários.

Eu tenho muito orgulho em dizer que sou filha de um professor aposentado da UFSM e que ajudou a construir o Centro de Tecnologia. Então, imagino que o fato de eu estar lá mostra que a fruta não cai muito longe do pé, ao mesmo tempo, que vamos trilhando o nosso próprio caminho – afirma Andrea, sorrindo.

Ao completar 53 anos justamente neste sábado (20), a professora universitária celebra cada oportunidade recebida na vida. Uma delas é ter encontrado o amor há 27 anos. Da união com o professor universitário Benhur de Oliveira Stein, 58, nasceu Lara, hoje com 14 anos. Em família, os melhores momentos para Andrea envolvem a natureza:

Sou uma pessoa discreta e reservada. Gosto de atividades que me estimulem intelectualmente. Às vezes, fico mais dentro do círculo em família. Gosto muito de natureza e quando consigo carregar a família para fazer trilha, beleza! Mas não é toda hora que a gente consegue.

Assim como muitas profissionais, Andrea busca formas de conciliar trabalho e maternidade. Entre altos e baixos, ela valoriza os pequenos aprendizados que surgem na relação entre mãe e filha.

Eu fui ter filho bem tarde por causa da formação. Passei por alguns perrengues (risos), mas tenho muito orgulho da minha filha. Agora, ela está fazendo um intercâmbio. A impressão que tenho é que passamos por uns perrengues, mas o que fica é aquele ser se desenvolvendo e se desvinculando da gente. E, para mim, está tudo bem. A minha filha me considera muito brava, porque eu sempre cobro e incomodo por algumas coisas. Mas eu acho que o exemplo tem a ver muito com buscar melhorar. Quero buscar alguma coisa diferente e estou passando isso adiante. Acho que ter filho é um gesto altruísta, de pensar nos outros e toda hora, ela me ensina alguma coisa, principalmente por ter uma visão de outra geração. Esses “choques” me fazem repensar algumas coisas, porque nossas gerações são diferentes e não tem pior nem melhor. Então, nós buscamos colaborar, nos entendemos e não nos fastamos – reflete a professora, que se orgulha principalmente em ver a filha se posicionar e lutar pelos sonhos.

Registro de família. Na foto, Andrea (à dir.) ao lado do marido Benhur e da filha Lara

Carreira

O amor de Andrea pela tecnologia iniciou ainda na adolescência. Mas por alguns detalhes na oferta de cursos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ela quase seguiu em outra área.

Na época, a computação era novidade. Era bem diferente do que é agora. Não existiam computadores nas casas das pessoas. Eu me interessei pela área enquanto fazia o Ensino Médio e busquei algo próximo na UFSM. Um ano antes, eu entrei em outro curso: engenharia elétrica. E, depois, foi criado o primeiro curso de informática aqui. Então, eu sou da primeira turma. Sou uma das formadas desta primeira turma junto com vários outros colegas – conta a profissional, entre risadas.

Na instituição, Andrea ingressou no curso de Bacharelado em Informática em 1990. Quatro anos depois, iniciou o mestrado em Computação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), abrindo portas também para oportunidades no exterior.

No mestrado, eu trabalhei em um grupo fortíssimo na UFRGS, que tem uma das pós-graduações mais bem conceituadas no país pelo Capes. E surgiu uma oportunidade, porque alguns pesquisadores de lá já tinham feito doutorado na França. Na época, foi complicado, porque eu estava trabalhando e eu passei em um concurso aqui. Então, foi uma decisão complicada na minha vida. Acabei indo para lá e voltando. Poderia ter outra carreira, mas voltei para a universidade, em outro departamento.

Em 2018, Andrea participou de uma aula inaugural para primeira turma de Ciência da Computação do Instituto Federal Farroupilha em Frederico Westphalen

Ensino

De todos os eixos, o que mais faz o coração de Andrea vibrar é o ensino. Para a professora, há algo de especial em formar novos profissionais para o mundo.

É uma coisa que eu adoro fazer. Eu tenho estilos que foram mudando ao longo do tempo. Hoje em dia, tenho um olhar diferente do que eu tinha no início da carreira. Como professora, eu fico muito feliz em ver as pessoas crescendo, porque estamos trabalhando com profissionais em formação. Às vezes, tratamos como alunos, mas são profissionais buscando ir além. Perceber que isso está acontecendo, me motiva muito. É por isso que eu vou lá todo dia. Eu gosto do contato com os alunos. É um desafio tremendo, porque as gerações vão mudando e temos que repensar algumas práticas. Mas eu amo essas relações, tentando conhecer o aluno e vibrar com as conquistas – comenta.

Durante muitos anos, Andrea coordenou o Clube de Computação, que é um programa que integra ensino, pesquisa, extensão e inovação. Atualmente, é professora no Departamento de Linguagens e Sistemas de Computação do Centro de Tecnologia da UFSM.

O trabalho e a dedicação de Andrea fizeram a diferença em um dos momentos mais aterrorizantes da humanidade: a pandemia da Covid-19. Para auxiliar no cenário, a equipe da pesquisadora desenvolveu o aplicativo Vacina SM, mudando a rotina dos profissionais da Secretaria Municipal da Saúde em meio a uma verdadeira corrida contra o tempo:

Depois do primeiro ano de pandemia, tivemos reuniões com o pessoal da agência de inovação da Universidade. Conversamos também com professores e empresários sobre uma tecnologia que resolvessem algumas demandas ou contribuíssem com o processo de vacinação. A partir disso, buscamos contato com a Secretaria Municipal da Saúde. Tivemos várias reuniões também. Inclusive, houve momentos em que imaginávamos que existia uma demanda, e a demanda era outra. Então, essa interação foi muito bacana, porque chegamos abertos para descobrir qual é o problema e onde podemos atuar. Tem situações em que não há tempo hábil para desenvolver algum produto ou uma solução de software. Neste caso, encontramos uma resposta conversando sobre a possibilidade de agilizar o processo de registro das vacinações, porque os profissionais de saúde são muito organizados e rápidos. E nós conseguimos colaborar nisso.

É por conta de exemplos como esse que Andrea acredita na evolução da área, que vai além de recursos e linguagens utilizadas hoje. Entre os desafios elencados pela pesquisadora, está a visibilidade para os trabalhos e pesquisadores:

Temos uma reviravolta com a inteligência artificial, e isso exige cada vez mais dos cientistas para poder dar conta dessa demanda. Também exige mais interações. Eu gosto muito de falar sobre isso. Sobre as interações entre áreas que não se relacionam, acredito que os grandes problemas se resolvem interagindo. É assim que a ciência progride também, com desafios que não estão exatamente no nosso círculo, mas que passam um pouco ali e interagem com outras áreas. Eu tenho orgulho de dizer que nós aqui, em Santa Maria, temos muitos exemplos de pessoas e trabalhos a nível internacional. Eu consigo falar disso, porque eu fiz minha formação fora do país. Inclusive, tem muito caso de estudante daqui que tem carreira internacional devido a qualidade e atributos do que faz. Mas, ainda temos desafios enormes de fazer isso aparecer.

Na foto, Andrea e acadêmicos do curso de Ciência da Computação e Sistemas de Informação da UFSM

Prêmios

Entre risadas, ela lembra como descobriu que seria uma das homenageadas do 1º Prêmio Ana Primavesi. A indicação foi recebida com muita alegria pela pesquisadora, que já deseja ver mais mulheres subirem ao palco do Theatro Treze de Maio nas próximas edições.

– Eu sou discreta e reservada. Não sou muito de mostrar o que eu faço. Faço o que eu tenho que fazer, mas com gosto. Por ser assim, não me via merecedora de um prêmio (risos). Mas, receber a indicação foi uma mistura de alegria e surpresa – afirma.

Enquanto mãe de Lara e professora de tantas meninas e jovens, Andrea espera que as profissionais do amanhã sigam os próprios sonhos, assim como ela tem feito:

– Digo para as meninas que façam o próprio caminho e não sejam o que os outros estão dizendo que têm que ser. Sigam os exemplos que vocês quiserem. Busquem conhecer outras coisas. Eu só posso dizer isso, porque é o que eu faço e vivo.

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