Foto: Vitória Parise (Diário)
A Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Boca do Monte retomou as aulas nesta segunda-feira (6), no distrito de mesmo nome, em Santa Maria. O retorno marcou o reencontro de 80 crianças com colegas, professoras e funcionários, após dias de atividades provisórias na Escola Estadual Almiro Beltrame (EEEF). Entre os pequenos, o clima era de alegria, enquanto os pais se dividiam entre a satisfação com a reabertura e a preocupação com a segurança.
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Entre as medidas implementadas para garantir tranquilidade à comunidade escolar, estão vigilância privada, monitoramento por câmeras, o uso de botão do pânico em casos de emergência e a presença da Guarda Municipal, das 7h30min às 17h30min.
A decisão foi definida em reunião da comunidade escolar, realizada em 16 de setembro, com a presença de pais, responsáveis, autoridades municipais e representantes da Secretaria de Educação e será acompanhada de perto por novas reuniões após 30 dias para avaliar a situação, conforme garante a secretária de educação, Gisele Bauer.
Retomada
A diretora da escola, Carina de Souza, destacou a importância do retorno ao espaço original.
— As crianças vieram bem empolgadas, felizes de voltar para o espaço que foi construído por nós e por elas. Estamos cumprindo protocolos definidos junto com as famílias e a expectativa é de dar continuidade até o fim do ano, encerrando as aulas de forma tranquila — afirmou.
Segundo ela, além da segurança, houve preocupação em ajustar o calendário escolar. Durante o período na Almiro Beltrame, a instituição manteve turno integral para recuperar a carga horária.
— Ainda vamos organizar os dias que faltarem, mas o compromisso é cumprir todas as horas letivas — explicou Carina.

A coordenadora pedagógica Daiane Lanes destacou que o impacto pedagógico foi amenizado pelo trabalho já realizado.
— Como a maioria das turmas já trabalhava em turno integral, conseguimos dar conta da carga horária. Agora vamos reorganizar conforme a demanda de cada turma. Mas o mais gratificante é ver a alegria das crianças, não tivemos choro, só sorrisos e abraços – completa ela.

Pais contentes, mas também preocupados com a nova realidade

Entre as crianças que foram cedo para a aula, estava a pequena Hellena, de 5 anos, que estuda no pré. Quem a levou para a escola foi o pai, Liniker Ebling dos Santos, morador da Boca do Monte há duas décadas.
Segundo ele, a filha aguardava ansiosa pelo reencontro com o espaço e os colegas, e destacou que durante o período em outra escola, a principal dificuldade era o tempo de deslocamento. Eram mais de duas horas por dia dentro da van.
— No caminho até a escola, agora de manhã, ela já dizia que ia ver os animais e encontrar os coleguinhas. Ela até criou vínculo na outra escola, ela gostou, porém, o nosso principal problema era o transporte. Era uma hora para ir e outra para voltar. E a gente achava uma judiaria eles terem saído o local que foi criado com tanto esforço, amor e carinho. Agora, a gente viu que todo mundo pode viver em harmonia. A expectativa é que tudo, aos poucos, volte ao normal. A escola é a segunda casa das crianças, tudo tem o jeitinho delas, na horta, na até na pintura, nas plantas – diz o microempreendedor.

Para parte das famílias, a retomada traz alívio, mas também cautela. O vigilante Paulo César Soares Moreira, de 56 anos, pai de João Paulo de Souza Moreira, de 5 anos, que estuda no pré. Ele reforçou a preocupação com o controle de acesso ao prédio.
— A preocupação é que retorne na melhor maneira possível, que seja feito mesmo o controle, como eles prometeram, que não circule pessoas estranhas ao recinto da escola e que o portão aqui tem alguém para controlar. Quando eu entrei tava chaveado, não tive acesso, por isso eu até cheguei atrasado. Deveria ter alguém pelo menos para controlar a entrada se não pode retornar outra invasão amanhã ou depois. A escola é boa, a gente gosta. Eu como pai estou contente, feliz e que na expectativa que tudo melhore.

Reunião

Logo após o início das aulas, uma reunião foi realizada na sede da escola com a presença do prefeito Rodrigo Décimo, da secretária de Educação, Gisele Bauer, e da comunidade escolar para acompanhar o andamento da retomada e ouvir demandas.
Durante esse momento, muitos pais fizeram perguntas e expuseram seus questionamentos. A professora e mãe de aluno Vanessa Fagae, 43 anos, reforçou a importância de manter o portão da escola sempre fechado, mesmo que isso gere algum incômodo no dia a dia. Ela explicou que, desde que o sistema eletrônico estragou, a comunidade escolar tem se organizado para abrir e fechar manualmente com cadeado, como se fosse a própria casa. Para ela, essa prática ajuda a garantir a segurança e a evitar situações como as que já ocorreram no passado.
— Pode ser chato ter que descer, abrir e fechar, mas é necessário. Enquanto alguém se ocupa disso, outra pessoa já pode perceber se algo estranho acontece. Acho importante manter essa rotina de segurança. A maioria já cumpre, mas precisamos que todos respeitem. Se cada um fizer a sua parte, a segurança fica mais fácil de ser mantida — destacou.

Relembre
A instituição atende 80 alunos, de 1 a 5 anos, do Berçário 2 ao Pré-B. A instituição foi desocupada no dia 15 de julho, quando um grupo de 30 indígenas da etnia caingangue entrou no local e ocupou uma parte do espaço. Na época, a escola precisou suspender as aulas por precaução, e a Brigada Militar foi acionada para acompanhar a situação. Nos dias seguintes, foram realizados protestos de pais e reuniões com a comunidade escolar, além de uma audiência de conciliação na Justiça Federal, que estabeleceu que os indígenas poderiam permanecer na área de forma pacífica e em conformidade com as determinações judiciais.
Como não houve avanços nas tratativas ou realocação do grupo de indígenas para outro espaço, a direção optou por adiantar o início do recesso escolar para o dia 21 de julho, enquanto as demais escolas do município entraram em férias no dia 23.
Desde o início da ocupação, a prefeitura buscou alternativas para o atendimento das crianças, como redistribuição para outras escolas e ampliação do transporte escolar, mas a maioria dos pais optou pelo retorno à sede original, desde que com segurança reforçada. A expectativa do Executivo é que, enquanto o processo de reintegração de posse segue tramitando na Justiça Federal, o Estado indique uma área de cerca de 15 hectares para a permanência da comunidade indígena sem impacto sobre a escola ou outras atividades.
