Conheça a trajetória de Kalinca Léia Becker, uma das homenageadas do Prêmio Ana Primavesi

Foto: Gabriel de David (Diário)

As oportunidades que temos hoje são resultados de lutas antigas. Na busca por reconhecer as contribuições femininas principalmente na ciência, surge o Prêmio Ana Primavesi. A iniciativa promovida pelo Grupo Diário homenageará profissionais de Santa Maria e região que se destacaram nos eixos de pesquisa, ensino e extensão nos últimos anos.

A cerimônia de premiação está marcada para o dia 31 de julho, no Theatro Treze de Maio. Entre as homenageadas desta edição, está a economista e professora da UFSM, Kalinca Léia Becker.

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Família

Filha do auditor aposentado, Régis Saul Becker, e da professora aposentada, Elsbeth Léia Spode Becker, Kalinca Léia Becker nasceu em 29 de março de 1985, em Santa Maria. Ao lado da irmã Dahianne, cresceu no Bairro Camobi. O local até hoje é motivo de felicidade e de lembranças para a economista:

– Eu nasci aqui em Santa Maria, mais especificamente em Camobi e cresci na Base Aérea. Foi um período muito bonito da minha vida. Eu tinha muitos amigos. Estudava em uma escolinha municipal que ficava ali perto. Íamos a pé para lá e voltávamos brincando. Até hoje, quando eu ando por aquela rua onde fica a escolinha, tenho muitas lembranças boas dos amigos que eu fiz na época e desse período de muitas brincadeiras. Na adolescência, eu estudei na Escola Margarida Lopes, da qual tenho várias lembranças boas também.

Aos 39 anos, Kalinca reflete sobre a vida e a própria forma de ver o mundo. Nesta jornada, conta com o apoio do companheiro, o engenheiro Dalton Daniel de Lima, 38. O casal está junto há 12 anos.

Sou uma pessoa mais intimista e gosto muito de ler. Moro com o meu companheiro, e nosso hobby principal é ficar em casa no final de semana, lendo alguma coisa, vendo um filme ou conversando. Sou uma pessoa de poucos amigos. Então, valorizo muito as pessoas e esses bons momentos – afirma.

Entre as inspirações de Kalinca, estão algumas mulheres da família: a mãe Elsbeth (à esq), a tia Sara e a irmã Dahianne (última à dir.)

Carreira

Kalinca escolheu a profissão ainda na adolescência. Para tomar tal decisão, ela contou com uma pequena ajuda:

No Ensino Médio, ainda na Escola Margarida Lopes, eu gostava das disciplinas de matemática e história, que são áreas difíceis de englobar em uma só profissão. Pesquisando no Descubra da UFSM, eu vi a profissão de economista. Na época, não tínhamos internet, então, eu levei um panfleto para casa. Ali, mencionava que a economia era uma ciência social, mas usava a matemática como uma ferramenta para fazer análises. Já no início da graduação, em 2003, identifiquei-me muito com as disciplinas, especialmente na área quantitativa. Eu gostava muito da área de Economia da Educação, que é uma área dentro da Ciências Econômicas, na qual buscamos analisar quais são os insumos que produzem uma escola melhor, um aluno com mais conhecimento, entre outros pontos.

Após concluir a graduação em Ciências Econômicas na UFSM em 2007, Kalinca decidiu seguir na área da pesquisa. A decisão a fez buscar uma pós-graduação fora do Rio Grande do Sul.

Em 2007, passei no mestrado em Economia Aplicada na Universidade de São Paulo, a USP, mas no campus de Piracicaba. Fiz o doutorado lá também. Depois, voltei e comecei a trabalhar na Unipampa. Em 2015, eu vim para Santa Maria onde estou até hoje – conta a doutora em Economia Aplicada, sorrindo.

Na UFSM, Kalinca é professora do Departamento de Economia e Relações Internacionais, dos programas de pós-graduação em Administração Pública (PPGAP), Gestão de Organizações Públicas (PPGOP) e Economia e Desenvolvimento (PPGE&D). Entre os temas com os quais trabalha, estão economia social, avaliação de políticas públicas e econometria aplicada.

Em 2018, mais um sonho foi realizado pela pesquisadora. A partir do programa Fulbright Visiting Scholar, Kalinca conseguiu estudar na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

– Foi uma experiência maravilhosa. Eu tive essa oportunidade via parceria com uma agência de fomento. Passei quatro meses nos Estados Unidos fazendo uma pesquisa na área de Economia da Educação. Essa experiência foi muito enriquecedora para minha carreira, porque pude aprender mais sobre a minha área e com profissionais de outros países. Eu tive contato com várias outras culturas, porque pessoas do mundo todo vão estudar lá. Então, conheci pessoas da China, Coreia, entre outros grupos que dificilmente temos um contato mais próximo aqui no Brasil. Podemos conhecer pontualmente uma pessoa desses países, mas conviver durante muitos meses foi uma experiência bem interessante.

Entre as coisas que completam Kalinca, estão o ensino e o amor. Na primeira foto, a professora ao lado dos participantes do programa Sumo Educacional. No segundo registro, Kalinca e seu companheiro Dalton

Inspirações

Cada pessoa que passa pela nossa vida contribui de alguma forma com a nossa história. Na trajetória de Kalinca, não foi diferente. Entre as inspirações para ser a profissional que é hoje, encontram-se mulheres de várias gerações, sendo as primeiras da própria família.

Acho que a principal pessoa é minha mãe. Ela foi a primeira doutora na minha família. Meu pai e ela começaram a fazer faculdade quando era criança e minha mãe me levava junto para a UFSM. Ela fez geografia e eu participei de várias aulas. Então, pode-se dizer que ela foi a principal, mas tem também várias mulheres que vieram antes dela aqui no Rio Grande do Sul. A minha avó sempre sonhou que os filhos iriam estudar. Ela fez um esforço muito grande para que a minha mãe estudasse, e minha mãe fez por mim. Eu cheguei em uma situação mais cômoda e pude construir minha carreira acadêmica.Também posso citar a minha orientadora da pós-graduação, a professora Ana Kassouf, da USP, que é um expoente dentro da área de Economia Social, que engloba a Economia da Educação. No período que estive na USP, aprendi muito com ela. Com a ajuda e a paciência dela, pude me tornar uma profissional com contribuições nessa área. Então, acho que se pudesse destacar algumas mulheres seriam essas, embora tenham tantas outras – destaca.

Hoje professora, Kalinca busca dar continuidade a essa corrente de conhecimento, contribuindo cada vez mais com a formação dos alunos. Para isso, não tem poupado esforços, principalmente no que envolve a área de extensão. Entre as paixões de Kalinca, está o programa Sumo Educacional, criado em 2021 com o objetivo de popularizar o conhecimento sobre educação financeira. O desenvolvimento e mérito da iniciativa são destacados pela pesquisadora:

 – Eu tive alguns desafios na carreira. A Universidade, até então, era mais voltada à pesquisa e ao ensino. Quando eu já tinha começado a dar aulas, veio um objetivo novo, e eu tive que adaptar meu trabalho para praticar a extensão. No início, foi um pouco difícil, mas acho que foi assim para todo mundo. Hoje em dia, a extensão me dá bons frutos em termos de felicidade, carreira e resultados. Um deles é o Prêmio Ana Primavesi. Sei que fomos primeiro indicadas dentro das instituições e acho que tanto a indicação do meu nome dentro da UFSM, quanto a escolha dele nas instâncias que passaram, foi em função do projeto de extensão que venho desenvolvendo. Então, embora tenha sido algo desafiador no início, hoje, consigo ver bons resultados na formação dos meus alunos e no nosso público alvo, que é a sociedade santa-mariense.

Em 2023, Kalinca foi paraninfa da turma de Economia da UFSM

Prêmio

Por esses e outros motivos, Kalinca é uma das 10 homenageadas da primeira edição do Prêmio Ana Primavesi. Conforme a doutora em Economia Aplicada, a notícia chegou como um acerto em um dia corrido de trabalho:

As gurias do Diário estavam tentando me ligar e eu estava correndo, porque precisava entregar um monte de coisa. Quando eu atendi o telefone, era essa surpresa maravilhosa. Foram várias sensações boas. A primeira com relação ao nome do prêmio, que é uma homenagem à professora Ana Primavesi. Receber um prêmio com esse nome tem um peso indescritível. O segundo ponto é poder levar o nome de um projeto que não é só meu. Não tem extensão só com uma pessoa ou mesmo com um grupo de professores. A extensão engloba muita gente, muitos alunos. A alma do projeto Sumo Educacional são os alunos que trabalham nele. Então, eu compartilho esse prêmio com todo o pessoal que está no dia a dia do projeto lá na universidade, trabalhando comigo e com os alunos. Agradeço muito.

 Inspirada por tantas mulheres, a pesquisadora reforça o coro por mais oportunidades e o direito de seguir os próprios sonhos.

– Olhe para sua vida e tente tomar a melhor decisão possível. Faça isso com base no que tem no coração e na mente. Se a pessoa escolher criar uma família e se dedicar a isso, ok. Se ela quiser estudar e ter uma carreira acadêmica, também está ok. Se ela não quiser estudar e for para o mercado de trabalho como muitos dos meus alunos, também está tudo bem. Isso precisa ser uma decisão da pessoa. Como dizia a minha mãe: “pegue a caneta e escreva sua própria vida”. Então, meninas, quando vocês forem tomar uma decisão, pensem no que é melhor para vocês. Se vocês fizerem isso de todo o coração, eu tenho certeza que vocês vão encontrar a felicidade também – conclui ela, sorrindo.

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