Desde que um caso de racismo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ocorrido na última terça-feira, figurou entre os holofotes nacionais, diversas pessoas se manifestaram sobre o assunto.
"Me sinto totalmente desrespeitada", disse aluna após mais um ato racista na UFSM
Ironicamente, no Mês da Consciência Negra, quando seminários, debates e eventos celebram a data, um terceiro caso em apenas três meses é registrado dentro de uma instituição universitária. A propósito, umas das primeiras do Brasil a inserir um Programa de Ações Afirmativas de Inclusão Racial e Social (Resolução n. 009/07).
Em meio ânimos acalorados de alunos e militantes em protestos no campus e nas redes sociais cobrando posições da universidade, de um comunicado oficial da instituição em relação ao caso, a Polícia Federal informou que os três atos criminosos podem ter sido praticados por um mesmo grupo ou pessoa.
Procurador do Estado, Jorge Terra integra a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), além de ser presidente da Comissão de Verdade da Escravidão Negra. Terra diz que um trabalho conjunto de instituições é imprescindível:
– Fiquei sabendo pelas redes sociais, e é um fato de conhecimento nacional,desde as outras vezes (agosto e setembro de 2017). Independentemente da investigação, é preciso uma reação das pessoas. É preciso reunir o sistema judiciário, setores de segurança, OAB, MPF, Defensoria Pública. Sou formado em Direito pela UFRGS. À época, lembro de outros dois ou três colegas negros. No mestrado, eu era o único. Não posso apontar o motivo, mas, para quem é racista, perceber que espaços antes intocáveis agora são ocupados causa indignação.

Discurso de ódio motiva atos racistas, diz professor
Professor de Direitos Humanos (DH) do Centro Universitário Franciscano (Unifra) e ex-presidente da Comissão de DH da OAB/RS, subseção Santa Maria, Márcio de Souza Bernardes elenca vários fatores que contribuem para um retrocesso acerca da lutas contra o racismo e para o aumento de ataques.
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– Não se pode ser simplista. Na década de 30, tivemos uma grande crise do capitalismo e, agora, estamos vivendo outra. Sofremos um golpe de Estado com Temer na presidência, assim como em 1964. Temos uma mídia tendenciosa, além de todos elementos históricos de uma herança escravagista. Tivemos até uma reforma ministerial que rebaixou o Ministério de Direitos Humanos a uma secretaria, que, depois, foi revertida a ministério de novo. Tudo isso, de certa forma, é um racismo velado e gera um discurso de ódio que não é reprimido, inclusive, por candidatos à presidência.