"Ao longo dos anos, as pessoas passaram a conhecer o Chiquinho ser humano. E me orgulho disso"; conheça a história de Francisco Resende

Velho conhecido da torcida, Francisco Resende, o Chiquinho, 42 anos, agora ajuda o Inter-SM de um lugar diferente. Depois de nove temporadas defendendo as cores do clube, em 2023, Chiquinho aposentou as chuteiras para assumir o cargo de gerente de futebol. Tão importante quanto bater um pênalti decisivo, a nova função do ex-camisa 10 exige responsabilidade e seriedade. O sonho do acesso, que antes passava pelos pés do maestro, agora passa pela caneta em suas mãos. Junto com o restante da diretoria e a comissão técnica, o gerente de futebol mapeia e seleciona atletas que irão atuar no clube em 2024. É papel dele também garantir as melhores condições fora de campo para os jogadores.

Na segunda reportagem da série “Personagens da Baixada”, conheça a história de Chiquinho, o gerente de futebol do Inter-SM. A pouco mais de um mês para estreia do Inter-SM na Divisão de Acesso, o Diário apresenta quem são os nomes que trabalham diariamente para colocar o Alvirrubro de volta na elite do futebol gaúcho após 13 anos.

Na segunda reportagem da série “Personagens da Baixada”, você conhece a história de Chiquinho, gerente de futebol do Inter-SMFoto: Beto Albert

De pai para filho

Chiquinho é um apaixonado pelo futebol. O sentimento foi herdado do seu pai ainda na infância, em Bagé, na região da Campanha. Mais do que apenas um esporte, João Francisco Camargo Resende acreditava que o futebol poderia ser um agente de mudança social.

– Eu vi meu pai tirando jovens da rua para jogar futebol. Ele orientava e disciplinava crianças. Ensinava que precisavam estudar e serem filhos melhores. As vivências na escolinha transformaram as vidas de muitas crianças – lembra Chiquinho.

O gerente afirma que jogadores de futebol estão em evidência na sociedade e se tornam referência para muitas pessoas. Para ter uma carreira de sucesso, independentemente da área de atuação, é preciso ter disciplina e comprometimento. Esse legado foi deixado pelo pai e repassado para os filhos, posteriormente.

A forma carinhosa como Chiquinho lembra do pai é justificada pela sua definição: “uma pessoa inigualável”.

– Ele amava o futebol. Mas antes de tudo, ele amava as crianças que ele ajudava. Ele nunca teve carro, mas fazia questão de ceder os vale-transportes para os atletas irem ao treino. Sem passagem, ele caminhava 8 km por dia. Quando eu jogava no Caxias e voltava pra casa, presenteava ele com um sapato novo porque os dele estavam sempre gastos – conta.

Assim como João Francisco, Chiquinho também busca ser um pai amoroso e cuidadoso com os filhos Lucas e Natália, e a esposa, Adriane. Em sua trajetória como atleta profissional, passou por mais de 25 clubes do Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás e Santa Catarina. Antes de assinar qualquer contrato, ele colocava um requisito fundamental:

– Eu não acertava valores salariais e prêmios antes de definir a moradia. Eu falava para os dirigentes: “Posso levar minha família?”. Se eu não pudesse levar meus filhos e minha esposa, eu não ia para o time. Essa era uma regra.

Em tom de reflexão, Chiquinho demonstra toda a gratidão por ter sua família por perto nos momentos importantes da vida.

– Eles foram o meu maior suporte. Minha família abriu mão dos seus sonhos, para viver os meus. Costumamos dizer que no futebol, o atleta sacrifica muitas coisas, mas, na verdade, são os familiares que se sacrificam por nós – afirma.

História nos gramados

Falar que o Chiquinho teve uma carreira consolidada como jogador é “chover no molhado”. Quem vive em Santa Maria, sabe que ele é um dos grandes ídolos do clube.

Em 2007, ele chegou ao Alvirrubro com 25 anos. Dois anos antes, o meia havia chamado a atenção dos dirigentes durante a Divisão de Acesso. Atuando pelo São Luiz, marcou gol no Inter-SM na campanha que consagraria o time de Ijuí campeão e daria a Chiquinho o prêmio de melhor jogador e artilheiro da competição.

Logo no primeiro ano no Estádio Presidente Vargas, escreveu seu nome na história ao conquistar o acesso ao Gauchão. Entre idas e vindas, foram nove temporadas defendendo a camisa do time. Sua dedicação e entrega em campo transpareciam o amor que ele desenvolveu pelo clube.

– A gente sabe que as conquistas marcam a memória do torcedor. Mas, ao longo desses anos, as pessoas passaram a conhecer mais do que o Chiquinho atleta, elas conheceram o Chiquinho ser humano, e eu me orgulho disso. Eu me tornei um torcedor apaixonado pelo clube – conta o ex-camisa 10.

Além de 2007, jogou na Baixada nos anos de 2008, 2015, 2017, 2018, 2019, 2020, 2021 e 2023. Também teve passagem pelo Riograndense em 2012 e 2013. Chiquinho é um símbolo do futebol gaúcho e conhece os torneios estaduais como ninguém. Passou por Avenida, Santa Cruz, Aimoré e Passo Fundo, entre outros.

Em 2023, com o início de um novo projeto na Baixada, criou-se muita expectativa em relação à Divisão de Acesso. O time, liderado por ele, até iniciou bem a competição. Nas cinco primeiras rodadas, foram duas vitórias, dois empates e uma derrota. Com algumas oscilações e pontos importantes perdidos dentro de casa, a classificação para a segunda fase escapou.

No decorrer da temporada, o Inter-SM disputou a Copa FGF e foi eliminado nas quartas de final, contra o Novo Hamburgo. O jogo marcou a despedida do meia justamente com o “manto” que ele aprendeu a amar.

Com passagem por 25 clubes ao longo da carreira, Chiquinho tenta passar a experiência para os atletas do AlvirrubroFoto: Beto Albert

Leia a primeira reportagem de "Personagens da Baixada"

Superação de um drama pessoal

O ano era 2005. Chiquinho estava em ascensão na sua carreira após subir para o Gauchão com o São Luiz. O prestígio de ter o prêmio de melhor jogador da Divisão de Acesso o colocou em um patamar de cobiça por clubes do Rio Grande do Sul.

Recém-chegado ao Brasil de Pelotas, Chiquinho recebeu uma ligação durante um treinoA notícia era que seu pai João Francisco havia falecido. De imediato, ele rumou para Bagé.

– Nesse momento, eu titubeei. Pensava se valia a pena prosseguir com a carreira de jogador. Eu tive que fazer uma escolha de continuar no futebol ou desistir. Na viagem de carro de Pelotas para Bagé passou muita coisa na minha cabeça.

A perda atrapalhou o desempenho dentro de campo. O sentimento de culpa por estar longe da família foi um dos motivos para Chiquinho considerar a aposentadoria precoce do esporte. Mas, após um tempo de luto, o ex-atleta conta que tomou a decisão de seguir como uma forma de homenagem ao pai.

– Coloquei na balança e me dei conta que meu pai gostaria que prosseguisse. Todos seus ensinamentos precisavam perdurar em mim. Eu nunca vi ele reclamar. Com todas as pancadas que tomou na vida e sem recursos financeiros, ele nunca se queixou. Eu pensei: "quem sou eu para pensar em abandonar tudo" – lembra.

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Nasce um dirigente

Liderança, tranquilidade e trabalho em equipe. Há quem diga, com razão, que essas são características de um autêntico capitão no futebol. Assim era o Chiquinho nos gramados. E fora deles também. O mesmo perfil é observado no novo gerente de futebol do Inter-SM.

– Eu não sou o Chiquinho como atleta, gerente ou pai. Eu sou a mesma pessoa em todos os setores da sociedade. Com o mesmo comportamento e atitudes vou exercer meu trabalho. Como jogador eu já fazia isso. Gostava de auxiliar os mais novos, dialogava com a diretoria e a comissão técnica. Já fazia o processo de gestão no vestiário – afirma orgulhoso.

Quando questionado sobre o que é mais difícil: “bater um pênalti decisivo ou ter a certeza de que um atleta tem o perfil ideal para composição do grupo?”, Chiquinho dá risada e responde:

– Hoje eu costumo dizer que é muito fácil jogar futebol. As pessoas que trabalham para o clube deixam tudo pronto para que o atleta entre em campo e tenha um bom desempenho. A partida é só a ponta do iceberg.

Mas ele reconhece que a pressão por bons resultados recaem sobre os jogadores em campo. Todo o trabalho dos bastidores de um time, desde o roupeiro até o gerente de futebol, é realizado para facilitar a vida do atleta no clube.

Durante a rotina como gerente de futebol, Chiquinho faz questão de ter o chimarrão por perto Foto: Beto Albert

Projeto animador

“Uma transformação gigantesca para um clube do interior”. É assim que o gerente define o projeto do Inter-SM, liderado pelo presidente Pedro Della Pasqua, 40 anos.

– Pelas vivências que tenho, passei por clubes e vi alguns deles fazendo mudanças na estrutura, mas não na forma como está sendo feito aqui. É muito fácil fazer transformações em clubes que têm estrutura e aporte financeiro. Hoje, no interior, não vejo nenhum clube fazendo isso – argumenta.

Chiquinho, assim como Della Pasqua na primeira reportagem desta série, ressalta que o projeto de reestruturação do Alvirrubro é feito para garantir que o clube permaneça no Campeonato Gaúcho após conquistar o acesso.

– Quero construir algo para ficar marcado na história do clube novamente. Esse é nosso desafio – conclui Chiquinho.

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