Economia

Alta do dólar provoca aumento nos preços de remédios e alimentos

Joyce Noronha

Foto: Renan Mattos (Diário)
Para indústrias que exportam, como a SR, dólar alto favorece vendas e faz lucro aumentar

"A alta do dólar não interfere na minha vida". Uma constatação muitas vezes usada pela população é contestada pelo economista Herton Castiglioni Lopes, 38 anos, que explica que a cotação da moeda norte-americana está diretamente ligada ao dia a dia das pessoas. Segundo o especialista, cotações como a de quinta-feira, que chegou a R$ 4,30, mas fechou a R$ 4,19, influenciam diretamente nos preços de produtos comuns da rotina dos santa-marienses. Ele cita combustível, pãozinho, remédios, açúcar e carnes bovina e de frango entre itens que são afetados.

Lopes explica que os produtos da cesta básica costumam ser os primeiros a apresentar reajuste, pois os produtores conseguem uma negociação melhor para a exportação de itens que têm produção no Brasil, o que causa menor oferta no mercado interno, elevando os preços nos mercados.

- É pior para a população, com certeza. Mesmo que não seja da noite para o dia, o reflexo da alta do dólar logo vai chegar aos produtos mais comuns e ao bolso do consumidor - comenta.

Outro ponto que Lopes salienta é o reflexo da oscilação do dólar na inflação do Brasil, que tende a elevar-se. Ele explica que isso ocorre pelo aumento dos preços do mercado interno. Contudo, o especialista aponta que a alta da moeda norte-americana apresenta dificuldades a curto prazo, mas, a longo prazo, o Brasil pode ter benefícios.

VANTAGENS
De acordo com o economista, com menos importações de insumos e de produtos, já que com a alta do dólar esses itens ficam muito caros para serem comprados no Exterior, a produção interna aquece.

- Para a estrutura produtiva do mercado interno, é bom, porque estimula a produção nacional no longo prazo, já que os preços dos importados ficam mais caros, e a indústria brasileira pode aproveitar a oportunidade. Usa-se mais matéria-prima própria do país, e o reflexo vai até a mais geração de empregos. É um processo que demora a mostrar o benefício, mas ocorre - diz.

Estado facilita a regularização de agroindústrias para produtos coloniais

Entretanto, o especialista opina que a economia brasileira é precária com a base produtiva, e isso pode ampliar o prazo para que país perceba a melhora a longo prazo.

Além disso, o economista cita o período eleitoral como fator relevante para as altas do dólar, por conta das incertezas das grandes empresas sobre quem será o governante do Brasil. Assim, os empreendedores preferem investir em países que possam ter menor rentabilidade, mas que sejam de lucro garantido.

Para Lopes, após as eleições, quando o cenário ficar mais claro aos empresários, o dólar deve ficar mais estável, mas ele salienta que não há como prever se ocorrerá queda na cotação. 

TEM QUEM FESTEJE MOEDA MAIS ALTA
Enquanto alguns setores buscam alternativas para manter os clientes durante a alta do dólar, outros comemoram a valorização da moeda norte-americana. Um deles é a agroindústria. O diretor comercial da SR Engenharia Industrial, Guilherme Berleze Montipó, 30 anos, diz que a empresa santa-mariense é exportadora de maquinários agrícolas e, com o dólar fechando acima dos R$ 4, os produtos deles ficam melhor cotados no mercado externo. A SR vende suas máquinas para a Argentina, a Bolívia e o Paraguai.

Montipó conta que toda a matéria-prima da empresa é comprada no mercado nacional, então, os insumos não alteram tanto os valores.

NO CAMPO
Conforme o gerente comercial da Cooperativa Agrícola Mista Nova Palma (Camnpal), Leopoldo Uliana, 60 anos, para a agricultura, a alta do dólar impacta de forma distinta. Num primeiro momento, há o aumento no custo de produção, mas depois há o ganho de preço na hora de vender a colheita. Contudo, ele explica que esse ganho não se dá em todas as culturas, e destaca que o benefício é mais evidente nos produtos que são comercializados no mercado externo.

- Neste momento, o cultivo que mais se beneficiou com a alta do dólar foi a soja, pois é uma cultura que tem a maioria de suas vendas destinada ao mercado externo. Neste ano, o câmbio também ajudou alguns produtos, que, historicamente, são voltados para o consumo interno, a se tornarem competitivos na exportação, casos de arroz, milho e trigo - diz Uliana.

Como a soja é negociada no mundo por meio da cotação em dólar na Bolsa de Chicago, nos EUA, com a alta expressiva da moeda norte-americana, o grão é valorizado. Há um ano, a saca custava R$ 60, e agora está em R$ 81,50 na região. Já adubos importados subiram até 45%.

REDUÇÃO DE MOVIMENTO
Além dos mercados de importação e exportação, do cotidiano da população e a inflação do país, a alta do dólar também tem reflexos no turismo, principalmente no internacional, que utiliza a moeda norte americana para balizar valores de passagens, hotéis e outros serviços. A proprietária da Fan Viagens, Camila Grellmann, 31 anos, diz que, mesmo com redução nas viagens internacionais que atravessam oceanos, percebe que os clientes costumam trocar o destino dos passeios na época de alta do dólar.

De acordo com ela, países da Europa e os Estados Unidos dão lugar a viagens nacionais e, algumas vezes, pela América Latina.

- É complicado porque sobe o dólar e, por consequência, sobe o euro. E, mesmo quando a escolha é para países que utilizam outra moeda, fica um pouco complicado porque a previsão de preços para qualquer viagem para o Exterior é feita em dólares - diz.

Projeto vai avaliar segurança alimentar de bares e restaurantes em Santa Maria 

Até as viagens que são de turismo de compra, como Rivera, são afetadas pela cotação da moeda norte-americana. Segundo o site da loja Neutral, do Uruguai, o dólar estava com cotação de R$ 4,09 para brasileiros.

Porém, há quem planeje viagens ao Exterior por qualificação do trabalho ou dos estudos, como é o caso da servidora pública Valéria Garlet, 30 anos, que se organiza para ir a um congresso em Salamanca, na Espanha, que auxilia sua pesquisa do doutorado. Ela conta que se assustou com os valores das passagens e para reservas de hotel, tanto que comprou apenas as passagens e espera para ver se consegue um preço melhor em hostels.

Além disso, criou uma rotina de assistir a vídeos e ler textos de quem já foi ao Exterior em busca de dicas de como economizar. Valéria diz que aprendeu a não comer em restaurantes ou lancherias muito próximas a pontos turísticos, pois costumam ser mais caros. Ela também tem em mente que lembrancinhas serão o primeiro corte, caso precise fazer mais economia.

SEM VIAGEM
Já a bancária Rejane Callegaro Fava, 53 anos, que costuma fazer uma viagem internacional por ano ou a cada dois anos, conta que desistiu de ir para o Exterior desta vez.

- Estou chocada com os preços, o dólar está descompensado. E nem é pela passagem, porque isso até não é o mais caro, o problema é que tem custos para ficar lá fora, como hospedagem e alimentação. Não tem como contornar isso - diz Rejane.

500 empresas podem ficar fora do Simples por causa de dívidas 

Já o turismo para a Argentina está, em média, 20% mais barato devido à crise argentina e à grande desvalorização do peso diante do real.

O diretor da Ásaro Câmbio, Murilo Padilha de Bairros, 31 anos, conta que a alta do dólar representa baixa nos negócios, pois as pessoas preferem esperar um preço melhor para comprar a moeda. Ele diz que as pessoas que se preparam para viajar ao Exterior costumam fazer economias, que é trocar pequenos valores de reais por dólares semanas antes da viagem na expectativa de conseguir boas cotações.  

- As pessoas gostam de se programar e acompanham a cotação para não ter grandes surpresas às vésperas da viagem - avalia Bairros.

Com a moeda em alta, o mercado do câmbio fica desfalcado, e o atendimento fica basicamente com os "clientes de emergência", conforme o diretor da Ásaro, que tem o foco no câmbio de turismo. Embora Bairros cite as economias que os clientes fazem antes de viajar para o Exterior, comenta que essa não é uma prática comum das pessoas, pois o mercado de cotação é muito instável.

- As pessoas não compram dólar na expectativa de vender em épocas de alta. Não tem como saber se tu vais ganhar dinheiro com isso, e a tarifa de compra é sempre maior do que a de venda, então, a possibilidade de a pessoa perder (dinheiro) é maior do que de ganhar - diz.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Receita começa a pagar hoje quarto lote de restituição do Imposto de Renda Anterior

Receita começa a pagar hoje quarto lote de restituição do Imposto de Renda

Projeto vai avaliar segurança alimentar em bares e restaurantes de Santa Maira Próximo

Projeto vai avaliar segurança alimentar em bares e restaurantes de Santa Maira

Economia