aulas suspensas

Indefinição das aulas presenciais atrapalha logística de pais e escolas

Rodrigo Ricordi e Leonardo Catto

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Na última sexta-feira, o governo estadual publicou um decreto que passava a permitir a cogestão também para a área de educação. Com isso, as aulas de forma presencial poderiam ser realizadas no caso da Educação Infantil e 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. Porém, no domingo, o Tribunal de Justiça do Estado (TJRS) decidiu que as aulas presenciais seguiriam suspensas em todo o Rio Grande do Sul. Isso pegou escolas e pais desprevenidos, pois já havia toda uma organização para o retorno. Além disso, a indefinição do retorno aumenta os efeitos causados pela pandemia nas crianças, que estão afastadas do convívio desde que as aulas foram suspensas.

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Na manhã desta segunda, algumas abriram e outras não. No Colégio Riachuelo, do Bairro Camobi, a movimentação era de pais buscando as atividades dos filhos, já que a instituição não abriu para o retorno dos alunos. Já a Escola Abelinhas, no Bairro Nossa Senhora das Dores, até às 9h30min, já havia recebido em torno de 15 alunos. 

Sandra Fradalozo, diretora e proprietária da Abelhinhas, afirma que abriu a escola hoje porque já estava definido que todas iam abrir na data. Além disso, ela explica que existem muitas famílias que contam com o funcionamento da escola. Ela afirma que a empresa está preparada para funcionar conforme os protocolos.

- Muitos se organizaram para que essas crianças voltem para a escola, pois estão adoecendo emocionalmente e estão muito abaladas. Esse abre e fecha nos torna vulneráveis a muitas outras coisas. Nunca sabemos o que vai acontecer amanhã, isso está trazendo para todo mundo uma doença bem maior, uma dor interna que não passa nunca. Ver a alegria das crianças chegando é tudo o que a gente pede - comenta.

FELIZ RETORNO
Vanessa Lago Morim, de 34 anos, mãe do Gabriel, 3 anos, comenta que é perceptível o sofrimento do filho e de outras crianças conhecidas em função de não estarem com aulas presenciais.

- Nós percebemos nesse período sem escola que as crianças sofrem muito emocionalmente e psicologicamente, irritabilidade, ansiedade  em função de não ter esse contato com as outras crianças. Por mais que a gente tente fazer atividades com eles para eles se distraírem, não é a mesma coisa de estar em ambiente escolar. Não vejo nenhum impedimento para as escolas voltarem se seguirem os protocolos - avalia a fisioterapeuta.

O casal de militares Nathallya Agne e Tiarlen Silva foram juntos levar a filha Rebeca, de 2 anos, para a escola. Para eles, além de acrescentar na qualidade de vida da filha, que está longe da escola desde dezembro, também ajuda na logística da casa, em função do trabalho.

- Ela ainda não entende muito, mas quando a gente passava na frente da escola ela começava a chorar, ficava apontando, querendo vir. Então, a gente sabe que ela está bem feliz em voltar, em ver os amiguinhos. A Rebeca precisa de vir para a escola por orientação médica - diz Nathallya.

Tiarlen afirma que a filha estava apresentando sintomas de estresse por ficar em casa.

- É bem difícil organizar toda essa logística, porque, como a gente trabalha, tem que adequar o estudo. Para nós, mais do que ela estar aqui, também vai ajudar no lado psicológico dela, que estávamos notando estar muito afetado em casa, ela estava muito estressada. Isso é um grande ganho para a gente e espero que não fechem novamente as escolas - comenta o pai de Rebeca.

Em termos de pandemia e o medo da contaminação, Nathallya é enfática ao afirmar que é necessário se adaptar a essa realidade:

- Temos medo em todos os momentos, inclusive quando a gente vai trabalhar. Hoje faz parte da vida sair de casa e pensar se pegou ou não pegou a covid-19. A gente precisa se cuidar, seguir os protocolos, mas, infelizmente, no contexto que vivemos o medo faz parte.

A engenheira agrônoma, Mônica Debortoli, 38 anos, mãe de Enzo, 3 anos, comenta que a volta às aulas é importante para o convívio e desenvolvimento do filho.

- A gente vê é que a escola faz uma falta muito grande neste momento da vida das crianças. O Enzo pede todos os dias para vir pra escola. E a necessidade de convívio com outras crianças, o cuidado que se tem dentro da escola é muito maior do que com a gente. Eu trabalho com agricultura e não tenho como deixá-lo em casa. Então, ele vai comigo e os riscos são muito maiores dentro de uma estrutura de trabalho do que o que ocorre dentro de uma escola. Eu vejo que a necessidade das escolas abrirem, dessas crianças conviverem é muito grande. É um momento da formação do ser humano muito importante. É duro ir trabalhar com a preocupação de como estará a formação de nossos filhos e tudo voltado a funcionar, menos as escolas.

ABRE E FECHA
A suspensão das aulas foi mais rápida que os pais puderam acompanhar. Em Camobi, a diretora da Escola de Educação Infantil Papo de Anjo, Stefane Santos, se preparou para receber as crianças ainda no domingo. Os pais foram até a escola, mas muitos só depois tomaram conhecimento da liminar.

- As notícias, às vezes, demoram a chegar. Recebemos as crianças e aguardamos, depois, as famílias buscarem - conta a diretora.

Segundo Stefane, como alguns pais já estavam no trabalho, a escola teve que manter as crianças por mais tempo. É o que aconteceu também na Mamãe Coruja, no Bairro Nossa Senhora de Lourdes. A diretora Betânia Silva Pereira estima que cerca de 30 crianças foram levadas. Em alguns casos, os pais só poderiam buscá-las no final do dia.

- Não poderíamos deixar na mão. As crianças vieram felizes, como se fosse retomar ao normal, como era para ser - diz.

Na escola Riachuelo, em Camobi, a movimentação foi de pais e mães em busca do material de atividades para os filhos que estão em casa. Uma das mães que estava na escola era Deise Hertz, 46 anos, dona de casa, e, para ela, que tem um filho no 9º ano e outra no Ensino Médio, não é somente pela aprendizagem que seria ideal voltar o ensino presencial. Os dois ainda não retornariam mesmo se não houvesse a suspensão.

- Toda vez que se fala em volta às aulas eles ficam bem ansiosos. Acho que está na hora do Estado determinar que vai começar e acabar com essa bagunça.

A farmacêutica Fabiana Sturmer, 46 anos, que tem filhos de 10 e 13 anos na escola, afirma que é necessário tentar uma forma de manter as escolas abertas, principalmente com professores imunizados e em um formato que diminua a possibilidade de contágio.

- Estamos vivendo uma situação ímpar. Temos que analisar os dois lados. Uma seria a vacinação dos professores para viabilizar essa volta mais segura. E outra, a conscientização de que vai ser uma tentativa. Pode parar e interromper de novo e se organizar. Acredito que tenha que voltar, com todos os cuidados, talvez em formato híbrido, não todos num mesmo momento. A classe estudantil, principalmente as crianças, acabam se prejudicando muito mais em relação a outros que não se cuidam e vivem por aí como se não existisse a pandemia - sugere.

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