"Eu desenvolvi a paixão pelo futebol vendo jogos memoráveis do Alvirrubro"; conheça a história de Pedro Della Pasqua

A pouco menos de dois meses da estreia do Inter-SM na Divisão de Acesso, o Diário inicia uma série de reportagens que apresentará, para além das quatro linhas, quem são os nomes que trabalham diariamente para colocar o Alvirrubro de volta na elite do futebol gaúcho após 13 anos. No primeiro texto de “Personagens da Baixada”, você conhecerá Pedro Della Pasqua, 40 anos, empresário local e amante do futebol, que aceitou o desafio de revolucionar o Estádio Presidente Vargas "de dentro para fora".

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Rotina dividida

Quando a reportagem chegou à Baixada, o presidente já estava esperando. Antes da entrevista, ele pede um momento. Manda alguns áudios no WhatsApp, responde mensagens de texto e atende a um funcionário do clube. É desse jeito que ele tem se desdobrado para dar atenção a todos, entre um compromisso e outro.

A rotina de Della Pasqua é assim mesmo, bem ocupada e fragmentada. Divide seu dia entre as funções de presidente de clube, empresário e pai, todas com dedicação máxima. Ele brinca: “preciso tirar uns dias de férias, me desligar um pouco”.

Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Pedro deu sequência ao negócio familiar no ramo da engenharia. Proprietário da Della Pasqua Engenharia, ele lembra que a estabilidade da empresa veio após muito trabalho:

– Começamos pequenos e hoje temos muitas realizações trabalhando em todo o Estado.

Desde a juventude, ele sempre quis permanecer e morar em Santa Maria. Sua primeira e única opção durante a época de vestibular era a UFSM.

Além da dedicação à empresa, Pedro valoriza a família. Pai da Giovana, 3 anos, e Isabela, 12, ele conta orgulhoso que teve influência direta para que o Alvirrubro tivesse mais duas torcedoras fanáticas.

– A Giovana é a “mascotezinha” do clube. Devido à correria do dia a dia, eu trago ela junto para o estádio. Ela gosta de vir aqui, já conhece todo mundo, anda por aí e joga bola. Ela entra no carro e pergunta se estamos indo para o Inter-SM – conta ele, em tom descontraído.

Assim como as duas meninas, Della Pasqua frequenta a Baixada desde criança. Inclusive, sua primeira memória com o futebol é nas arquibancadas do Estádio Presidente Vargas, junto com o pai, Mauro.

– Nos anos 1980, existia uma cultura muito maior de apoiar o clube da cidade. Eu tenho orgulho de dizer que minha primeira ligação com o futebol é com o Inter-SM. Eu desenvolvi a paixão pelo futebol vendo jogos memoráveis do Alvirrubro.

Da arquibancada à presidência

Uma das certezas que o torcedor santa-mariense tem atualmente é de que a cadeira de presidente é ocupada por um apaixonado pela instituição. Pedro cumpriu o manual de um diretor que atua no futebol e passou por todas as instâncias possíveis no clube antes de ser eleito como mandatário em 2022.

– Quando eu frequentava as arquibancadas do Presidente Vargas, nunca imaginei que um dia seria presidente. Primeiro, fui torcedor, depois sócio, conselheiro, passei a ocupar cargos na diretoria, até chegar na presidência – afirma Della Pasqua.

Ele lembra que nunca almejou participar da vida política do time, mas que o processo aconteceu de forma natural. Os debates no Conselho Deliberativo com membros mais antigos ajudaram Della Pasqua a adquirir conhecimento e despertaram o interesse em se aproximar da gestão do Inter-SM.

– Depois do trabalho que eu vinha desenvolvendo na Diretoria de Futebol, acabou sendo inevitável a sucessão para o cargo de presidente. Naquele momento, durante as eleições, não tinha ninguém mais envolvido com o clube do que eu – relembra.

Aprendendo com os erros

No início da temporada 2023, na primeira temporada como presidente do Inter-SM, a expectativa da torcida e da própria diretoria era grande.

O time até iniciou bem a Divisão de Acesso. Nas cinco primeiras rodadas, foram duas vitórias, dois empates e uma derrota. Algumas oscilações normais para qualquer equipe no decorrer da competição e o erro na contagem de cartões amarelos do atacante Wilson Jr., fato que penalizou o time em três pontos na tabela, inviabilizaram a classificação para o segundo turno do campeonato.

– Há coisas que fogem do nosso controle. A construção de um acesso passa por muitos pontos: comissão técnica, atletas, funcionários, torcida e investimento. Essa primeira temporada foi de muito aprendizado. Eu faço mea-culpa de algumas escolhas equivocadas. Mas posso garantir que, assim como na vida, a gente vai amadurecendo e aprendendo com os erros – afirma o mandatário.

Com o insucesso, naturalmente vieram as críticas ao trabalho. Pedro conta que encara isso de forma tranquila, pois entende que estar nesse cargo o coloca em constante exposição.

– Eu não tenho redes sociais, mas tenho acesso a elas porque as pessoas me mostram. O futebol é assim, eu estou recém construindo minha carreira e tenho que estar preparado para isso. Mas as críticas pessoais, que atingem minha família, minha honra, eu não aceito – diz Della Pasqua.

Para 2024, o planejamento do clube passou por mudanças. A escolha do treinador e de uma parte do elenco começou com antecedência. O técnico Daniel Franco, atual campeão da Divisão de Acesso, foi contratado em outubro do ano passado. Ao todo, 28 atletas já foram anunciados. A maioria está emprestada para times que disputam campeonatos estaduais no primeiro semestre.

Inclusive, o Alvirrubro é o time da Divisão de Acesso com mais jogadores no Gauchão. Um deles é o centroavante Michel, um dos artilheiros da competição com quatro gols pelo Guarany-Ba.

A organização de 2024 contrasta com a última temporada, quando o clube escolheu o treinador apenas em fevereiro. Pedro reconhece que a morosidade dificultou nas contratações.

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Pavimentando o caminho até o Gauchão

Assim como na temporada passada, a atual será de grande investimento no Estádio Presidente Vargas. Mesmo que não revele os números, Pedro garante que há mais de duas décadas não se tinha um aporte financeiro tão grande no clube. O projeto encabeçado por ele se tornou um fator fundamental para a aplicação de verba na Baixada.

– Futebol não se faz sem dinheiro. Desde o ano passado conseguimos mobilizar diversas empresas para o Inter-SM. As pessoas acreditaram no nosso projeto. No projeto de um empresário jovem, com credibilidade na vida profissional e pessoal. Conseguimos agregar um grande contingente de pessoas querendo ajudar – ressalta.

Para além da questão financeira, o projeto de Pedro à frente do Inter-SM envolve a recuperação da cultura de valorização do clube da cidade, vivida por ele nos anos 1980 e 1990. Com campanhas de sócio e incentivo ao consumo de produtos oficiais, ele espera que cada vez mais a população abrace o time na campanha da Divisão de Acesso.

Também estão sendo feitas reformas na infraestrutura da Baixada.

– Nosso estádio e nosso campo são antigos, precisávamos de uma reforma imediata. Para alcançar resultados, precisamos recuperar a parte patrimonial do clube também. Para buscar a máxima performance do atleta, buscamos ter um ambiente saudável e renovado – conta.

Pedro se orgulha em dizer que o gramado do Inter-SM será um dos melhores da Divisão de Acesso.

– A nossa estrutura será condizente de um clube da Série A. Estamos pavimentando o caminho para subir e não cair mais – destaca. 

Ao final da entrevista, quando questionado sobre qual é o desejo tanto do presidente e torcedor, Pedro Della Pasqua, a resposta é enfática e direta: “o acesso”. Mas para isso, ele ressalta que o trabalho deve ser em conjunto com a comunidade de Santa Maria:

– Não vou abrir mão do torcedor. O acesso é decidido no detalhe e eu quero a Baixada lotada.