A Câmara de Vereadores de Santa Maria se transformou, na tarde desta terça-feira, numa tribuna contra o racismo.
Frases racistas são pichadas no diretório do Direito da UFSM
A Casa ficou lotada para acompanhar a votação de moção de repúdio contra manifestações de cunho racial dirigidas a Fernanda Silva, 20 anos, e a Elisandro Ferreira, 42, estudantes de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e vítimas diretas de frases de ódio pichadas no Diretório Livre do Direito (DLD), no mês passado.
Um grupo de manifestantes, entre eles Fernanda e Elisandro, se reuniu em frente ao prédio da Antiga Reitoria, onde funciona o DLD , e seguiu em caminhada silenciosa até a sede do Legislativo municipal.
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Os manifestantes vestiam camisetas vermelhas com a frase "Racismo basta!". Foram confeccionadas 200 peças, distribuídas gratuitamente, nesta terça-feira.
Quando a passeata chegou na Câmara as galerias já estavam ocupadas por estudantes, professores, servidores públicos, dirigentes sindicais e ativistas de movimentos sociais que foram dar apoio à manifestação.
Entre os presentes estava o reitor da UFSM, Paulo Burmann, que condenou a pichação e prometeu o empenho da Reitoria no sentido de identificar os responsáveis pelo ato racista.
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– O racismo é um absurdo em qualquer época histórica, mas nos dias de hoje é inadmissível.
Vamos fazer todo o esforço para descobrir a autoria.
Esse perfil não serve para a UFSM – ressaltou Burmann, afirmando que quem comete esse tipo de manifestação pode ser expulso da instituição.
VOZES NA TRIBUNA
Proposta pelo vereador Alexandre Vargas (PRB), a moção foi aprovada por unanimidade.
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Antes da votação, Fernanda e Elisandro se revezaram no uso da Tribuna Livre e arrancaram aplausos do público.
Acadêmica do 8º semestre de Direito, Fernanda contou que a primeira manifestação de intolerância foi a pichação, no mesmo diretório, do símbolo nazista de Adolf Hitler, a suástica:
– Estão se criando verdadeiros monstros na UFSM.
A estudante, que é de Santa Maria, defendeu que a luta contra o racismo é diária e que a intolerância começa com brincadeiras e piadas de cunho racial, que não podem ser aceitas.

Frases racistas são pichadas no diretório do Direito da UFSM
Elisandro, que está no 9° semestre de Direito, contou ter ficado abatido na época do fato e que pensou até mesmo em desistir da faculdade, o que acabou não ocorrendo pelo apoio recebido de colegas e professores.
– Nunca levantei bandeira de nenhum partido político. Mas agora acabo de levantar uma bandeira – disse o estudante, que se emocionou ao relembrar a ofensa e foi às lágrimas.
VOZES NAS GALERIAS
Entre sindicalistas, professores e estudantes também estavam outros apoiadores da causa contra o racismo.
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Funcionário do setor de vigilância da Câmara há 18 anos, Everton da Silva Soares, 47, fez questão de vestir a camiseta e de ajudar a colocar um banner no plenário.
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Autor da moção de repúdio à prática do ato de racismo contra os estudantes da UFSM, o vereador Alexandre Vargas (PRB) foi à tribuna defender sua proposição, que acabou aprovada por todos os 19 vereadores.
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Em seu discurso, Vargas disse que a luta contra o racismo tem que ser diária.
Ele lembrou uma série de palavras e expressões pronunciadas cotidianamente que têm cunho racista, como denegrir e mercado negro.
Com base em dados do Atlas da Violência, estudo divulgado anualmente no Brasil pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o vereador lembrou que a maioria das vítimas de mortes violentas no país são homens negros, jovens e de baixa escolaridade.
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– De cada 100 assassinatos no país, 71 são de negros – citou o vereador.
Ao falar sobre as poucas oportunidades aos negros, Vargas citou a própria Câmara de Vereadores como exemplo.
Ele lembrou que a Casa tem apenas uma vereadora negra (Lorena Santos, do PSDB, a Pastora Lorena) e de 105 assessores, apenas quatro seriam negros.
– Dizer que somos contrários ao racismo não basta. É preciso ações como esta – afirmou.
A moção teve os votos favoráveis de 19 dos 21 parlamentares.
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Estavam ausentes Pastora Lorena, dispensada da sessão, e Valdir Oliveira (PT), que foi a uma audiência no Fórum e chegou depois da votação.
HISTÓRICO DE INTOLERÂNCIAS
– Em 17 de agosto deste ano, uma suástica (símbolo do nazismo) foi desenhada sob os pés de uma águia em uma das paredes do Diretório Livre do Direito
– Em 15 de setembro deste ano, as paredes do mesmo diretório apareceram pichadas com três frases racistas: "Fernanda e Elisandro, o lugar de vocês é no tronco", "fora negros" e "negrada fora"
– Os 2 casos estão sob investigação da Polícia Federal, que ainda não identificou os autores
– O reitor Paulo Burmann também determinou a apuração de ambas as manifestações