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FOTOS: fechada há 5 anos, usina de laticínios da UFSM poderia dobrar produção de leite em Santa Maria

João Pedro Lamas

Fotos: Arquivo Diário

A produção de leite em Santa Maria poderia dobrar se a Usina Escola de Laticínios (Uni) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) voltasse a operar. Ela está fechada desde 2014 (saiba mais abaixo).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de leite na cidade chega a 2,5 milhões de litros por ano. Com a Uni, ela poderia ultrapassar 5 milhões. Esses dados, que tem como referência o ano de 2018, e levam em conta somente o produto que vai para a indústria de beneficiamento (leite em pó, de caixinha ou saquinho). Fica de fora do cálculo o que vai para a fabricação de produtos lácteos na cidade e região, além dos produtores informais.

Nos últimos 20 anos, a produção diária de leite diminuiu em mil litros no Brasil. Conforme o secretário de Desenvolvimento Rural de Santa Maria, Rodrigo Menna Barreto, o impacto foi mais forte na cidade nos últimos anos devido ao abandono da atividade por parte de produtores rurais, principalmente aqueles que tinham baixa tecnificação e não tinham a produção leiteira como principal propriedade da atividade (30 e 100 litros de leite por dia, com uma produtividade por vaca entre 3 e 8 litros por dia).

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Menna Barreto afirma que isso é consequência do mercado (a variação muito grande de preços durante o ano, fazendo com que o produtor não pudesse se organizar) e a exigência de algumas normativas federais como IN-51, IN-76 e IN-77, às quais esses pequenos produtores não puderam se adaptar, ou não quiseram, devido à pouca produção.

- As normativas discursam principalmente sobre a aquisição de equipamentos e cuidados no acondicionamento e no transporte, visando à melhoria da qualidade ao mesmo tempo em que diminuiu o número de produtores, os que se mantiveram na atividade se qualificaram e aumentaram a produção e a produtividade - diz Menna Barreto.

Outro ponto é a falta de uma indústria de leite que pudesse absorver a produção dos pequenos produtores, como era feito pela Cooperativa dos Produtores de Leite de Santa Maria (Coprol), por meio da Uni.

POTENCIAL PRODUTIVO DE SANTA MARIA

Na contramão da crise do leite, na região há produtores que mais que dobraram a produção diária de leite. A média de litros de leite/vaca/dia passou de cerca de 10 litros para mais de 25 litros de leite/vaca/dia segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Isso se deu, principalmente, devido à capacidade de investimento no rebanho, em equipamentos, nutrição e genética. No entanto, esses produtores são minoria, o que preocupa a administração municipal.

- Em alguns casos, a produção leiteira, mesmo em pequenas quantidades, paga o dia a dia dos gastos das pequenas propriedades. Luz e alimentação, por exemplo - diz Menna Barreto.

O QUE A UNI PODE FAZER (SE REABRIR)

A professora Neila Richards, chefe do Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos da UFSM, conta que, com a Uni, a cadeia produtiva do leite na cidade poderia ser mais facilmente organizada, sendo que a usina teria capacidade de absorver toda a produção local, além da possibilidade de fabricação local de outros produtos lácteos, como sorvete, requeijão, nata, iogurte e queijos.

Menna Barreto ainda aponta a vantagem de que todos os valores envolvidos na cadeia produtiva ficaram "aqui na cidade e na região".

HISTÓRICO

O projeto da usina data de 1972. Ela era destinada à formação de profissionais de nível técnico. Ações extensionistas, com acompanhamento de produtores locais, faziam parte do dia a dia da Uni. A ideia era formar técnicos que expandiriam a bacia leiteira de Santa Maria, com enfoque nos cursos de Agronomia e Medicina Veterinária. A estrutura existe devido a recursos do Governo Federal.

A Uni não foi criada com a finalidade que tem hoje, de comércio.

O Tambo foi implantado diante da necessidade de atender os produtores rurais, pois havia demanda por parte dos produtores de leite. Ele estava ligado ao curso de Zootecnia, e a Tecnologia de Alimentos trabalhava com a elaboração do leite pasteurizado e dos produtos lácteos, ou seja, desde a pasteurização até a destinação dos subprodutos.

A Uni funcionou até 1992 com o leite vindo do Tambo. Em 1993, foi criada a Cooperativa de Leiteiros de Santa Maria Ltda. (Coprol). Foi firmado um convênio entre a Coprol e a UFSM para o recebimento e o processamento de leite pasteurizado e elaboração de derivados lácteos como iogurte, queijos, doce de leite e sorvete.

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A Coprol era constituída de 120 produtores de leite de Santa Maria que produziam em torno de 6 mil litros de leite por dia. Os produtos elaborados eram comercializados dentro da UFSM (quiosques) e em rede de supermercados. A Coprol abastecia escolas públicas e creches através do convênio "Fome Zero" com o Governo do Estado. Ela encerrou suas atividades em 2008.

Em 2009, por meio de um contrato de exploração, a Cooperativa Regional da Reforma Agrária Mãe Terra (Cooperterra) passou a recolher leite e produzir leite pasteurizados e derivados lácteos, os mesmos da Cooprol. A Cooperterra encerrou suas atividades em 2014.

A Uni sempre disponibilizou no mínimo dez estágios por semestre para os estudantes de diferentes cursos (Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Engenharia Química, Química Industrial, Farmácia, Tecnologia em Alimentos e Técnico em Agroindústria) da UFSM e de outras instituições (UFN, Uergs, Ufrgs, Unisc e IFF) além de realizar alguns cursos de extensão, atendendo a demanda dos produtores rurais do entorno. Com a reabertura da Uni, 14 cursos de capacitação nas áreas poderiam voltar a funcionar.

A Uni está com suas atividades encerradas desde 2014. Em 2015, foi divulgado um edital de licitação para que uma organização fizesse a exploração do espaço, porém não houve interessados.

Todo o equipamento da usina permanece no seu espaço, sem uso.

PROGRAMAS DE INCENTIVO

No ano de 2010, foi criado o Programa Municipal de Apoio à Produção Leiteira de Santa Maria (Proleite SM), com o objetivo de aumentar a produção e a produtividade das propriedades leiteiras de Santa Maria. Em uma parceria com a Emater, foi desenvolvido o projeto de produção de leite a pasto, usando o pastejo rotativo Voisan (piqueteamento das pastagens).

Junto do programa Proleite SM, foi criado o Programa Municipal de Inseminação Artificial de Santa Maria (Procria SM), que fornece gratuitamente sêmen bovino leiteiro de altíssima qualidade, das raças Jersey e Holandesa (em torno de 5 mil doses nos últimos 7 anos), aos produtores inscritos nos programas e que recebem assistência técnica da Secretaria de Município de Desenvolvimento Rural e do Escritório Municipal da Emater.

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