A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) homenageou cinco estudantes da instituição mortos e desaparecidos durante o regime militar (1964-1965).
Entre eles o acadêmico de Economia Cilon Cunha Brum, natural de São Sepé, executado pelo Exército na Guerrilha do Araguaia, em em 5 de março de 1974, aos 28 anos.
O jornalista Lino Cunha Brum, 73, irmão de Cilon, foi a São Paulo participar do ato, realizado no Tucarena, teatro da PUC.
A homenagem foi prestada com a entrega de diplomas de conclusão de curso a familiares dos estudantes e marcou os 40 anos da invasão da PUC pelo Exército e o encerramento da Comissão da Verdade (criada para investigar ações da repressão na instituição paulista).
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Coincidentemente, o ato de reconhecimento a vítimas do regime ocorreu no mesmo dia em que a imprensa brasileira repercutia declaração do general Antonio Hamilton Mourão, ex-comandante militar do Sul, favorável a uma nova intervenção militar.
A cerimônia presidida pela reitora Maria Amalia Pie Adib Andery emocionou o irmão de Cilon. Ontem, Lino contou ao Diário que esse foi, talvez, o ato político mais importante “de todas as épocas” de reconhecimento a vítimas da ditadura.
Ele diz que ainda tem esperança de ver abertos os arquivos do período militar e na identificação de restos mortais do irmão.
– Não considero desaparecidos políticos, considero mortos escondidos. Não tivemos direito de chorar a morte dos nossos entes queridos e sepultá-los. No momento em que houver boa vontade, acharão os corpos – afirma Lino, que não tem militância em nenhuma organização política e diz ter amigos em vários partidos.
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Sobre a declaração de Mourão, o jornalista diz que não houve nenhum ato de protesto ou de repúdio porque os familiares, estudantes e professores da instituição estavam envolvidos com a homenagem.
Mas, segundo Lino, trata-se de uma manifestação “fascista” porque a “ditadura veio só para prender, matar, torturar e estuprar”.
Sobrinha e afilhada de Cilon, Liniane Haag Brum, 46 anos, filha de Lino, fez mestrado em Literatura na mesma instituição do tio.
Autora de um livro sobre a Guerrilha do Araguaia, lançado em 2012, Liniane também se emocionou, uma vez que o tio e padrinho foi visto com vida pela última vez em 9 de junho de 1971, em Porto Alegre, no batizado dela.
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– Foi um ato simbólico muito emocionante e um reconhecimento importante. Não temos expectativa de calar, temos o direito coletivo à memória e de continuar apurando e cativando corações para um ideário de justiça – destacou Liniane.
Além dela e do pai, participaram da homenagem na PUC-SP outra sobrinha de Cilon, Rejane Brum Leques, e a filha dela, Rossana Leques.
O EPISÓDIO
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Nascido em São Sepé, Cilon morava em Porto Alegre nos anos 60 e, em 1967, mudou-se para São Paulo, onde ingressou na faculdade de Economia da PUC, em 1969. Entre 1970 e 1971, período em que a repressão recrudesceu, Cilon presidiu o DCE da PUC.
Militante do Partido Comunista do Brasil, Cilon engajou-se na luta armada e na Guerrilha do Araguaia, tentativa do PCdoB de derrubar o regime, entre 1970 e 1975.
Descobertos em 1972 em área que hoje abrange o Estado de Tocantins, muitos guerrilheiros foram cercados e mortos durante o conflito.
De acordo com arquivos do major Sebastião Curió, chefe da repressão na região do rio Araguaia, Cilon foi preso e executado. Até hoje, cerca de 27 restos mortais aguardam identificação.